em sigilo de justiça, o pedido de
explicações do ministro Og Fernandes, do Superior Tribunal de Justiça (STJ), ao
desembargador do Pará, Pedro Sotero, relator do Procedimento
Investigatório Criminal contra o prefeito de Ananindeua, Daniel Santos, do
PSB, expôs alguns dos argumentos da defesa do prefeito.
O principal deles é o de que a
investigação, que partiu de uma denúncia anônima, foi ‘lastreada’
posteriormente no depoimento da atual presidente do Instituto de
Assistência do Servidor Público do Pará (Iasep), Josynélia Tavares Raiol.
Por uma grande coincidência, o depoimento foi prestado espontaneamente por ela
no dia 29 de abril, na mesma data em que foi deflagrada a operação de busca e
apreensão no Hospital Santa Maria de Ananindeua, autorizada em
primeiro grau.
A maior das coincidências no
depoimento de Josynélia Raiol, porém, é que ela se apresentou espontaneamente
ao Grupo de Atuação Especial no Combate ao Crime Organizado (Gaeco), do
Ministério Público do Pará, para depor, acompanhada do advogado Antônio
Reis Graim Neto, que ocupa cargo de chefe de gabinete no Tribunal de Contas do
Estado, o TCE.
Atividades incompatíveis
Para além das coincidências, este é
um fato que, avaliado por fonte jurídica da Coluna Olavo Dutra, a
própria defesa do prefeito pode usar a favor dele mais à frente, diante do fato
de as duas atividades serem incompatíveis, ao menos do ponto de vista ético.
“Nesse ponto, a questão não é contra
a competência do profissional como advogado, que deve ser bem alta, uma vez que
integrou o quadro de renomados escritórios de advocacia em Belém. A questão é fazer
parte de uma corte de contas que fiscaliza os atos do Poder Executivo estadual
e, ao mesmo tempo, advogar, ainda que não oficialmente, em uma situação de
aparente defesa de um servidor estadual, como é o caso da presidente do Iasep,
no contexto do depoimento”, explica a fonte.
A prova apresentada
Em um ponto da defesa, a peça já
levanta, por exemplo, que, ao comparecer ao Gaeco, Josynélia usou uma mensagem
do aplicativo WhatsApp para comprovar que o prefeito é o “sócio oculto” do
Hospital Santa Maria, mas a defesa argumenta que foi anexado ao depoimento um
simples print - ou cópia de tela - da mensagem, sem seguir
trâmites técnicos como, por exemplo, a prova de autenticidade.
Além disso, a defesa argumenta que,
ainda que fosse comprovado como autêntico, o conteúdo da mensagem, enviada após
o descredenciamento do hospital, não ligaria o prefeito aos supostos ilícitos
investigados e nos recortes de datas mencionadas no próprio depoimento de
Josynélia, que começa sua fala informando: ‘Atualmente, estou como presidente
do Instituto de Assistência dos Servidores do Estado (...) desde o dia 5 de
julho de 2023”.
Mensagem do prefeito
Na mensagem atribuída ao prefeito,
ele questiona Josynélia sobre a real necessidade de formalizar o
descredenciamento e causar toda a repercussão que foi. “Doutora, sei
que a senhora somente cumpre ordens, porém, sem necessidade sermos expostos a
isso. Poderia ter nos chamado e eu tinha suspendido o atendimento. Não
precisava de publicação em Diário Oficial...
Pra criar esta percussão toda”, diz a
mensagem, à qual Josynélia responde duas horas depois dizendo
apenas “Entendo, doutor”.
O argumento de defesa
A defesa de Daniel diz que usando
somente esse print como prova contra o prefeito, que trata de
uma conversa sobre uma publicação no Diário Oficial - “ ou seja,
cuida-se de mero ato de gestão do ‘paciente na qualidade de prefeito eleito de
Ananindeua” -, prossegue a defesa, alegando que a investigação do
Ministério Público “busca, claramente, em uma tentativa de subversão da
lógica processual, investigar uma pessoa específica, mas não fatos
eventualmente criminosos anteriormente noticiados”, conforme argumentam os
advogados do prefeito.
Eles citam ainda que, “no
estado democrático de direito não são permitidas as investigações em razões de
pessoas a serem escolhidas aleatoriamente. São os fatos que dão azo às
investigações, e devem ser definidos claramente, mas no espaço e no tempo”,
diz a peça de defesa.
Entenda a denúncia
Em 24 de fevereiro deste ano, uma
“denúncia anônima” de desvios de recursos no Iasep deu origem a uma
investigação pelo Gaego de que o prefeito de Ananindeua e um grupo de
pessoas ligadas a ele seriam responsáveis pelo suposto desvio de recursos
públicos que na investigação chegou ao valor de R$ 261,3 milhões.
A investigação criminal,
solicitada pelo procurador cível Armando Brasil, foi autorizada pelo
Procurador-Geral de Justiça do Pará, César Mattar, e resultou em mandado de
busca, apreensão, sequestro de bens e medidas cautelares ao Hospital Santa
Maria e ao grupo de servidores do Iasep, mas também fora dele, como Ed Wilson
Dias e Silva, que já ocupou cargos na administração da Prefeitura de
Ananindeua.
Revogação parcial
Pouco tempo depois, a investigação
foi colocada em segredo de justiça, sob relatoria do desembargador
Pedro Pinheiro Sotero, que, no último dia 17, precisou responder à
solicitação do ministro Og Fernandes, do STJ, e aproveitou o “furo” nas
próprias férias para revogar parcialmente as medidas cautelares contra os
demais investigados - Ed Wilson Dias e Silva, Geciara dos Santos Barbosa,
André Luiz de Miranda, Elton dos Anjos Brandão, Julia Conceição Monteiro,
Michelle Barroso Santos e Rosângela Medeiros de Sousa.
Assim decidiu o desembargador: “Seja
procedido o desbloqueio da conta-salário; seja mantido o bloqueio em conta
poupança dos requerentes, tão somente, sobre eventuais valores que excedam o
limite de 40 (quarenta) salários-mínimos; revogo a proibição de frequentar
Órgãos Públicos e acessar sistemas da administração pública; revogo a proibição
de manter contato com agentes públicos do Município de Ananindeua”.
O desembargador manteve a todos
apenas a proibição de frequentar as dependências do Hospital Santa Maria e do
Iasep, bem como de manter contato com funcionários e dirigentes das duas
instituições, salvo familiares.
Papo Reto
· O que se diz é que um
poderoso grupo imobiliário está adquirindo grandes áreas na região da Vila Que
Era e de Camutá, em Bragança, cidade do nordeste do Pará. O negócio cheira a
especulação.
· Essas áreas, aliás, são
sítios históricos e de preservação em Bragança, por tratar-se de um local onde
os portugueses inicialmente fundaram a cidade - mais tarde transferida
para a margem oposta.
· Os bragantinos veem a
situação com preocupação, imaginando uma possível intervenção dos órgãos
competentes, mas, na dúvida, deveriam se queixar ao bispo...
· O
chanceler Celso Amorim (foto) pisa em ovos na Venezuela, onde
o governo do presidente Lula adotou posição ‘cautelosa’ ante a notória
reeleição de Nicolás Maduro - é a chamada cautela conivente, isso sim.
· Nem a
Cosanpa, nem a concessionária de energia elétrica se dignaram a informar a
previsão do retorno de fornecimento de água aos moradores dos conjuntos
habitacionais Satélite, Orlando Lobato, Maguari, Residencial Ilha Porchat,
Mururé, Panorama 21 e comunidade Teixeirinha. Deve ter sido pela quantidade de
gente prejudicada.
· Afinal, o que estaria por
trás desse absurdo aumento de 12% nas internações causadas por infarto do
miocárdio - grupo de risco - no País, atestado por especialistas?
· Planta
nativa das regiões tropicais e subtropicais do Brasil, a palmeira bocaiúva,
macaíba, coco-babão ou coco-de-espinho virou aposta de R$ 15 bilhões de
investidores árabes para produzir diesel verde e combustível sustentável de
aviação em larga escala.