PT deixa Belém fora do roteiro de visitas de Lula e sinaliza que Edmilson não é aposta segura

Com um terceiro mandato marcado pela ineficiência, mas embalado por delírios, prefeito de Belém padece de isolamento político no ocaso do Psol como ‘projeto de poder’ no País.

Por Olavo Dutra | Colaboradores

15/09/2024 08:00
PT deixa Belém fora do roteiro de visitas de Lula e sinaliza que Edmilson não é aposta segura
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refeito de Belém pela terceira vez, Edmilson Rodrigues sempre pintou um retrato idealizado da capital paraense, uma espécie de “cidade perfeita”. Em suas duas primeiras gestões conseguiu plantar marcas, se destacando por ações como Bolsa Escola, Orçamento Participativo, Conselhos Populares de Fiscalização de Obras, Pronto Socorro do Guamá, Aterro Sanitário do Aurá e Aldeia Cabana, dentre outras. Na terceira, a marca que deixou foi a da ineficiência, seja no saneamento básico, na coleta de lixo ou mesmo na revitalização de feiras e mercados, ou na simples manutenção de praças. Nada pode ser destacado como um trabalho de excelência.


Prefeito coleciona resultados pífios na atual gestão e, pelo que se anuncia, não terá a presença do presidente na reta final da campanha de reeleição/Fotos: Divulgação.
 

A cidade “perfeita” que emerge das falas de Edmilson é uma construção idílica, que não se sustenta diante da realidade enfrentada pela maioria da população. O que se observa em seus pronunciamentos é um exagero de prognósticos que leva ao isolamento político, que por sua vez deriva no ocaso do Psol como “projeto de poder” alternativo ao PT.

 

Partido eminentemente urbano que teve a oportunidade de governar sua única capital, o Psol agora enfrenta uma série de desafios que comprometem sua credibilidade pública e relevância política no País. Por isso Edmilson virou assunto na campanha de São Paulo - não como exemplo de boa gestão; ao contrário, na boca dos adversários de Guilherme Boulos.

 

Um mito grego

 

Edmilson Rodrigues parece, nesse contexto, ressuscitar o mito grego de Pigmalião, aquele que descreve um escultor que, apaixonado por sua própria criação, a faz ganhar vida. Seu desejo se consolida, se corporifica, se realiza. Essa pode ser uma metáfora adequada para entender a dinâmica da administração do alcaide. Assim como Pigmalião investiu todas suas expectativas e paixão em uma estátua, Edmilson também “desenhou” uma Belém ideal, repleta de promessas de progresso, desenvolvimento, gôndolas trafegando em canais, revolução na coleta de lixo, ônibus elétricos circulando, novas ideias emergindo em cada esquina. No entanto, ao invés de ver sua criação florescer, o que se observa é uma realidade marcada pela insatisfação popular e pelo descaso administrativo, refletindo um fenômeno que pode ser interpretado, à luz da psicologia, através do Efeito Pigmalião e do Efeito Golem.

 

O Efeito Pigmalião, conforme estudado pelo psicólogo Robert Rosenthal, sugere que altas expectativas podem levar a um desempenho superior. Edmilson, ao nutrir expectativas elevadas para sua administração, poderia, em teoria, ter inspirado não apenas sua equipe, mas também a população a acreditar em um futuro melhor a partir de um presente de realizações. No entanto, o que se verifica é um movimento oposto, onde as baixas expectativas sobre sua gestão se transformam em um Efeito Golem, resultando em um desempenho abaixo do esperado, com a gestão sendo marcada por ineficiências, graves denúncias e descontentamento generalizado.

 

Imagem do isolamento

 

A recente decisão da cúpula do PT de deixar Belém fora das visitas do presidente Lula é um sintoma claro desse isolamento. Lula, ao priorizar capitais onde há uma maior probabilidade de sucesso eleitoral, sinaliza que não vê em Edmilson uma figura capaz de representar as aspirações da esquerda.

 

Essa exclusão reflete não apenas a falta de apoio, mas também a percepção de que a administração de Edmilson não é uma aposta segura para o futuro. A ausência de eventos políticos significativos na cidade, como a entrega de obras ou programas, corrobora essa visão de um governo que não consegue se conectar com as necessidades da população.

 

Além disso, a relação conflituosa entre Edmilson e setores de seu partido, o Psol, demonstra a fragilidade dessa conexão. A estratégia de se associar à COP30, tentando posicionar Edmilson como “pai do evento”, exemplifica uma tentativa de resgatar a imagem do prefeito em um contexto positivo. No entanto, essa estratégia se mostra insuficiente diante da irremovível rejeição. A expectativa de que uma única iniciativa - como a abertura do Mercado de São Brás para a visitação pública - possa mudar a percepção do eleitor ignora a realidade de que as expectativas precisam ser alimentadas por ações concretas, resultados tangíveis e uma liderança que desperte esperança.

 

Tempo perdido

 

A tenaz e inócua luta do Psol para recuperar o prestígio perdido e fortalecer a imagem de Edmilson indica a urgência de um novo enfoque. Para que o Efeito Pigmalião possa ser recuperado, seria necessário que o prefeito e seu partido adotassem uma postura mais conectada às demandas da população e menos autoproclamatórias.

 

Isso implica não apenas ouvir verdadeiramente os cidadãos e fazer o mea-culpa, mas também propor soluções factíveis que atendam suas necessidades urgentes, reacendendo assim um ciclo positivo de expectativas e resultados.

 

Frustração e desencanto

 

A narrativa de Edmilson, que deveria ser uma história de esperança e transformação, se transforma em um relato de frustração e desencanto. A desconexão entre a visão idealizada de uma Belém perfeita - a “felizcidade” - e a realidade caótica enfrentada pelos cidadãos enfatiza a importância de cultivar expectativas realistas e de agir com base nelas.

 

O Efeito Pigmalião, aplicado ao contexto político, revela a necessidade de um alinhamento entre as aspirações dos líderes e as realidades da população. E isso não se faz de costas para a população, mas ouvindo-a. Sem essa conexão, o risco de um Efeito Golem se torna evidente, onde a crença em um futuro melhor se desmorona sob o peso das expectativas não correspondidas.

 

Crise de representação

 

Os desafios enfrentados por Edmilson e pelo Psol não são apenas questões locais; eles refletem uma crise mais ampla de representação política no Brasil. A insatisfação com a política tradicional, a falta de confiança em líderes e a busca por alternativas que se apresentam como mais eficazes têm levado os cidadãos a questionar a validade das promessas feitas pelo prefeito de plantão.

 

A gestão de Edmilson, que deveria ser uma resposta a essa demanda por mudança, acabou se tornando parte do problema, corroendo a confiança que os eleitores depositaram, uma vez mais, em seu governo.

 

O tempo corre velozmente em direção ao dia do voto. No horizonte, o cenário onde Edmilson e o Psol consigam reverter essa tendência parece o menos provável. A construção de um novo caminho, que não apenas reconheça as dificuldades enfrentadas, mas que também busque soluções práticas e viáveis, tinha um tempo de maturação que parece ter passado.

 

Sem a queda da rejeição estrutural de Edmilson, é impossível restaurar a confiança da população. O futuro de Belém parece ter bifurcado, traçando para a trajetória política de Edmilson um caminho diverso.

 

Éder Mauro, do PL, e Igor Normando, do MDB, ao que tudo indica, disputarão o segundo turno. Não se trata de mérito de nenhum deles, ambos insuficientes em carisma, experiência de gestão e projetos estruturantes. A um deles, é o que os números indicam, caberá transformar expectativas, não tão altas, em realidades tangíveis. A cidade perfeita não se tornará uma realidade, mesmo que haja uma mudança de paradigma, onde o diálogo, a ação e a conexão com a comunidade prevaleçam sobre a idealização.

 

Pigmalião e Golem

 

A história de Edmilson e do Psol à frente de Belém parece ter chegado ao capítulo final. E serve como um alerta sobre o poder das expectativas na política. O Efeito Pigmalião e o Efeito Golem não são apenas conceitos acadêmicos; eles são realidades que moldam o destino de líderes e governos. Portanto, para que governantes possam reverter quadros semelhantes e resgatar a confiança da população, a estratégia é agir com a mesma paixão que Pigmalião teve por sua obra, mas, acima de tudo, garantir que suas ações correspondam às expectativas que ele mesmo criou.

 

Somente assim será possível transformar o delírio de uma cidade perfeita em esboço de uma realidade possível e necessária na Belém do agora.

 

Papo Reto

 

· Para quem não entende bem a linguagem dos bancos, e principalmente de consultorias contratadas sem licitação, trata-se apenas de um ‘jeitinho’ infame criado para burlar as regras legais do jogo.

 

· Vem a ser a legitimação dos desmandos, no mais das vezes pilotados por “barnabés” que promovem aberrações como barrar, ‘de boca’, contratos de obras civis em curso e legalmente comprovadas.

 

· Daí que, como acontece em Belém, aparece a ‘verdadeira vencedora’ de uma “nova licitação” aqui e acolá, no caso, vinda de Manaus.

 

· A construtora amazonense, que ficou em 9º na disputa, viu serem desclassificadas oito concorrentes, ainda que em fase de conclusão de obras, quando não concluídas e entregues.

 

·  Tudo isso com o meu, o seu, o nosso dinheirinho, para pagamento de multas contratuais e outras penalidades.

 

·  Para não deixar de falar em flores: a Polícia Federal costuma chegar para o café da manhã bem cedo. Não sabe de nada, inocente!

 

·  A prefeita de Oeiras do Pará, Gilma Ribeiro (foto), do PP, não se conteve e foi para as redes sociais atacar o senador Zequinha Marinho e o deputado federal Júnior Ferrari, que, em recente visita à cidade, prometeram ajudar o candidato Jesus Nahum, do PSD, com emendas e recursos.

 

· Gilma saiu da linha e mandou o senador “honrar os votos que teve no município”, enquanto chamou Ferrari, a quem não cita o nome no vídeo, de "oportunista". Gilma tenta a reeleição, mas amarga uma rejeição superior a 40% e insiste em colocar - pelo que não fez - a culpa nos outros. Faz parte.


· Lombadas sem pintura alguma na rodovia Independência seguem oferecendo perigo iminente a motoristas menos avisados do perigo.

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