No Pará, é tortuoso o caminho em busca de lazer nas férias de julho; salve-se quem puder.

Da saída de Belém até o destino, veranista cumpre o doloroso exercício da paciência, com o risco de não chegar são e salvo.

29/07/2024 10:00

Salinópolis se exibe com praia tomada por veículos e veículos tomados pelo mar; em Ajuruteua, Bragança, o brinquedo inocente/Fotos: Divulgação-Redes Sociais.


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a reta final do mês de julho, em que a população de Belém “pega a estrada” e troca a cidade e região metropolitana pelo interior em busca de lazer - ao passo em que muitas pessoas também fazem o caminho inverso: vêm do interior para Belém em busca de shopping e gastronomia -, é possível fazer um balanço, na perspectiva turística e comportamental do que aconteceu nos quatro cantos do Estado nesse período.

 

Dez ou mais fatos registrados de Belém às praias de cidades da Costa Atlântica, passando pela região do Araguaia e Tocantins; Alter do Chão, Marajó, Lago de Tucuruí e região oeste do Pará, enfim, onde quer que alguém esteja ou tenha visitado, por certo enfrentou perrengues que desestimulam e decepcionam, de certo modo quebrando o encanto do veraneio.

 

Basta ver o número de pessoas que nesta época também preferem as praias do nordeste, as serras de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul, além de Rio de Janeiro ou São Paulo, quando não alguma cidade dos Estado Unidos.


Preços e serviços

Há notícias de pacotes de diárias de até R$ 5 mil para um final de semana e cardápios com pratos de até R$ 400.  Um refrigerante de dois litros chegou a custar R$ 18.

 

Não bastasse, sobram queixas contra a qualidade dos serviços em hotéis, bares e restaurantes, alguns considerados sofríveis, com atendentes e garçons grosseiros e em número reduzido; redução das ofertas de cardápio; restaurantes que reduzem horário de atendimento ou não abrem para almoço e jantar em plena alta estação.

 

Outro destaque é a ausência de serviços bancários. O péssimo serviço dos provedores de internet afeta até o uso do Pix, havendo a necessidade de voltar ao século passado, com o uso de dinheiro vivo.  Aliás, conseguir dinheiro em agências bancárias é outro sofrimento: módulos pagadores inoperantes ou com pouca disponibilidade de notas.

 

Segurança pública

 

Casos de arrombamentos de residências e veículos, além dos pequenos assaltos têm sido relatados com frequência, mas pelo menos um oficial do Corpo de Bombeiros se destacou na multidão da segurança pública no período, ao arriscar a própria vida para salvar uma pessoa de afogamento em Salinópolis. O caso ganhou repercussão. Em algumas cidades, visitantes se queixam da dificuldade de permanecer em locais públicos pelo excesso de pedintes, alguns muito agressivos, o que também é muito comum em Belém.


Lixa para todo lado

O serviço de coleta e destinação do lixo é um caso clássico no Pará, principalmente nas praias, onde falha grosseiramente. Tem sido assim em Mosqueiro e Icoaraci, onde a coleta é restrita às áreas mais centrais, e em Salinópolis atinge a Praia do Atalaia, repercutindo em praias famosas de regiões mais distantes. As imagens do Atalaia rodam o mundo, onde a sujeira é atribuída ao baixo nível de educação ambiental da população.


Livrai-nos do trânsito

Ainda na área de segurança pública, os órgãos de fiscalização de trânsito continuam utilizando um expediente dos anos 1970, a blitz, para ciar um dos fatos mais bizarros deste veraneio: há casos de até três barreiras simultâneas, sempre em locais "escondidos", digamos, para surpreender e multar os incautos, nunca educar.  Já há tecnologia mais moderna para controle de trânsito que a autoridade paraense desconhece.

 

Problemas de trânsito são o principal perrengue do veranista, a começar pela saída de Belém, ainda que ignorando o trecho Belém-Benevides, onde tudo pode acontecer. No percurso até o trevo de acesso a Salinópolis, por exemplo, a decadente rodovia se transformou em avenida,  uma vez que a barreira da Polícia Rodoviária Federal em Castanhal colabora com a redução da pista de rolamento, inaugurando o engarrafamento, comprometido por quilômetros de estrada com lombadas sucessivas, muitas das quais sem a sinalização devida. Detalhe: ao longo do caminho, paga-se até R$ 3,50 para uso de toaletes insalubres.


Palco de exibição

A Praia do Atalaia tem mais que frequentadores, lixo, preços altos e serviços ruins. É um salão de exibição, poses, caras e bocas e um cemitério de carros e carrões. Dever ser a única praia no mundo onde o tráfego de veículos é permitido pelas autoridades de trânsito, mas não pela natureza que, sempre que pode, “engole” um e deixa o prejuízo para trás.

 

Prejuízo ou bom negócio? Há divergências, como sugere o vídeo que a Coluna Olavo Dutra selecionou das redes sociais. Pelo sim, pelo não, a praia mais famosa do Pará perde de longe para a Praia de Ajuruteua, em Bragança, onde a circulação de veículos é proibida e o lixo não espanta.   




Papo Reto

·    Um grupo de turistas estrangeiros foi conhecer Salinópolis dias atrás. Dois franceses, dois alemães e um influencer inglês confessaram ao guia: as belezas naturais, a gastronomia e a qualidade dos risorts e seus tobogãs, piscina com ondas e outros babados ganharam nota 10.


· Mas foram implacáveis em dizer que dificilmente voltarão, ao condenar o "absurdo de lombadas" e a consequente lentidão da mobilidade que atormentou o grupo entre a cidade e as praias.


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 Já não seria hora de o governador Helder Barbalho (foto) cobrar soluções técnicas capazes de minorar esse martírio dos verdadeiros "tobogãs" que infernizam a vida de tanta gente, inclusive daqueles que poderiam trazer novos visitantes para turbinar o turismo?

 

·  Aliás, se depender da fartura de camisas e outros mimos distribuídos à capacitandos da Sectet em Salinópolis, a galera tem tudo para dar show na COP-30.


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  Só que rola por lá um tremendo quiproquó: a presidente local do União Brasil, Miriam Holanda, que nem coordenadora do curso é, vem direcionando todas as benesses políticas da ação governamental para um único candidato a vereador, o dela, causando tremenda confusão no pedaço.


·  Servidores efetivos da Arcon não se conformam em ver um ex-diretor - que se afastou do cargo para cuidar de interesses eleitorais, mas deixou um filho na cadeira -, seguir utilizando carro locado pelo órgão.


·  Veja que contradição: enquanto Fernando Haddad jura - e a grande mídia replica - que o time dele "trabalha dia e noite" no corte de gastos para chegar à faixa inferior da meta fiscal - "somente" R$ 29 bilhões - Lula torrou mais de R$ 140 milhões em junho em "viagens de serviço" de resultados concretos nunca revelados.


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 Diz o Portal da Transparência que, até dezembro, em 2023, a gastança desenfreada da Presidência com viagens passou de R$ 2,3 bilhões e que, só nos últimos 10 dias - em pleno mês de férias escolares e recesso parlamentar e judiciário -, o governo federal gastou R$ 44 milhões com viagens.  

 

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