Parque Ecológico de Belém “Gunnar Vingren” virou mais um exemplo de abandono de
um espaço público de responsabilidade da prefeitura da capital do Pará. É outro
gol contra as ideias de modernidade e sustentabilidade que remete os
observadores de plantão ao espírito da COP30, conferência da ONU prevista para
2025, e atiça as dúvidas sobre a capacidade de a gestão municipal de “arrumar a
casa” a tempo e a hora.
O governo do Estado, que poderia incrementar os espaços públicos de Belém, já que interfere em outros casos dentro do espírito do evento, não parece ter se apercebido desta situação. A informação do abandono não é nova. Voltou às redes sociais em vídeo publicado pela vereadora Sílvia Letícia, do Psol, em que denuncia o abandono da área equivalente a mais de 100 campos de futebol, com grande diversidade de flora e de fauna e diferentes ecossistemas, como várzea, terra firme e igapó.
Corroído pelo descaso
As
imagens registradas apontam um ambiente esquecido, com o prédio destinado à
área administrativa totalmente comprometida fisicamente. O parque serviria como
uma espécie de proteção às rajadas de ventos e de isolamento acústico às
operações do Aeroporto de Belém.
Criado
em 1991, o Parque Ecológico é uma área situada entre os Conjuntos Médici, no
bairro da Marambaia, e o Bela Vista, em Val-de-Cães. Os moradores dos dois
conjuntos reclamam que, passados 30 anos, não conseguem visitar a área.
Negociações frustradas
Para
confirmar o descaso, a Associação dos Moradores dos Conjuntos Médici diz ter
tentado inúmeras vezes “abrir as portas do parque” em reuniões com
representantes da prefeitura, em vão. Sem segurança, após a saída da Guarda
Municipal, e convivendo com usuários de drogas e a falta de manutenção, o
parque passou a ser vigiado pelos moradores da redondeza. Até as chaves
estariam com eles.
Inaugurado
pelo prefeito Duciomar Costa e revitalizado no governo Ana Júlia Carepa como
contrapartida pela pavimentação da avenida Independência, a busca por melhorias
na área passou pelo governo Zenaldo Coutinho, mas estacionou na gestão Edmilson
Rodrigues.
Intervenção do MP
Segundo
a Associação dos Moradores, dia 31 deste mês estaria prevista uma audiência
para um possível acordo entre prefeitura e os moradores, em ação movida pelo
Ministério Público, a fim de se revitalizar a área de cerca de 350 mil metros
quadrados.
A
linha do tempo e a história do parque apontam que a área é parte do terreno dos
Conjuntos Médici I e II, propriedade que pertencia à extinta Enasa, onde nasceu
uma cooperativa de trabalhadores que loteou o terreno para receber,
exclusivamente, os dois conjuntos. A proposta do espaço público em
questão é de visitação, mas também de receber atividades acadêmicas, pesquisas,
de instituições parcerias da administração pública municipal, caso das
universidades federais.
Especulação Imobiliária
A
denúncia apontada em vídeo pela vereadora Sílvia Letícia sugere que a área do
parque entrou no radar da especulação imobiliária. A perambulação furtiva no
espaço tem provocado a fuga de pequenos animais, como macacos, em direção a
residências próximas e até atravessando ruas, com risco de atropelamento.
Para inglês ver
A prefeitura diz que o espaço se encontra fechado por falta de verba para reestruturação. Isso, desde 2021, mas em 2022, o projeto de melhoria teria entrado no Plano Plurianual, mas chegou a ser executado. Em fevereiro de 2022, a prefeitura anunciou planos de revitalização dos parques da cidade, mas, como de hábito, palavras o vento leva.