ravidez
não é doença, de fato, do ponto de vista clínico, mas é sem dúvida uma condição
especial para todas as mulheres. No caso das advogadas, trata-se de uma
condição legalmente assegurada como especial nas prerrogativas da mulher
advogada - Lei Federal 8.906/94 - claramente violadas na fala do desembargador
Georgenor Franco Filho, presidente da 4ª Turma do Tribunal Regional do Trabalho
da 8ª Região: “Gravidez não é doença, adquire-se por gosto”, que, além de toda
a indignação de diversos órgãos, ontem, provocou hoje a reação do Conselho
Nacional de Justiça, o CNJ.
Nas
primeiras horas da manhã, o corregedor nacional de Justiça, ministro Luís
Felipe Salomão, determinou a instauração de Reclamação Disciplinar com
intimação do desembargador Georgenor Franco Filho, já que sua fala pode também,
em princípio, ter violado deveres da magistratura. Em março deste ano, o CNJ
aprovou a Resolução 492, com a adoção da perspectiva de gênero nos julgamentos
dos órgãos do Poder Judiciário, que passou a ser imperativa, mudando o que
antes era apenas uma recomendação.
Na
determinação, o ministro diz ainda que poderá haver inclusão do procedimento na
pauta do Plenário do CNJ para deliberação sobre a instauração, ou não, de
Processo Administrativo Disciplinar, em sessão de julgamento cuja data ainda
será divulgada.
A
fala de Georgenor, citando o ex-governador do Pará Magalhães Barata, foi feita
em tom de desdém à gravidez da advogada Suzane Teixeira Guimarães e, ao mesmo
tempo, usada para pressionar outra mulher, a desembargadora Sulamir Palmeira
Monassa, que naquele momento deferia o pedido de adiamento feito por Suzane
para o julgamento do processo no qual ela faria sustentação oral mas, diante da
pressão, indeferiu o pedido.
Gravada,
a sessão logo ganhou não só as redes sociais, mas a indignação geral das
mulheres, em especial das advogadas, e de todas as pessoas de bom senso, já que
no momento da sessão foi informado ao desembargador que a advogada já nem se
encontrava mais em situação “gravídica”, mas em condição puérpera, ou seja, com
o bebê recém-nascido. Pouco depois, apurou-se que o bebê de Suzane nasceu no
último dia 6.
OAB promete medidas
Órgãos
com a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-PA), presidida por Eduardo Imbiriba, e
o Instituto Silvio Meira, presidida por André Augusto Malcher Meira, única
instituição jurídica no Pará a outorgar o “Prêmio Myrthes Gomes de Campos” à
mulher advogada paraense, repudiaram de forma veemente as palavras do
desembargador federal do trabalho. O presidente da OAB também gravou um vídeo
afirmando que, embora preze pelas boas relações institucionais, além de assinar
a nota de repúdio, ele e todos os representantes das comissões pertinentes da
Ordem foram pessoalmente até o desembargador registrar esse repúdio. E disse,
enfático, que “a OAB não vive de notas, mas de medidas sérias”, que serão
tomadas também neste caso.
Machismo na veia e na Corte
A
advogada Kelly Garcia, representante no Pará do movimento nacional comandado
pela Ong “Paridade de Verdade”, que busca a paridade de gênero nas carreiras
jurídicas em geral, avaliou que o grande problema não foi isoladamente só a
fala grosseira do desembargador, que “por si só é grave por faltar com o
respeito às prerrogativas da mulher advogada”, mas também pela clara pressão
que ele fez ali a outra mulher, a desembargadora Sulamir, relatora do processo.
“Foi
tão sério que ele fez a desembargadora mudar, ela deferiu o pedido de adiamento
da advogada porque até então, para ela, a informação era da iminência de entrar
em trabalho de parto, mas, pela pressão exercida pelo desembargador ali na
hora, ela acabou recuando e negando o provimento”, afirma Kelly, que também
levou sua indignação às redes sociais em vídeo.
Ela
diz que a luta no movimento por paridade é árdua, mas que neste caso o problema
não foi falta de paridade. “É fato que ainda somos poucas, mas o problema no
Pará não é a falta de mulheres no Judiciário, é o machismo. Aliás, você viu que
a relatora era uma desembargadora, porém, viu também que ela já havia decidido
e a pressão do desembargador a fez recuar. Então, ela foi intimidada, e
infelizmente isso ocorre não só no âmbito do Judiciário no Pará, mas na
política, no serviço público em geral e no exercício da maioria das
profissões”, afirma Kelly.
Kelly
vai além, e diz que o TRT-8 precisa fazer muito mais do que um singelo pedido
de desculpas, que por sinal só saiu do desembargador depois da pressão das
redes e da própria OAB. “Eles (membros da Corte) têm que se comprometer com
medidas efetivas e o respeito às nossas prerrogativas, pois o exercício da
nossa profissão é garantia constitucional. É preciso adotar medidas efetivas
para que tais condutas sejam coibidas e exemplarmente punidas”, afirma Kelly
Garcia.
Pedido de desculpas
À
noite, depois da visita do presidente da OAB, veio o pedido de desculpas do
desembargador Georgenor de Sousa Franco Filho. Ele começa o texto dizendo que
foi “surpreendido após o final da sessão, com a repercussão na imprensa e redes
sociais sobre sua intervenção” durante a sessão de ontem. Mas disse que,
“revendo novamente a filmagem, verifiquei que minha manifestação foi
profundamente indelicada e infeliz, e gostaria de oferecer minhas mais sinceras
desculpas não somente à Dra. Suzane Odane Teixeira Guimarães, mas a todas as
senhoras advogadas que tenham se sentido ofendidas com minhas palavras”, diz o
pedido.
Ele ressaltou ainda o ato de reconhecer seu erro. “Em mais de 40 anos de magistratura e com a dedicação de outros mais de 40 anos também ao magistério superior, impossível não cometer erros, mas imprescindível reconhecê-los para podermos seguir a eterna estrada do aprendizado. Até mesmo em respeito às mulheres de minha vida - minha falecida mãe, minha mulher, minha filha, minha nora e minha neta -, lamento profunda e sinceramente pelo ocorrido e reitero meu respeito a todas as mulheres profissionais que não medem esforços a cumprir com a difícil missão de observarem suas jornadas múltiplas. Quem me conhece minimamente sabe que sou fervoroso e permanente defensor da mulher e seus direitos”, disse ele, que finalizou o pedido reiterando nominalmente as desculpas à advogada Suzane Teixeira e até a todos os leitores do pedido de desculpas.
Papo Reto
Ninguém duvida das
boas intenções do governador Helder Barbalho (foto) para com a
piscicultura paraense - que, por sinal, ganhou decreto regulatório - mas,
delegar poderes para alteração das normas, tema eminentemente
ambiental, para um órgão de fomento, a Sedap, prova a incompetência de quem lhe
assessora e o induziu ao erro.
Padre Ronaldo
Menezes, da Paróquia São Geraldo de Magela, no Conjunto Marex, em Belém, usou o
texto da coluna - “Círio selvagem” -, de ontem, para trabalhar sua homilia em
missão, como sempre, bastante concorrida.
O abastecimento de
água no Conjunto Satélite, faz tempo, precarizou tanto que, no momento, parece,
colapsou.
São constantes as
interrupções, às vezes por horas, ou semanas. Faz mais de ano que essa anarquia
acontece.
As desculpas são
tão esfarrapadas que beiram o ridículo. Uma hora é a bomba, outra vez é o
quadro elétrico, a limpeza do poço... Enfim, tudo é razão para parar o
fornecimento de água.
Os moradores do
Conjunto Satélite e adjacências, entre louças e roupas sujas, acuados, ainda
relutam de partir para o confronto nas ruas, talvez a única maneira de serem
ouvidos e atendidos.
Novas regras para
rótulos de alimentos começaram a valer desde ontem. Objetivo é aumentar a
clareza e legibilidade dos rótulos dos alimentos e auxiliar o consumidor a
fazer escolhas alimentares mais conscientes.
O pix bate novo
recorde e supera 160 milhões de transações em um dia. A alta demanda não
comprometeu as transferências, com o sistema funcionando estável ao longo de
todo o dia.
Em agosto, o pix
superou a marca de R$ 1,53 trilhão movimentados por mês.