“Boi na linha” e falhas na licitação atravancam chegada de 300 ônibus prometidos para Belém

Previsões “furadas” estimulam suposições de interferência políticas na licitação, instrumento em que a prefeitura sempre erra, como no caso do lixo e outros.

Por Olavo Dutra | Colaboradores

14/07/2024 08:00
“Boi na linha” e falhas na licitação atravancam chegada de 300 ônibus prometidos para Belém
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o último dia 26 de junho, a Prefeitura de Belém apresentaria, com quatro meses de atraso, a tão esperada nova frota de 300 ônibus de Belém, equipados com ar-condicionado e internet wi-fi para os usuários, anunciados com pompa e circunstância ano passado, em um evento que reuniu o prefeito Edmilson Rodrigues, o governador Helder Barbalho e o presidente do Sindicato das Empresas, o Setransbel, Paulo Gomes.


Prefeito de Belém repete gesto de Duciomar Costa ao volante de um dos ônibus de apresentação; e mais não veio/Fotos: Divulgação-Agência Pará

 Juntos, os três ergueram o braço da parceria que até então existia, contando que as isenções de impostos tanto do município, quanto do Estado seriam a garantia para que os empresários de ônibus fizessem investimento de R$ 250 milhões na compra de novos e modernos equipamentos.

 

Comeram abio

 

No dia marcado para a apresentação dos ônibus, em junho, uma nota seca da Prefeitura de Belém informou que a apresentação da nova frota foi adiada devido a “ajustes técnicos”, sem indicar nova data que, posteriormente, informou ser agosto.

 

Como, desde então, a prefeitura não diz mais nada, a Coluna Olavo Dutra está atrás do assunto. E tudo indica que não será em agosto, o mês, mas a gosto, e ainda não se sabe de quem. Fonte da coluna garante que o imbróglio está no Tribunal de Contas dos Municípios, o TCM, que já estaria na segunda análise do processo de compra dos ônibus e, nesse segundo momento, a análise estaria por conta da novíssima conselheira Ann Pontes, mulher do ex-chefe da Casa Civil Parsifal Pontes, ambas pessoas altamente alinhadas com o governador.

 

Parceria em alta

 

Citar o governador vem ao caso porque, antes de se evaporar a parceria com o prefeito Edmilson Rodrigues, Helder fez um discurso entusiasmado no anúncio da aquisição dos 300 ônibus.

 

“No prazo de uma semana o Setransbel assina a compra. A partir daí se inicia o prazo de fabricação dessas unidades e, em janeiro, a entrega de chassis para as montadoras. Dentro de 120 dias esses ônibus serão entregues. Serão linhas urbanas, que dialogam na capital e nas linhas troncais que vêm de Ananindeua e Marituba", explicou o governador Helder Barbalho no evento do dia 10 de outubro passado, no Palácio Antônio Lemos, sede da prefeitura, onde nunca mais botou os pés.

 

Naquele momento ficava clara a união de interesses em torno da melhoria da frota que, claro, vai ajudar a sofrida população que usa o transporte público de Belém, mas também tinha o objetivo de preparar melhor a cidade para a COP30.

 

Convenhamos, ter somente a atual e sucateada frota no momento do evento será, no mínimo, passar vergonha, já que a agora chamada COP da Floresta não será feita apenas de chefes de Estado sendo transportados em carros blindados, mas também dos núcleos de participação popular que necessitam do transporte público.

 

Parceria em baixa

 

À época do anúncio da aquisição dos ônibus, os bastidores já ferviam, e previam, sobre o desgaste da relação entre o prefeito Edmilson e o governador Helder Barbalho, que sempre fez questão de ser o nome por trás, ou à frente, da realização da COP30 em Belém. No pedido feito ao presidente Lula para candidatar Belém, Helder deixou Edmilson politicamente de fora. Na confirmação de Lula sobre a escolha de Belém, não foi diferente.

 

De tanto se comportar como um secretário de Helder, à frente de uma “secretaria” chamada administração de Belém, Edmilson acabou isolado em sua alta rejeição popular.

 

Encomenda grande

 

A grande questão é que 300 ônibus não são três e, portanto, são uma encomenda que não se produz de uma hora para a outra. Mas três é o número que a Coluna Olavo Dutra apurou que chegou a Belém. E que esses três ônibus que estão a postos agora para fotos e vídeos ainda nem seriam as versões “Euro 6” encomendados, mas veículos de propriedade da empresa responsável pela montagem, que os teria enviado da fábrica, no Distrito Industrial de Botucatu, em São Paulo, para a apresentação, que foi marcada para o mês de junho, e depois adiada pelas não tão bem ditas nem explicadas “questões técnicas”.

 

E dentro de um desses veículos de ‘apresentação ao distinto público’, o prefeito Edmilson Rodrigues repetiu um gesto triunfal do então prefeito Duciomar Costa relacionado aos ônibus do BRT: posou para fotos ao volante, alegre e satisfeito.

 

Produção embaçada

 

Sabe-se, agora, que, de fato, a produção dos veículos, se não engatou, estacionou diante de mais um ‘boi na linha’ - a segunda esticada pelo Tribunal de Contas do Municípios graças a uma denúncia inicial formulada por uma empresa concorrente. A cautelar, então assinada pelo conselheiro substituto Sérgio Dantas, determinou correções no edital de compra, que a prefeitura atendeu.

 

Para boi dormir

 

Nesse meio tempo, Ann Pontes assumiu a vaga do conselheiro Sérgio Leão, que se aposentou, e os processos correspondentes - até que, na observância da primeira cautelar, surgiram outras correções, razão da cautelar em curso. As suspeitas - que não são poucas - de que o novo imbróglio atende a interesses do governador Helder Barbalho seriam, pois, apenas suspeitas. Não será novidade para a coluna, portanto, se a conselheira Ann Pontes sinalizar positivamente, esta semana, em favor do processo.  

 

A informação segundo a qual o Detran também teria botado seu ‘boi na linha’ dos ônibus também não procede. Na verdade, até agora o órgão não recebeu qualquer solicitação de legalização dos veículos - e nem poderia negar a medida. A verdade é que não se pode legalizar o que não existe, no caso, os 300 ônibus.

 

Papo Reto

 

·  Portaria do comandante-geral da Polícia Militar do Pará, coronel Dilson Júnior, nomeou novos membros efetivos do Alto Comando, que vão decidir com status de instância superior da PM.

 

· Foram nomeados, segundo o Diário Oficial, os coronéis Guaraci Paranhos, Rodrigo Aleixo e Leonardo Franco, todos bastante - ponha bastante nisso - conhecidos dentro e fora da caserna.  

 

· Não foi desfeita, mas agenda. Romulo Maiorana Júnior (foto) não participou da entrega do contrato de cessão do antigo prédio da Receita Federal à Roma Incorporadora e o fato gerou burburinho na cidade.

 

· Na verdade, o ato de assinatura seria no dia 14 de junho, mas foi modificado porque a data não combinava com a agenda do vice-Presidente do Tivoli.

 

·  Transferida para julho, a data coincidiu com a viagem de Romulo para os Estados Unidos, para assistir à Copa América e ficou com parte da família.

 

· O desencontro era do conhecimento do governador Helder Barbalho, que entregou o documento a Giovanni Maiorana, representando o pai, e hoje é o contato da família com o governo. 

 

·  Empresários do setor hoteleiro de Belém estão, como se diz, com uma ponta de inveja dos investimentos do Estado para construção de hotéis visando a COP30. Eles estão em campo há anos sem tanta ajuda.

 

· Como sabem que se trata de investimentos de muitos milhões em um setor que só tem grande movimento durante o Círio, fica a pergunta: “E nós?”

 

· A Unimed Belém encaminhou e-mail oficial aos segurados informando que não envia mensagens de celular e muito menos faz ligações de cobranças de exames de planos coparticipativos. O golpe está aí - cai quem quer, ou quem não é avisado.

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