Com as portas fechadas pelo descaso, Parque Ecológico de Belém pede socorro e se abre a especuladores

Área equivalente a 100 campos de futebol, rica em fauna e flora e sem função social está entregue à própria sorte e passa a ser cobiçada.

24/01/2024 08:00

Animais que vivem na reserva também são ameaçados por visitantes indesejados, mesmo fechada para fins sociais pela Prefeitura de Belém/Fotos: Divulgação.


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Parque Ecológico de Belém “Gunnar Vingren” virou mais um exemplo de abandono de um espaço público de responsabilidade da prefeitura da capital do Pará. É outro gol contra as ideias de modernidade e sustentabilidade que remete os observadores de plantão ao espírito da COP30, conferência da ONU prevista para 2025, e atiça as dúvidas sobre a capacidade de a gestão municipal de “arrumar a casa” a tempo e a hora.

 

O governo do Estado, que poderia incrementar os espaços públicos de Belém, já que interfere em outros casos dentro do espírito do evento, não parece ter se apercebido desta situação. A informação do abandono não é nova. Voltou às redes sociais em vídeo publicado pela vereadora Sílvia Letícia, do Psol, em que denuncia o abandono da área equivalente a mais de 100 campos de futebol, com grande diversidade de flora e de fauna e diferentes ecossistemas, como várzea, terra firme e igapó.



 

Corroído pelo descaso

 

As imagens registradas apontam um ambiente esquecido, com o prédio destinado à área administrativa totalmente comprometida fisicamente. O parque serviria como uma espécie de proteção às rajadas de ventos e de isolamento acústico às operações do Aeroporto de Belém.

 

Criado em 1991, o Parque Ecológico é uma área situada entre os Conjuntos Médici, no bairro da Marambaia, e o Bela Vista, em Val-de-Cães. Os moradores dos dois conjuntos reclamam que, passados 30 anos, não conseguem visitar a área.

 

Negociações frustradas

 

Para confirmar o descaso, a Associação dos Moradores dos Conjuntos Médici diz ter tentado inúmeras vezes “abrir as portas do parque” em reuniões com representantes da prefeitura, em vão. Sem segurança, após a saída da Guarda Municipal, e convivendo com usuários de drogas e a falta de manutenção, o parque passou a ser vigiado pelos moradores da redondeza. Até as chaves estariam com eles.

 

Inaugurado pelo prefeito Duciomar Costa e revitalizado no governo Ana Júlia Carepa como contrapartida pela pavimentação da avenida Independência, a busca por melhorias na área passou pelo governo Zenaldo Coutinho, mas estacionou na gestão Edmilson Rodrigues.

 

Intervenção do MP

 

Segundo a Associação dos Moradores, dia 31 deste mês estaria prevista uma audiência para um possível acordo entre prefeitura e os moradores, em ação movida pelo Ministério Público, a fim de se revitalizar a área de cerca de 350 mil metros quadrados.

 

A linha do tempo e a história do parque apontam que a área é parte do terreno dos Conjuntos Médici I e II, propriedade que pertencia à extinta Enasa, onde nasceu uma cooperativa de trabalhadores que loteou o terreno para receber, exclusivamente, os dois conjuntos.  A proposta do espaço público em questão é de visitação, mas também de receber atividades acadêmicas, pesquisas, de instituições parcerias da administração pública municipal, caso das universidades federais.

 

Especulação Imobiliária

 

A denúncia apontada em vídeo pela vereadora Sílvia Letícia sugere que a área do parque entrou no radar da especulação imobiliária. A perambulação furtiva no espaço tem provocado a fuga de pequenos animais, como macacos, em direção a residências próximas e até atravessando ruas, com risco de atropelamento.

 

Para inglês ver


A prefeitura diz que o espaço se encontra fechado por falta de verba para reestruturação. Isso, desde 2021, mas em 2022, o projeto de melhoria teria entrado no Plano Plurianual, mas chegou a ser executado. Em fevereiro de 2022, a prefeitura anunciou planos de revitalização dos parques da cidade, mas, como de hábito, palavras o vento leva.



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