Proposta de criação de CPI para investigar crimes contra crianças no Marajó deve morrer no nascedouro

Deputada do MDB, "ribeirinha e representante" do Marajó, Andréia Xarão quer provas de que a Comissão irá "resolver o problema na região e em todo o Pará" para tomar posição.

06/03/2024 08:00

Sob controle do governo, maioria dos 41 deputados se faz de desentendida sobre a crise que assola o Marajó, inclusive os representantes da região/Fotos: Divulgação-Redes Sociais.


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rotocolado pelo deputado Toni Cunha, do PL, na Assembleia Legislativa, o pedido de instauração de Comissão Parlamentar de Inquérito para investigar os casos de violência, exploração e abuso sexual de crianças e adolescentes na Ilha do Marajó encontra resistência e, como esperado, não deve vingar. 

 

O fato ganhou notoriedade após a cantora Aymeê relatar a situação durante sua participação no programa de televisão religioso "Dom Reality”, no dia 16 de fevereiro. Apesar da mobilização nacional, com famosos aderindo à causa e postando sobre o assunto em redes sociais, a maioria dos deputados do Pará não deve acatar a ideia de criação da CPI.

 

Até a última segunda-feira 4, apenas nove dos 41 deputados haviam assinado o protocolo. O detalhe foi a situação em que o deputado Josué Paiva foi o protagonista: inicialmente, o parlamentar do Republicanos assinou, mas, horas depois, encaminhou um ofício ao relator Toni Cunha solicitando a retirada da assinatura. No documento, Josué afirma que o seu partido “decidiu participar de outro pedido da matéria”.    

 

Deputada ‘pensa grande’

 

Ontem, ganhou destaque o vídeo que circula nas redes sociais mostrando a deputada Andréia Xarão, do MDB, eleita na condição de “filha e ribeirinha do Marajó” - ela é mulher do prefeito Xarão Leão, de Breves -, falando sobre seu posicionamento quanto à instalação da Comissão. A resposta da representante do Marajó na Assembleia Legislativa é uma pérola irretocável: “Se você me provar que uma CPI vai resolver o problema do Marajó e de todo o Estado, pode ter certeza que eu repenso.”

 

Pensa grande a deputada Andréia Xarão. Segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, o Estado registra taxa de 3.648 casos dessa natureza, ficando acima da média nacional, com 2.449 casos. Somente em 2022, foram registrados 550 casos de crimes sexuais contra crianças e adolescentes no Marajó - um grão de areia no continente chamado Pará.

 

Governo tem o controle

 

Os deputados que se manifestarem a favor da instauração da CPI foram Rogério Barra (PL), Toni Cunha (PL), Neil (PL), Wescley Tomaz (Avante), Thiago Araújo (Cidadania), Aveilton Souza (PSD), Bob Fllay (PRD), Erick Monteiro (PSDB) e Fábio Figueiras (PSB). A Assembleia Legislativa tem uma ampla bancada de apoio ao governador Helder Barbalho. 

 

A indicação negativa da Assembleia Legislativa é um contraponto à movimentação do Congresso Nacional e do Senado Federal. No Congresso, o pedido de CPI para investir as denúncias de pedofilia na Ilha de Marajó já conta com quase 100 assinaturas. Para que o pedido seja formalizado, são necessárias, no mínimo, 171 assinaturas.

 

Santo de casa não faz...

 

No Senado, Magno Malta (PL-ES), em pronunciamento no Plenário, também destacou as denúncias sobre supostos abusos contra crianças na Ilha de Marajó e sugeriu a instalação de uma nova CPI para apurar a situação. Tanto no Congresso, quanto no Senado, o assunto deve ser retomado durante a semana. 

 

"As denúncias de tráfico de pessoas, pedofilia e outros crimes deploráveis são sérias. O irônico dessa situação é que o Brasil, por meio do Congresso, deve formalizar a CPI para investigar os casos e aqui do Pará, diante da negligência de deputados da base de apoio do governo, há um comportamento de descaso e irresponsabilidade. Nós continuaremos denunciando os casos e observando os problemas do poder público, que não consegue atender dignamente a população da Ilha do Marajó", declarou o deputado Rogério Barra, líder do Partido Liberal.

 

Servidores da Emater
 anunciam paralisação no
 próximo dia 11 para
 cobrar acordo salarial

 

 O Sindicato dos Trabalhadores do Setor Público Agropecuário e Fundiário do Pará, que representa os servidores da Emater, anunciou a paralisação das atividades nos 144 escritórios no Estado a partir do próximo dia 11. O Sindicato alega que “a direção da empresa enganou os trabalhadores e não cumpriu o acordo de pagamento das ações judiciais do dissídio, assim como não deu celeridade ao acordo de trabalho - ACT 23/24. 

 

A empresa é gerida pelo pastor da Assembleia de Deus Joniel Abreu que, segundo denunciam servidores, raramente aparece no escritório central em Marituba para trabalhar. “É um descaso:  a Emater virou um órgão renegado no Estado.”. 

 

O cenário de terra arrasada na empresa de assistência técnica e extensão rural também passa pelas péssimas condições de trabalho - espaços insalubres -, impressoras sem toner desde o ano passado, além do pessoal de campo, que está praticamente à míngua, por falta de meios para trabalhar. 

 

Pedido de prisão

 

Recentemente, a coluna denunciou supostos casos de assédio moral vindos da atual chefe de gabinete da presidência que, segundo os mesmos servidores, tem parentesco com o deputado estadual Ronie Silva, além de ser mulher do diretor administrativo. A paralisação, segundo o Sindicato, será uma

 prévia para forçar o presidente da empresa a cumprir o acordo, sob o risco de virar alvo de um pedido de prisão.

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