m dos mistérios da democracia brasileira e que ainda surpreende, em que pese sua recorrência, é a ascensão de desconhecidos a uma cadeira no parlamento. Desde obscuras figuras que saem de lugar nenhum e assumem uma cadeira nas Câmaras de Vereadores até mesmo anônimos que, do nada, somam dezenas de milhares de votos e alcançam uma vaga na Câmara Federal, representando o Estado do Pará, embora consigam transitar nos lugares mais movimentados das grandes cidades paraenses sem ser reconhecidos por ninguém. Nem o vento bate em suas costas.

O panteão dos notórios “ilustres desconhecidos” tem, talvez como símbolo supremo, o cidadão que atende pelo nome de Antônio Leocádio dos Santos.

Acarajé com maniçoba

Natural de Dom Macedo Costa, na Bahia, Leocádio foi prefeito da pequena São Miguel do Guamá, eleito em 2016 com 9.639 votos. Em 2020, tentou a reeleição, mas acabou reprovado pelo povo da cidade e não foi reconduzido ao cargo. Mesmo perdendo a reeleição em uma cidade onde necessitaria de um punhado de votos para vencer, foi eleito deputado federal em 2022, obtendo expressivos 126.535 votos, espalhados pelo Estado todo.

Como? Que passe de mágica levou esse personagem do nada para uma vitória surpreendente na eleição seguinte?

Nem Trump sabia

Leocádio diz que isso tudo se deve ao seu sucesso como empresário. Conta que começou sua carreira, por assim dizer, “trabalhando com perfumes”. Em seguida, foi empregado em uma seixeira - empresa que explora jazidas de pedras, areias e granulados -, onde conseguiu juntar recursos suficientes para comprar uma cerâmica, logo transformada em na maior fábrica de São Miguel do Guamá. O negócio de telhas e tijolos progrediu tanto que conduziu seu proprietário para os ramos da mineração, logística e construção civil.

Alguém duvida que o programa “O aprendiz”, conduzido por Donald Trump e que selecionava talentos empresariais emergentes, perdeu a oportunidade de ter, entre seus destaques, o prodigioso ex-prefeito? Vá vendo...

Embaraços judiciais

Antônio Leocádio dos Santos é o nome de batismo de “Antônio Doido”, que emergiu do mais obscuro porão do Congresso Nacional para os holofotes da mídia na semana passada, ao se tornar um dos poucos parlamentares a defender a soltura do mandante da execração da vereadora Marielle Franco, o também deputado Chiquinho Brazão.

A solidariedade do deputado do Pará com seu colega carioca talvez tenha se originado nos embaraços que ambos nutrem com a lei. Logo após as eleições, o Tribunal de Justiça do Estado do Pará determinou a penhora de bens do ex-prefeito de São Miguel do Guamá, acusado de não efetuar os pagamentos de aluguéis e taxas condominiais de um imóvel localizado em Belém. Os embaraços com a lei se multiplicam em pelo menos cinco processos em aberto, segundo o site Jus-Brasil. Em um deles, o Ministério Público Federal, por intermédio do procurador da República Milton Tiago Araújo de Souza Junior, pede a cassação do mandato de “Doido” por abuso do poder econômico.

Apesar dos embaraços, Antônio Leocádio não se dá por vencido. No final de abril anunciou a mudança de seu domicílio eleitoral para Ananindeua, onde pretende disputar o Executivo, mesmo tendo amargado derrota na tentativa de reeleição na cidade que governava.

Plano B de Helder

O desembarque do PT de Ananindeua do projeto de Beto Faro-Helder Barbalho, de levar Miro Sanova para a disputa contra Daniel Santos, obrigou o governador a articular um plano B, ou melhor, um plano “Doido”: chamar para a disputa quem pode bancar por si mesmo uma aventura - justamente o dono de contratos robustos com o governo do Estado, como a macrodrenagem do Tucunduba e a avenida Perimetral, em Belém, além da construção da avenida Independência, a mais importante via que a Região Metropolitana de Belém.

Antônio Doido afirmara que se colocaria à disposição para concorrer nas eleições municipais pelo MDB caso o prefeito Daniel Santos decidisse deixar o partido. Após Daniel confirmar sua ida para o PSB, o deputado mudou o domicílio eleitoral tornando-se apto a ser candidato à prefeitura. Daniel terá ao seu lado uma aliança maior do que teve em sua eleição, incluindo partidos de esquerda como PT, Psol-Rede, PCdoB, PDT, além, é claro, do PSB.

O Plano Doido prevê o investimento de 40 milhões em asfaltamento de vias em Ananindeua. O insurgente Daniel Santos, do alto de sua robusta aprovação de 83%, agradece. 

Papo Reto

A confrontação dos resultados das principais eleições para reitor da UFPA com a última aponta uma espantosa redução da participação da comunidade acadêmica e crescimento das abstenções no pleito.

Talvez por isso - senão apenas por isso -, o comentário geral é de que o ex-senador e atual superintendente da Sudam, Paulo Rocha (foto), foi “reconduzido” ao cargo de reitor pela terceira vez.

Bem, digamos que, desta vez, Paulo Rocha terá um ordenador de despesas de alto gabarito, o professor Gilmar Pereira - se Deus mandar bom tempo no planalto central.

Os 27 celulares encontrados no barco sinistro que a maré acabou trazendo, com corpos em decomposição, para a costa paraense, serão periciados em Brasília na busca de dados que possam revelar sua origem.

O Brasil atingiu a maior mortalidade por dengue da história: 1,6 mil, 35% a mais que ano passado, quando 1.179 brasileiros foram a óbito; diferença entre casos em investigação de 2023 e 2024 supera os 1.707%

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Quanto deve estar custando o silêncio da grande mídia?

Prepare o guarda-chuva: as precipitações ficarão acima da média em maio na Região Norte, segundo o Instituto Nacional de Meteorologia.  

O MPF fecha o cerco contra 29 entidades - associações, sindicatos e outros - autoproclamadas "sem fins lucrativos", expulsas das plataformas dos bancos comerciais pelo tanto de ações judiciais que atraíram através de "trambiques consignados" contra aposentados.

Essas "entidades" acabaram expulsas das plataformas dos bancos, mas encontraram generoso abrigo no guarda-chuva do INSS, onde seguem livremente aplicando os descontos fraudulentos não mais na chegada do dinheiro nas contas, mas na origem dos créditos.

São alguns milhares de pequenos descontos mensais que a maioria nem se apercebe. A coisa está tão flagrante que o aposentado que consegue paciência para ligar reclamando obtém a suspensão dos descontos na mesma hora, mas o INSS não se responsabiliza pelo que já foi roubado. 

Num país sério, o escandaloso fato já teria levado o presidente do INSS à cadeia.