Rompimento anunciado entre governador e prefeito de Belém tem desfecho oficial; não por falta de aviso.

Bem que a coluna antecipou: Helder Barbalho filiou, lançou e confirmou o primo Igor Normando como candidato do MDB, com críticas ao alcaide.

Por Olavo Dutra | Colaboradores

16/03/2024 14:00

Foi como quem diz “te dei tudo, nada recebi em troca” que o governador cobrou do prefeito Edmilson Rodrigues; só faltou o “tchau, querido...”/Fotos: Divulgação-Redes Sociais.


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u quero anunciar aqui que o Igor será candidato a prefeito de Belém para que possamos colocar a capital na mesma sintonia do Estado do Pará. O Estado está voando e Belém ficando para trás; não é possível".

 

Do governador Helder Barbalho, ontem, em ato quase solene, antes de erguer o braço direito do deputado licenciado, secretário de Estado e primo, Igor Normando, como o ungido. Entre os presentes, poucos se deram conta da ausência de um certo doutor, prefeito no segundo maior colégio eleitoral do Estado, que também sinaliza um “divisor de águas”.

 

O certo é que, na capital do Pará, agora, é oficial: o divórcio entre o governador Helder Barbalho e o prefeito de Belém, Edmilson Rodrigues, anunciado com sinais claros e muita pancada por parte de todos os veículos de comunicação da família Barbalho foi documentado.

 

O vice não foi anunciado. Fontes garantem que será um prêmio de consolação ao PT, para manter a aliança com o presidente Lula, mas essas mesmas fontes garantem que não será alguém de Lula, já que a turma do presidente apoia Edmilson Rodrigues. Resta apenas a banda do PT do senador Beto Faro, um capítulo à parte, fiel às decisões de Helder.

 

O anúncio do governador foi feito com pompa e circunstância, durante evento de filiação na Assembleia Legislativa. Na ocasião, Helder filiou ao MDB o primo Igor e, ainda, os deputados estaduais Renato Oliveira e Torrinho Torres, além de um bom número de prefeitos e vereadores, incluindo Roni Gás, vereador cassado de Belém, que deixa o Solidariedade (antigo Prós), após o voto da ministra Cármen Lúcia, do TSE, favorável à cassação do mandato dele por fraude na cota de gênero, decisão que também atingiu outros nomes.

 

Helder comemorou as filiações no evento, que reuniu de início um bom número de pessoas e uma estrutura que ocupou a frente do prédio da Assembleia e três outros espaços, já que o auditório João Batista, escolhido para o evento, não comportava a militância.

 

Pela demora da chegada do governador, que, antes, foi à Santa Isabel do Pará, as portas do auditório foram fechadas devido à lotação - por militantes do baixo clero levados em ônibus - e só foram abertas no início do evento por ordem do deputado Chicão Melo, presidente da Casa, que estava devidamente ao lado de Helder, junto com a vice-governadora, Hana Ghassan, a deputada federal Elcione Barbalho, o deputado federal Antônio Doido e os estaduais Iran Lima e Cilene Couto.

 

Ausências que gritam

 

Diante de poucas presenças de dirigentes da cúpula do MDB, as ausências foram naturalmente notadas. A do ministro Jader Filho foi justificada por uma agenda com o presidente Lula, mas Jader Filho fez questão de gravar um vídeo e enviar para o evento.

 

Já as ausências do presidente municipal do partido, o deputado federal José Priante, do presidente da Câmara de Belém, vereador John Wayne; e do deputado estadual Zeca Pirão, que lidera as pesquisas como candidato a prefeito, gritaram o descontentamento com a escolha de Igor Normando, que, diferente do que Helder chegou a ventilar, não foi pautada em pesquisas - Normando pontua entre os fonas. Nos bastidores, a conclusão é de que o governador agiu com o “autoritarismo habitual”: escolheu esse primo ao outro por preferência pessoal.

 

Estrutura de campanha

 

A organização do evento pelo partido teve custos, mas ainda não se sabe de quem. Foram feitas cerca de mil camisas azuis com os nomes de Helder, Hana e Igor, este último já em destaque com uma espécie de logomarca, que também estava em adesivos graúdos e nos telões espalhados pelo prédio. O evento envolveu ainda um carro-som na frente da Assembleia, que acabou interditando o tráfego.

 

A coluna, naturalmente, ligou para aquela fonte jurídica que, embora diga que tais eventos possam ser feitos, da forma como este foi anunciado nas redes sociais, e pela proporção que tomou, e por envolver o partido do governador, que detém o poder político e econômico, não custava nada a Justiça Eleitoral dar uma passadinha no local para averiguar possíveis abusos do poder econômico.

 

Por outro lado, como às vezes a Justiça Eleitoral tem sono pesado, a fonte da coluna diz que os demais pré-candidatos a prefeito precisam ficar de olho nessas situações, em que a gravação de imagens já ajudaria em recurso legal para que a Justiça atue e impeça os abusos de quem quer que tenha pago a conta da estrutura do evento.

 

Homem ‘dois em um’

 

Todos falaram, como é praxe nos eventos. Hana sem dizer muito e Igor com discurso ensaiado, mostrando o “lado família” e, por pouco não fez o choro de saudade da família que Helder Barbalho também usou na recente campanha. A melhor fala de Igor foi repetir a plenos pulmões que não é mais possível para Helder exercer a função de "dois em um": a de prefeito de Belém e governador do Pará. E seguiu sua fala vira e mexe reiterando, sob muitos aplausos, que Helder Barbalho tem sido o verdadeiro prefeito de Belém, mas completou falando mal do atual gestor, sem citar o nome do Edmilson Rodrigues, o que ficou para a plateia, com coro de “Igor prefeito” e “fora potoca”.

 

Mais de 100 dos 144

 

Mas foi a fala de Helder que, sem dúvida, disse mais. Afinal, ele é quem manda e faz as contas. Com as filiações de sexta-feira, o partido já passa de 100 dos 144 prefeitos do Pará - e 100 é o número que Helder está determinado a eleger no pleito municipal deste ano.

 

Com isso, ele garantiu que o partido está preparado e restaurado para participar do que chama de “transformação” na próxima eleição, e deu esse crédito aos mais de 100 mil servidores públicos que “atuam diuturnamente trabalhando pelo Estado”. Também não poupou elogios à vice-governadora Hana. “Quero agradecer sua colaboração, contribuindo com sua competência de gestora preparada, de servidora pública que deixou um legado da excelência no serviço público”, bradou.

 

Elogios ao primo

 

E, claro, para não fugir da finalidade do evento, que é fazer o prefeito de Belém, o governador também rasgou elogios ao primo Igor Normando, agora oficialmente o candidato da corrente “pet” do MDB, onde Normando, à frente da Secretaria de Articulação da Cidadania, administra as Usinas da Paz construídas pela mineradora Vale, também leva toda semana seu grande ônibus-consultório de animais para a Praça da República, no centro da cidade de Belém, em ação contínua pela simpática causa animal, defendida pelo candidato também na vida que ele exibe nas redes sociais.

 

Helder falou da alegria pessoal de ver Igor Normando de volta ao MDB, e repetiu a fala de Igor de que, anos atrás, estava no mesmo lugar, o auditório João Batista, exatamente no dia 15 de março, com Igor tomando posse como presidente estadual da juventude do MDB. Helder passou boa parte do discurso lembrando da trajetória política de Igor e das agremiações por onde ele passou, nas quais todas as movimentações do xadrez foram lideradas por Helder.

 

Fala nada mansa

 

Helder também deu uma boa cutucada em quem não se reelegeu ou, visualmente, não tem chance, como é o caso do prefeito de Belém, Edmilson Rodrigues, segundo as pesquisas. “Eleger é fácil, reeleger é avaliação da população sobre o trabalho. Político que não consegue se reeleger é reprovação da população pelo trabalho não feito”, disse Helder.

 

E, como esperado, disse que não entregaria o programa das “Usinas da Paz” nas mãos de quem não tivesse confiança. Por isso chamou Igor para ser secretário, “por saber de sua lealdade”.

 

Papo Reto

 

O governador Helder Barbalho tem um novo marqueteiro, que veio para suprir a ausência de Edson Campos, que faleceu bruscamente.

 

Trata-se do argentino Diego Brandy (foto), a quem os próximos chamam de “El mago”. Sociólogo, amigo e ex-companheiro de campanhas de Duda Mendonça, “El mago” é especialista em análise de pesquisas de opinião. A ele se atribuem as duas eleições de Ronaldo Casagrande

 

Também é o marqueteiro da família Campos Arraes, em Pernambuco, tendo acompanhado a trajetória de Eduardo Campos e, agora, do filho dele, João Henrique Campos, prefeito de Recife, cidade aliás onde o argentino reside na atualidade.

 

O presidente do Sistema Fiepa, Alex Carvalho, participou, ontem, do Fórum "Transição Justa e Segurança Energética", promovido pela Petrobras, em parceria com o Consórcio Amazônia Legal e o governo do Maranhão, em São Luís.

 

As palestras foram relativas à exploração da Margem Equatorial Brasileira e às oportunidades que as novas fronteiras de óleo e gás poderão proporcionar para a autossuficiência, segurança e soberania energética nacional.

 

O evento contou com as participações do presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, além de governadores do Pará e região.

 

Para Jean Paul Prates, a proximidade da COP30 é propícia para se discutir transição energética sob a perspectiva da Amazônia.

 

A deputada Renilce Nicodemos esteve com o ministro dos Esportes, André Fufuca, e cometeu, por assim dizer, um ato falho: presenteou Fufuca com uma camisa do Remo, quando deveria fazê-lo com uma camisa do Águia. A opinião é de um torcedor de Marabá.


Aliás, ao derrotar o Maringá, no Paraná, e passar de fase na Copa do Brasil - ao contrário do Paysandu -, o Amazonas demonstra estar melhor preparado para a guerra da Segundona nacional.

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