tiro de raspão que feriu a orelha direita de Donald Trump, o candidato republicano, parecia ser o fator que faltava para que o agressivo representante da extrema-direita dos Estados Unidos vencesse a eleição contra o combalido Joe Biden, representante democrata que concorreria à reeleição.
Com Trump iniciando um curso de distanciamento do adversário, a pressão da imprensa
progressista e dos patrocinadores de campanha forçou a renúncia de Biden e a
escolha, testada em pesquisas, da vice-presidente Kamala Harris como substituta
natural.
Kamala é a primeira mulher negra e de origem asiática a ocupar a
vice-presidência dos EUA.
A primeira pesquisa eleitoral posterior à renúncia de Biden - Reuters/Ipsos -
mostra Kamala em empate técnico com Trump, o que indica um potencial que o
atual presidente não tinha: o de se colocar na disputa com chances reais de
vencer.
O fator feminino
O
fator feminino também surge como um ativo decisivo no mercado do voto. “Cerca
de 54% dizem que os Estados Unidos estão prontos para ter uma mulher na
presidência”, afirma Jacinto Neto, consultor político, que leu as pesquisas
detalhadamente. Os números confirmam. “Cerca de 30% dos eleitores dizem que o
país não está pronto para ter uma mulher na presidência e 16% estão indecisos.
Em 2015, quando Hillary Clinton era candidata, os que acreditavam que o país
estava pronto para liderança feminina eram de 43%”. Em números absolutos,
Kamala é apoiada por 44% dos entrevistados e Trump, por 42%. “Na pesquisa
passada, a vantagem de dois pontos percentuais era do republicano, que ainda
tinha Biden como adversário”, afirma o consultor.
Analistas veem a postura firme e serena da vice-presidente como diferencial à
personalidade explosiva de Trump, além, é claro, do peso do voto das mulheres,
dos negros, latinos e minorias, que tendiam a se ausentar diante da alternativa
Biden versus Trump.
Problema com mulheres
Acusado
de conduta sexual inapropriada e de conduta imprópria ao longo de décadas e
marcado pelas estritas restrições ao aborto e pelo sexismo, “Donald Trump tem
um problema com as mulheres”, afirma Neto. “E os democratas apostam que Kamala
Harris pode se valer desta situação em sua eventual corrida pela Casa Branca”.
Trump foi acusado de misoginia por sua oponente democrata em 2016, Hillary
Clinton, até agora a única mulher nomeada por um partido majoritário para
concorrer à Casa Branca, e enfrenta ataques semelhantes de uma vice-presidente
que cada vez mais tem chances de se tornar a segunda, após a saída de Joe Biden
da corrida eleitoral em 2024.
O estrategista político Sérgio Santos diz que, “embora Kamala possa enfrentar
dificuldades com eleitoras moderadas e mais velhas, a coalizão democrata de
mulheres dos subúrbios e mães trabalhadoras poderia ajudá-la a obter a
vitória”.
Facilitação do aborto
Em seu primeiro comício como pré-candidata à presidência dos Estados Unidos, realizado na última terça-feira, 23, em Milwaukee, Kamala Harris acenou para o eleitorado feminino e prometeu restaurar leis que facilitem o aborto no país.
“Nós,
que acreditamos em liberdade reprodutiva, vamos parar as extremas proibições de
Donald Trump ao aborto legal, porque acreditamos nas mulheres para tomar
decisões sobre seu corpo, sem que o governo diga o que fazer”, declarou Harris.
Ex-senadora e atual vice-presidente, Kamala foi promotora de Justiça e
procuradora-geral na Califórnia, especializada em casos de violência doméstica
e exploração de crianças. Levou o estilo combativo de promotora a Washington em
2016, quando se tornou a segunda mulher negra no Senado americano.
Para além das pessoas
Nas
redes sociais, Kamala disse: “Esta eleição é sobre muito mais do que uma
disputa entre pessoas. É sobre a alma da América profunda e nossa vontade de
lutar por ela. Temos muito trabalho pela frente. Vamos começar”.
Os democratas ainda não decidiram quem será o vice na chapa da situação. A
principal indicação, neste momento, é a de que Harris e seus partidários buscam
um perfil que possa atrair dois eleitorados que estavam mais distantes de
Biden: brancos e conservadores, para temperar a imagem de feminista e
esquerdista que os republicanos tentam colar em Kamala.
Maduro,
ex-motorista de
ônibus
e líder sindical,
tenta
conquistar terceiro
mandato
a ferro e fogo
Por
Wesley Bischoff | g1
Foto:
Fernando Vergara-AP
São
Paulo - Nicolás Maduro (foto) tem um capítulo decisivo em sua
vida pessoal e política, hoje. Se vencer as eleições na Venezuela, a
garante o terceiro mandato como presidente e mais seis anos no poder; se
perder, será o protagonista do fim de um ciclo de 25 anos de governos chavistas.
Aos
61 anos, Nicolás Maduro nasceu em Caracas. Após concluir o ensino médio, ele
conseguiu um emprego como motorista de ônibus no sistema do Metrô de Caracas.
A
escalada ao poder começou ainda como motorista. Maduro fundou um novo sindicato
para representar os trabalhadores do Metrô de Caracas, no fim da década de
1970.
Mais
tarde, tornou-se militante do Movimento Bolivariano Revolucionário 200
(MBR-200), que era liderado por Hugo Chavez. Em 1992, após a tentativa de golpe
fracassada e a prisão de Hugo Chávez, ganhou fama pelo ativismo em favor da
libertação do líder revolucionário.
Nos
anos seguintes, Nicolás Maduro foi eleito deputado, nomeado chanceler, até
chegar à Presidência. O governo dele é marcado por polêmicas, crises econômicas
e isolamento internacional.
Alto,
com um bigode espesso que exibe com orgulho, o ex-motorista de ônibus e
dirigente sindical explora os estereótipos de "homem do povo", de
"presidente trabalhador", como gosta de ser chamado, para seu
benefício político, evocando um passado de vida simples em longas noites
televisionadas com Cilia Flores, sua esposa e "primeira combatente",
muito poderosa nos bastidores.
Carreira política
Nicolás
Maduro saiu do sindicalismo diretamente para a política. Identificando-se com a
esquerda, foi um dos fundadores do partido de Hugo Chávez, o Movimento Quinta
República. Em 1999, Chávez foi eleito presidente. Naquele ano, Maduro tornou-se
membro da Assembleia Nacional Constituinte. Em 2000, foi eleito deputado,
chegando a ser presidente da Casa em 2006.
Maduro
deixou a Assembleia da Venezuela após ser convidado por Chávez para ser
ministro das Relações Exteriores. Na época, ele já era muito próximo do então
presidente. Como chanceler, Maduro se manteve fiel ao chavismo e era
considerado por diplomatas uma pessoa fácil de lidar. Em outubro de 2012, Hugo
Chávez foi reeleito para um quarto mandato na Venezuela e escolheu Maduro para
ser seu vice-presidente. Pouco tempo depois, o presidente se afastou do cargo
para cuidar da saúde, e o vice assumiu o comando interinamente.