Fogo Cruzado: estudo aponta morte de 13 mulheres na Grande Belém em seis meses

Levantamento coloca duas adolescentes e cinco pessoas negras na estatística macabra, uma delas grávida de poucos meses.

19/07/2024 08:00

Maioria dos crimes ocorreu em Belém, mas registros alcançam Ananindeua, Marituba, Benevides e Castanhal/Divulgação-Vídeos-CucambaOnline.


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egunda-feira, 15, mês de férias, quando Belém e região ficam praticamente vazias. Um homem e uma mulher são assassinados. Identificado apenas como Tiago, o homem morreu a tiros na passagem Divina Luz, no bairro Barreiro. Na noite do mesmo dia, Marizélia dos Santos também foi morta a tiros em um bar na avenida Francisco Amâncio, no Centro de Santa Izabel do Pará. Outra mulher, não identificada, foi assassinada em um bar da rua atrás do Mercado de Castanhal, mas essa morte, ocorrida por volta das 15 horas de ontem, ainda não foi contabilizada pelo Instituto Fogo Cruzado Belém.

 

Mandando bala

 

A morte de Marizélia traz junto um dado alarmante: de janeiro até a metade deste mês, 25 mulheres foram baleadas na Região Metropolitana de Belém, sendo que 13 morreram e 12 ficaram feridas. O Instituto também mapeou, em 2024, o registro de 173 ocorrências de disparos por arma de fogo somente em Belém, nas quais 126 pessoas morreram e 51 ficaram feridas.

 

Chama atenção no relatório do Instituto Fogo Cruzado o fato de que, das 13 mulheres, duas eram adolescentes, sendo uma de 15 anos e a outra de 17. Das 13, cinco mulheres eram negras. A maioria dos assassinatos ocorreu em Belém, com sete casos, mas há registros de mortes em Marituba (2) e Santa Izabel; Ananindeua, Castanhal e Benevides (1, cada).

 

Morte no ventre

 

As circunstâncias dos assassinatos são as mais variadas, mas a morte de uma mulher, identificada apenas como Karina, de 30 anos, que estava grávida de poucos meses e era negra, chama a atenção. Ela estava na companhia de um homem, em uma casa, quando um suspeito se aproximou e realizou os disparos. O crime foi em Belém, na passagem Tancredo Neves, no bairro do Telégrafo, em fevereiro deste ano.

 

Em outro assassinato havia uma criança no local, no dia 20 de fevereiro. De madrugada, Karina Rodrigues Pereira, de 29 anos, e Vitor Monteiro Matos, de 23, foram mortos a tiros dentro de uma residência, na travessa Oliveira, bairro Distrito Industrial, em Ananindeua. Nas proximidades, estava uma criança pequena.

 

Duas adolescentes

 

Das duas adolescentes assassinadas - maio deste ano -, uma de 17 anos foi morta a tiros por um homem em uma arena de esportes na avenida José Bonifácio, bairro Guamá. A vítima estava em um jogo de futebol quando foi alvejada. Em 2 de junho, outra adolescente, de 15 anos, negra, foi morta a tiros na passagem Anazira, no loteamento Águas Limpas, bairro da Pratinha, em Belém. Os disparos foram feitos por volta das 2 horas, madrugada de um domingo.

 

Últimos seis meses

 

 Uma mulher não identificada foi morta a tiros no primeiro dia de 2024, na rua São Pedro, no bairro Decouville, em Marituba. Ela era negra e a morte aconteceu por volta de meio-dia. No dia 21 de janeiro, um casal foi morto a tiros na rodovia PA-136, no bairro Santa Lídia, em Castanhal. Eles trafegavam na via quando foram alvejados, por volta de meia-noite.

 

Em 2 de fevereiro, Maria Pires, de 44 anos, teve sua residência invadida por homens para assassiná-la a tiros no Residencial Viver Melhor, bairro Novo Horizonte, em Marituba. Também em fevereiro, no dia 29, em um ataque armado sobre rodas, Rosilene da Silva, mulher negra de 40 anos, foi morta a tiros, no fim da tarde, na travessa Padre Eutíquio, bairro da Condor, em Belém. Ela foi alvejada por duas pessoas que estavam em uma moto.

 

No dia 4 de março, de madrugada, uma mulher não identificada foi morta a tiros no Conjunto Pedro Álvares Cabral, bairro da Marambaia, em Belém. Ela era branca e tinha 37 anos. Também em março, no dia 14, Tatiane Priscila dos Santos, mulher negra, foi morta a tiros, por volta das 23h30, na travessa Barão do Triunfo, bairro do Marco, em Belém. Um homem que estava em um carro teria efetuado os disparos contra a vítima.

 

Em abril de 2024, mais duas mulheres foram mortas. No dia 6, Alessandra Portilho, de 38 anos, foi morta a tiros de madrugada, no veículo em que voltava de uma festa na rua Gaspar Viana, bairro do Reduto, em Belém. Alessandra estava discutindo com o marido, Major do Corpo de Bombeiros, quando foi baleada no abdômen, segundo a Polícia, em um disparo acidental.  Ela chegou a ser socorrida e levada pela própria irmã ao Hospital Metropolitano, em Ananindeua, mas acabou morrendo. O marido de Alessandra foi ouvido pelos policiais e liberado, mas não teve a identidade divulgada. A Polícia Civil informou que o caso está sob sigilo pela Delegacia de Feminicídio.

 

Ação policial

 

No início da madrugada de quarta-feira, 17 de abril, Sâmela Cauany Pantoja de Almeida foi morta a tiros durante ação policial do 39º BPM, na rua Cristina Figueiredo Diniz, bairro Maguari, em Benevides. A operação da polícia foi feita por volta de meia-noite, e nela, o policial militar Leandro Silva de Souza Lima ficou ferido por tiro, mas não morreu.  


Coluna Olavo Dutra solicitou maiores informações sobre as 13 mulheres assassinadas na Região Metropolitana de Belém em 2024 à comunicação do governo e da Secretaria de Segurança do Estado e aguarda retorno. 



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