Com R$ 12 milhões na conta da propaganda, prefeito de Belém começa ano novo com uma "potoca épica"

A menos de dez dias de completar 408 anos de fundação, Belém é um lixão a céu aberto e a promessa do prefeito Edmilson Rodrigues de abrir o ano novo com uma “revolução contra o lixo” não passa de uma promessa, até agora.

03/01/2024 12:00

Vídeo e fotos encaminhados como denúncia ao canal da campanha “Belém: quem te ama, cuida!” foram acessados e visualizados por mais de 100 mil pessoas, mas, nas ruas ou em casa, 1,3 milhão de habitantes querem a cidade de volta/Fotos: Divulgação-Redes Soci


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tamanho da promessa do prefeito Edmilson Rodrigues - “vamos iniciar 2024 fazendo uma revolução na limpeza urbana e no bem-estar ambiental” de Belém - equivale à quantidade de lixo despejada nas ruas da cidade nos últimos meses, o que, para a população, é o mesmo tamanho de uma potoca épica.

 

Afinal, como fazer uma “revolução” em 12 dias - presumindo-se que, no mínimo, a ideia é “limpar a cidade” para um grande aniversário - se o dever de casa está relegado ao abandono há seis meses ou mais, sem “carrinho de lixo”, sem material de limpeza e nem vassoura de piaçava? Parece hipocrisia; e é.



 

Colisão com a cidade

 

A verdade é que a gestão Edmilson Rodrigues colidiu violentamente com a população, a que tem se manifestado em protestos nos bairros desde a primeira hora do ano novo - e promete mais ações -, e aquela que fica em casa esperando pelo que vai acontecer e resultados que lhe sejam favoráveis. Ambas são afetadas pelo descaso na limpeza pública, as duas, vítimas de um direito constitucional e, em casos mais agudos, como ocorre na periferia, do direito de ir e vir. É muito lixo.

 

Todos são responsáveis

 

Nem a Prefeitura de Belém, através da pasta encarregada de evitar a sujeira - a Secretaria de Saneamento -, nem as empresas coletoras e muito menos os catadores de lixo têm noção do volume de material que abarrota as ruas da cidade. A população tem, porque vive o problema na pele, todo santo dia.

 

Então, que providências caberiam contra os gestores, contra o Ministério Público, contra o Tribunal de Contas dos Município e contra a própria Justiça? Nenhuma, uma vez que o cidadão está abaixo desses mecanismos na pirâmide. Tudo dominado?    



 

“Revolução” sem armas

 

Com o anúncio do prefeito Edmilson de que Belém sofreria uma “revolução” contra a crise do lixo, a partir do primeiro dia útil do ano, a vereadora Sílvia Letícia, do Psol, foi a campo, armada com a campanha “Belém: quem te ama, cuida!”, e a ajuda de sua equipe, de sindicatos e de associações de servidores. A resposta, risível, aparece em fotos e vídeos produzidos em diversos bairros, além de material encaminhado ao canal de denúncias da campanha. O que se viu: uma caçamba aqui, outra acolá e pouquíssimos trabalhadores contra um exército de lixo, lembrando mais uma piada do que uma promessa de “revolução contra o lixo”. Um horror ao qual a cidade não se rende. Vídeos sobre a campanha postados nas redes sociais da vereadora já foram acessados e visualizados por mais de 100 mil pessoas.

 

"A campanha prevê levar aos órgãos de fiscalização, não somente o Poder Legislativo, mas o TCM e o Ministério Público a situação desesperadora em que vive a população que, em algumas ruas, sobretudo na periferia, tem seu direito constitucional de ir e vir lesado e, em alguns casos, sequer consegue sair de sua casa”, aponta a parlamentar.

 

Para Sílvia Letícia, “a situação é de silêncio total da secretária de Saneamento, Ivanise Gasparim, que parece não se dar conta de que Belém está se transformando em um aterro sanitário a céu aberto e ninguém é responsabilizado”.

 

Preço da potoca

 

De qualquer modo, apeado do pedestal que, dizem, construiu em duas gestões anteriores, o prefeito Edmilson Rodrigues faz bom uso da dinheirama subtraída do orçamento municipal para propaganda. Com R$ 12 milhões disponíveis, é fácil prometer fazer hoje o que não fez no verão passado.




 

Papo Reto

 

A gastança do delegado Éder Mauro (foto), do PL, com aluguel de carros e fretamento de embarcações - nada menos do que R$ 244 mil -, tudo devidamente ressarcido pelo "cotão" da Câmara em 2023, repercutiu na mídia nacional.

 

Aliás, dizem que os sonhos de consumo do delegado e o do governador estão "muito longe" de serem os mesmos: Helder almeja um Antônio Lemos para chamar de seu; já Eder Mauro não suporta a ideia de lidar com a "herança maldita que Edmilson vai deixar", sonhando mesmo, dia e noite, é ganhar mandato de senador.

 

Afinal, quem vai entrar nesse festivo “baile do lixo” em Belém, além de uns poucos vereadores: MP, Tribunal de Contas, Tribunal de Justiça?

 

Como sofrem os clientes do Banpará: ontem, segundo dia do ano, o sistema online do banco travou, ficando fora de operação a perder de vista - e da paciência dos correntistas.

 

Quem passou réveillon em um condomínio de luxo em Benevides voltou reclamando do estado das ruas da cidade, todas esburacadas.

 

Vale até anotar para não esquecer: os períodos de 12 a 17 deste mês, 10 a 15 de fevereiro e 11 a 16 de março estão consagrados ao "defeso" do caranguejo-uçá em todos os manguezais do Pará.

 

Ibama e ICMBio avisam que serão implacáveis contra quem, nesses períodos, insistir em capturar, transportar, beneficiar, industrializar, armazenar e vender caranguejo ou suas partes.

 

Os produtores de soja do Pará ganharam mais 20 dias de prazo no calendário oficial do Ministério da Agricultura para semeadura da safra 23-24. A prorrogação inclui todas as regiões produtoras no Pará.

 

A Câmara Federal anuncia a compra de mais de 80 colchões para os apartamentos funcionais de suas excelências os deputados. O risco é de que os parlamentares sejam chamados de “come-dorme”.

 

O ministro Haddad parece mal acostumado. Emburrado com a posição de alguns setores da Câmara contra projetos de interesse do Planalto, Haddad promete “recorrer ao STF”, onde o guarda-chuva é garantido.

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