Funtelpa se declara sucateada publicamente e foge da geração de propaganda eleitoral deste ano

TRE registra em ata que emissora estatal está sem as devidas ‘condições técnicas’ para produzir mídia de candidatos para as eleições municipais.

25/08/2024 10:00

Peça de propaganda do governo foi anexada à ata, mas a deficiência técnica da emissora provocou um “pito” do representante da Anatel/Fotos: Divulgação.


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reunião realizada pelo Tribunal Regional Eleitoral para o sorteio das emissoras responsáveis por fazer a distribuição das mídias dos partidos foi palco de estranhas cenas da TV RBA e da Fundação de Telecomunicações do Pará, a Funtelpa, estatal que transmite a Rede Cultura de Televisão, ao fugir da responsabilidade de gerar os programas do horário eleitoral, conforme prevista em lei, para distribuir a outras emissoras. A Funtelpa conseguiu fugir, mas foi obrigada a revelar o motivo: é uma emissora sucateada.

 

O argumento dos representantes da Funtelpa é de que Cultura Rede de Comunicação não tem nem mesmo um simples nobreak, equipamento que ‘segura’ os demais ligados em caso de pane ou falta de energia elétrica. Diante disso, a juíza Reijjane Ferreira de Oliveira, que presidia os trabalhos da reunião, se viu obrigada a retirar a Funtelpa da participação do sorteio como emissora geradora dos programas do horário eleitoral, e manteve a emissora apenas no sorteio de retransmissora do horário eleitoral.

 

No entendimento da magistrada, o problema técnico é grave, poderia comprometer o horário eleitoral e gerar prejuízo aos candidatos.

 

Sucateada em público

 

A Funtelpa esteve representada na reunião pelo seu diretor de TV, Marcelo Mendes, e pela advogada da emissora, Vanessa Pieroni, que levou um ofício à juíza Reijjane Oliveira e também, conforme a ata da reunião, informou de público que a Rede Cultura está passando por problemas quanto ao material técnico de transmissão e também de pessoal, solicitando assim a dispensa de ser geradora, por conta de possíveis quedas de seu sinal.

 

A advogada ressaltou que a Funtelpa está em fase de aquisição de novos equipamentos, com prazo de 45 a 90 dias para chegar, e assim não daria tempo de ser a geradora, e citou até a Lei de Murhpy como argumento jurídico para que a magistrada entendesse a situação da emissora.

 

Bronca da Anatel

 

Com a declaração da advogada, a juíza Reijjane Oliveira chegou a pedir socorro ao representante da Agência Nacional de Telecomunicações, Anatel, Carnot Guimarães, presente à reunião. Ele foi enfático ao responder que toda concessionária e permissionária, como é o caso da Funtelpa, tem obrigação de ter todos os equipamentos em funcionamento para geração do horário eleitoral, ainda mais sabendo que as eleições são realizadas a cada dois anos.

 

Para bom entendedor, Carnot também deu uma bronca na Funtelpa, que não informou à Anatel de seu estado de sucateamento. “Uma situação desse tipo, que impede uma emissora de cumprir com obrigações que são previstas em lei 'enquanto concessão', precisa ser informada à Anatel com antecedência, e eu asseguro que esta não foi. A Anatel não tinha conhecimento da real situação da Funtelpa colocada aqui por seus representantes”, disse Carnot, que ainda solicitou um prazo para que, dentro de 24 horas, a Funtelpa fosse fiscalizada para que houvesse um atestado da real situação. A magistrada, porém, entendeu que não haveria tempo, pois era necessário fazer a definição naquela reunião.

 

Escapou por pouco

 

Quem também tentou fugir da responsabilidade, e não conseguiu por pouco, foi a TV RBA, cujo representante da Coligação “Levanta Belém”, advogado Leonardo Maia Nascimento, solicitou a dispensa de participar do sorteio das geradoras de propaganda em rede, em virtude de os sócios da emissora terem vinculações políticas.

 

Ele lembrou que em 2018 e em 2022 a rede RBA foi dispensada da geração para que erros não fossem superdimensionados e vistos como dolosos, e pediu que a emissora realizasse apenas a retransmissão e inserções de obrigação legal.

 

Leonardo lembrou ainda que os sócios não estão disputando cargos eletivos nestas eleições, mas são mandatários, a exemplo do governador Helder Barbalho e do ministro Jader Barbalho Filho.

 

A representante da TV Liberal, Daniele Oliveira, disse que, pelo princípio da isonomia, todas as emissoras detêm a mesma responsabilidade de transmissão. Por fim, depois de ouvir a todos, a comissão de propaganda informou que não havia impedimento legal de a rede RBA ser geradora da propaganda em rede e, ao final, a juíza Reijjane Oliveira manteve a emissora no sorteio de geradora.

 

Ritmo da propaganda


Depois de dividir em períodos para não ficar pesada para uma só emissora, menos a Funtelpa, excluída por sucateamento, o sorteio foi realizado entre as demais com o seguinte resultado: a TV Boas Novas atuará como geradora de 30 de agosto, quando começa o horário eleitoral, até 10 de setembro, ficando como titular por 12 dias e a TV Record como substituta. A TV Liberal fará a distribuição de 11 a 22 de setembro, também por 12 dias, tendo a TV RBA como substituta. Já a Fundação Nazaré de Comunicação ficará responsável pela geração de 23 de setembro a 3 de outubro, quando encerra a propaganda, tendo como substituta a TV SBT.

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