Helder adota cautela sobre reeleição de Maduro e PT destaca “jornada pacífica e democrática”

Governador se junta ao silêncio obsequioso do governo Lula e diz que pleito não pode ser usado para derrubar governo eleito legitimamente; e a Executiva nacional do PT firma posição.

Por Olavo Dutra | Colaboradores

31/07/2024 08:01
Helder adota cautela sobre reeleição de Maduro e PT destaca “jornada pacífica e democrática”
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as manifestações que chamam a atenção da Coluna Olavo Dutra em meio a essa crise política na Venezuela, duas se destacam pelas ‘entrelinhas”. A de que a Executiva Nacional do PT afirma que o processo eleitoral que elegeu Nicolás Maduro foi uma “jornada pacífica, democrática e soberana” e outra, bem paroquial, por assim dizer, do governador Helder Barbalho, no Twitter (veja abaixo).


Eleição para mais um mandato de Nicolás Maduro parece ser assunto interno da Venezuela e deve ficar por isso mesmo/Fotos: Divulgação-Reuters-Fausto Terrealba.
 

Das duas, uma: tanto a declaração do PT - praticamente a mesma não manifestada pelo governo brasileiro -, quanto a do governador do Pará colocam panos quentes na situação e entregam a Venezuela à própria sorte. Simples assim: a cautela política que beira a hipocrisia, ou o ‘toma que o filho é teu’.


A ciência política ensina que eleições servem para “sustentar uma solução provisória às disputas políticas e promover uma reunificação momentânea em sociedades cindidas por interesses antagônicos”. Isso é verdade, embora esse efeito tenha diminuído conforme avança o mecanismo que o jornalismo chama pudicamente de “polarização”.


Eleições contestadas, porém, sempre levam ao resultado oposto do desejado. E é difícil acreditar que a vitória de Nicolás Maduro no último final de semana corresponda mesmo ao resultado das urnas. Ou mesmo que corresponda, não parece crível.


Reeleição duvidosa

 

Embora o “Poder Eleitoral” conte como uma corte independente na Venezuela, o fato é que a Comissão Nacional Eleitoral serve a Maduro e ao seu regime. A falta de transparência e as incongruências do anúncio do resultado tornam a reeleição bem duvidosa.


O anúncio do resultado na madrugada do dia 29 de julho gerou um turbilhão de reações tanto dentro quanto fora do país. Em um cenário marcado por uma polarização extrema, onde os interesses políticos se chocam de forma violenta, a vitória de Maduro, com 51,2% dos votos, foi contestada por muitos como resultado de um processo eleitoral viciado e repleto de irregularidades.


Tensão e desconfiança

 

O Conselho Nacional Eleitoral, controlado por aliados de Maduro, proclamou a vitória do presidente em meio a um clima de tensão e desconfiança. O opositor Edmundo González, que recebeu 44,2% dos votos, segundo a apuração oficial, denunciou a realização de fraudes "grosseiras" que teriam manipulado os números. María Corina Machado, uma das principais figuras da oposição e que foi barrada de concorrer, afirmou ter evidências concretas de que González teria, de fato, vencido com uma margem significativa, ao receber 6,27 milhões de votos, em comparação aos 2,75 milhões de Maduro, de acordo com apuração paralela.


Manobras de sempre

 

As alegações de fraude e a falta de transparência no processo eleitoral levantam sérias questões sobre a legitimidade do resultado. O CNE, em uma manobra que não é nova na política venezuelana, atribuiu o atraso na apuração a "ataques terroristas" ao sistema eleitoral, mas não apresentou provas concretas que respaldassem essa afirmação. Essa narrativa de vitimismo, muito utilizada por Maduro em discursos passados, parece agora ser uma estratégia para justificar sua permanência no poder, em um contexto onde as críticas da oposição e da comunidade internacional se intensificam.


Pacifismo com mortes

 

A reação do governo brasileiro e de outros países da América Latina é um elemento crucial a ser considerado. Enquanto o Itamaraty se limitou a saudar o caráter pacífico da jornada eleitoral e aguardar dados desagregados do CNE para uma verificação mais aprofundada, países como Chile e Colômbia, governados pela esquerda, se mostraram mais cautelosos. O presidente chileno, Gabriel Boric, foi incisivo ao afirmar que seu país só reconhecerá resultados "verificáveis", enquanto a Colômbia exigiu uma auditoria independente do processo.

 

Posições moderadas

 

O silêncio do presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre o tema é notável, especialmente considerando suas relações históricas com o chavismo e atendem a um movimento crescente de distanciamento do presidente brasileiro do regime de Maduro.

 

Enquanto isso, a vice-presidente dos Estados Unidos, Kamala Harris, expressou uma mensagem dúbia, segundo a qual "a vontade do povo venezuelano deve ser respeitada", indicando que a administração Biden está atenta a qualquer sinal de desestabilização na região, mas expressando uma posição moderada.


Em grande parte da esquerda brasileira, a posição padrão é o apoio acrítico ao governo da Venezuela. Faz sentido ver a cobiça pelo petróleo como motor principal da antipatia pelo regime. Donald Trump, um homem cínico e sem meias palavras, enunciou esse fato francamente.


A retórica antiimperialista de Chávez já despertou simpatia unânime na esquerda, mas hoje gera inquietação em alguns setores, que veem nessa retórica apenas um escudo para uma prática bonapartista indefensável.


Poder eternizado

 

O cruel embargo econômico gera solidariedade, é verdade, assim como as múltiplas tentativas de desestabilização do regime por parte dos Estados Unidos geram repúdio e a demonização da Venezuela pela direita, por vezes de forma absolutamente caricata, gera revolta. Mas é inegável que a permanência de um mesmo governante ad eternum produz desconforto e inquieta os progressistas, árduos defensores da alternância de poder.


As veias da América

 

O cenário político na Venezuela é um microcosmo das tensões que permeiam a política latino-americana. A polarização não é apenas um fenômeno venezuelano, mas um reflexo de uma realidade mais ampla que afeta vários países da região. Contudo, a realidade da Venezuela guarda particularidades reluzentes.

 

O discurso de Maduro, que acusa opositores e potências estrangeiras de tentarem desestabilizar o país, é um eco de narrativas utilizadas por líderes autocráticos em diversos contextos, o que transparece mais ainda seu parentesco com o velho coronelismo latino-americano do pós-guerra.


Por outro lado, a resistência da oposição, que se organiza em torno de figuras como Machado e González, mostra que a luta por uma democracia mais robusta e transparente continua viva na Venezuela. As alegações de fraude e a mobilização da sociedade civil podem ser sinais de que, apesar das dificuldades, há um real desejo de mudança na população.


Desafios da democracia

 

A possibilidade de um novo ciclo de protestos e confrontos nas ruas é real, especialmente se a oposição continuar a contestar os resultados e a exigir uma apuração justa. A situação é delicada e requer uma atenção cuidadosa, tanto da comunidade internacional quanto dos próprios venezuelanos, que anseiam por um futuro melhor.


A reeleição controversa de Maduro não é apenas um evento isolado, mas parte de um quadro mais amplo de desafios democráticos enfrentados na América Latina. O que está em jogo não é apenas o futuro da Venezuela, mas também a saúde da democracia na região como um todo. As próximas semanas serão cruciais para determinar se a oposição conseguirá canalizar a insatisfação popular em um movimento que possa efetivamente contestar o regime de Maduro ou se o presidente conseguirá consolidar seu poder, aprofundando ainda mais a divisão e a polarização no país.


Papo Reto

 

·  Viralizou na internet um post com fotos de Lula e Maduro estampadas com seus respectivos percentuais de votação: os mesmos 51,2%.

 

·  Observadores avaliam que essa é uma probabilidade praticamente impossível de acontecer, até mesmo pelas disparidades e tamanho dos universos eleitorais nos dois países.

 

·  Acredite: dez milhões de brasileiros já emitiram a nova Carteira de Identidade Nacional, que, a partir de 2032, será o único documento válido nacionalmente.

 

·  José Tostes Neto (foto), ex da Receita Federal, não faltou ao depoimento na Polícia Federal sobre o caso da “Abin paralela”. Ele apenas pediu a remarcação da oitiva.

 

·  A Biomanguinhos agora integra a rede de preparação para epidemias, turbinando as ações de produção de vacinas na região da América Latina e do Caribe.

 

· Tá aí um exemplo que merecia ser copiado pelo Pará: o governo de São Paulo largou na frente lançando diretrizes de combate a estiagens prolongadas.

 

·  A medida inclui a criação e ou atualização de capacitação para membros do Sistema Estadual de Proteção e Defesa Civil, além de fornecer equipamentos aos municípios para ações rápidas de contenção de incêndios florestais logo no seu início. 

 

· O sonho de consumo de qualquer mineradora passou a ser uma lei que venha desonerar os minerais críticos e estratégicos no processo de transição energética e de descarbonização da economia.


· São eles: Cobre, Lítio, Níquel, Cobalto, Elementos de terras raras, Bauxita e alumínio, Cádmio, Estanho, Gálio, Germânio, Índio, Ferro, Chumbo, Selênio, Silício, Prata, Telúrio, Zinco.

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