O dilema de Helder: como atender interesses políticos em Belém sem romper acordo nacional com PT e Psol?

Como na parábola de Schopenhauer, governador se esgueira entre “porcos-espinhos”, tendo como pano de fundo a sucessão municipal, onde a gestão Ed50 desce a ladeira e a prova final se inclina para a direita.

Por Olavo Dutra | Colaboradores

24/12/2023 12:00
O dilema de Helder: como atender interesses políticos em Belém sem romper acordo nacional com PT e Psol?
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parábola do porco-espinho é uma metáfora usada pelo filósofo Arthur Schopenhauer para se referir às dificuldades de convívio entre os seres humanos. A narrativa descreve quando um grupo de porcos-espinhos se amontoa buscando calor em um dia frio de inverno; mas, quando começam a se machucar com seus espinhos, são obrigados a se afastar.


PT e Psol reiteraram aliança que favorece prefeito de Belém, o que coloca Helder em situação desconfortável para evitar um resultado eleitoral indesejado em 2024/Fotos: Divulgação.

O frio, no entanto, faz com que voltem a se reunir, para logo se afastarem novamente. Depois de várias tentativas, percebem que podem manter certa distância uns dos outros, sem se dispersar.

 

As necessidades sociais, a solidão, a monotonia e a política também impulsionam os "homens porcos-espinhos" a se reunirem, para se repelir em seguida devido às inúmeras características espinhosas e desagradáveis de suas naturezas. A distância moderada que os homens necessariamente devem descobrir é a condição necessária para que a convivência seja tolerada. É um código que a política, como nenhuma outra atividade humana, guarda como regra de ouro.

 

Arranjos políticos

 

Essa dinâmica pode ser facilmente relacionada com os arranjos políticos que mantêm de pé a ampla aliança que sustenta o governo Helder Barbalho, onde diferentes atores locais se unem por interesses comuns, mas que possuem características, interesses, propósitos, objetivos e mesmo ideologias que podem entrar em conflito ao menor esbarrão. Um desavisado que olhasse o palanque de Helder de 2022 pensaria estar no comício de Márcio Miranda em 2018, tamanha foi a migração de porcos-espinhos amarelos, de Simão Jatene, para a toca dos porcos-espinhos azuis, do MDB.

 

Um mal necessário

 

Da mesma forma, as relações de poder na esfera federal também podem ser comparadas com os "homens porcos-espinhos". O presidente Luiz Inácio Lula da Silva precisou se aliar a outros atores para alcançar seus objetivos eleitorais e, depois, a outros mais para garantir a governabilidade em um sistema de poder onde os chefes das casas legislativas, eleitos por um punhado de votos, têm tanto poder quanto o presidente eleito por milhões de votos. Feitos alguns arranjos para vencer e outros para governar, chega o momento em que os porcos-espinhos precisam manter uma certa distância para evitar conflitos públicos e rupturas internas. A distância moderada é necessária para que a convivência seja tolerada e para que os interesses de cada um sejam atendidos.

 

No entanto, assim como os "homens porcos-espinhos" não conseguem satisfazer completamente sua necessidade mútua de calor, as relações políticas e de poder também podem ser limitadas em sua capacidade de atender a todas as demandas e necessidades dos envolvidos.

 

Camisa de força

 

Helder Barbalho, que parece ser o ponto focal da maioria dos porcos-espinhos no Pará, vive o dilema de como atender à demanda de seu bando local sem romper com os porcos-espinhos de Brasília. As direções do PT e do Psol, por exemplo, reunidas no dia 12 de dezembro, reiteraram a aliança com o partido de Edmilson Rodrigues em Belém, onde a administração lilás padece de críticas vindas de todos os porcos-espinhos barbalhistas, e em São Paulo, onde Guilherme Boulos lidera.

 

Salto para o futuro

 

Todos concordam que sempre haverá conflitos e desacordos, mas que é necessário encontrar um equilíbrio para que a convivência seja possível ou o poder, que parece sólido, se dissolve no ar. A pretensão de Helder Barbalho de chegar a Brasília de carona no cometa de Lula em 2026 passa por cumprir acordos com Lula e com a cúpula do PT, o que, de acordo com fontes ouvidas nos dias 21 e 22 de dezembro por esta coluna, implica em o governador reiterar apoio à reeleição de Edmilson, ainda que as pesquisas indiquem um cenário complexo para a superação da rejeição e elevação do índice de voto do alcaide.

 

Alternativa dos cinco

 

Schopenhauer menciona o código de cortesia e boas maneiras como uma forma de manter a distância moderada entre os homens "porcos-espinhos". Política feita com um porrete em uma das mãos e um saco de dinheiro na outra abstrai por completo as boas maneiras. Dessa forma, as expectativas do entorno do governador são que ele lance mão de quatro ou cinco nomes alternativos abrigados em seu bando de porcos-espinhos. "O governador levará pesquisas e mostrará a Lula que a melhor forma de apoiar Edmilson é fazê-lo no segundo turno, mas que só haverá segundo turno se houver o lançamento de muitos candidatos que fragmentem o eleitorado", disse uma fonte.

 

Mantenha distância

 

Indagado sobre nomes, citou o Secretário de Articulação da Cidadania, Igor Normando, os deputados estaduais Zeca Pirão e Thiago Araújo, o delegado Everaldo Eguchi, um porco-espinho recém-chegado à toca dos Barbalhos, e a Secretária de Cultura Úrsula Vidal. Com essa fragmentação, indica a fonte, “o segundo turno é certo”, com a maior probabilidade de levar o atual prefeito e o deputado Éder Mauro a disputar o segundo turno.

 

Helder segue, ainda que involuntariamente, os conselhos de Schopenhauer, quando o filósofo afirma que todo aquele que transgride as normas da "distância de segurança" entre os porcos-espinhos será duramente castigado. Há até mesmo um ditado inglês para isso: "Keep your distance!" - mantenha distância na tradução livre. Ao levar a Lula uma alternativa que lhe garanta o conforto de demonstrar obediência à solicitação do presidente, mas ao mesmo tempo espalhar seus aliados diretos em diferentes quadrantes do terreno eleitoral, Helder segue no comando, dividindo mesmo que haja uma necessidade de unir.

 

Velocidade controlada

 

"É importante respeitar os limites e as diferenças de cada um", como ensinam os antigos. Aqueles que não seguem as regras podem ser excluídos ou enfrentar consequências negativas.

 

Embora tenha apelo interno, a ideia de lançar vários candidatos é a tática de maior risco. “Teremos uma eleição nervosa e polarizada”, aposta um vereador de Belém. “Se Helder quer apostar em Edmilson, deve jogar força ali. Se não quer, deve ter uma única candidatura de sua base. Senão podemos, no final, nos defrontar com a inconveniência do governador ter que se posicionar entre dois bolsonaristas. Uma vergonha”. 

 

O que será do amanhã?

 

A metáfora dos "homens porcos-espinhos" nos ajuda a entender o momento presente e os dilemas de Helder Barbalho, mas deixa em aberto as soluções para os dilemas de Belém e seu prognóstico de futuro, às vésperas da Conferências das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas, a tão esperada COP30. O futuro nunca foi tão incerto, para nós e para os porcos-espinhos.

 

Papo Reto

 

A Polícia Federal finalmente recuperou, na Argentina, a obra literária “Reise in Chile und auf dem Amazonstrome”, tempos atrás furtada do Museu Emílio Goeldi, em Belém. E o muiraquitã, que também sumiu do museu?

 

O que se diz é que algumas congregações religiosas mundo afora não estão sugerindo a permissão de bênção anunciada pelo Papa Francisco (foto), aos chamados casais “irregulares” - pessoas do mesmo sexo, mas fora de qualquer ritualização e imitação do matrimônio.

 

 Pelas suas raízes e normas, respectivos carismas e história secular - a maioria foi fundada por santos venerados nos altares das igrejas -, essas congregações têm dificuldade de internalizar a orientação papal.

 

Seus padres ao redor do mundo têm rígida formação doutrinária e litúrgica e a norma papal lhes parece caótica e confusa. Portanto, na dúvida, ficará como eles procedem há séculos, sem concessões.

 

A lei das apostas online vai à sanção presidencial. Conforme aprovado pelos parlamentares, os apostadores que ganharem mais de R$ 2.112, primeira faixa da tabela do Imposto de Renda da Pessoa Física, deverão recolher 15% do prêmio.

 

O Congresso aprovou o Orçamento 2024 destinando, acredite, R$ 53 bilhões para as infames emendas parlamentares.

 

O texto também define salário mínimo de R$ 1.412, R$ 54 bilhões para o PAC e mantém o quimérico déficit zero para o ano que vem.

 

O ministro Alexandre de Moraes acolheu pedido do MP de São Paulo, cassando um acórdão que absolveu réu acusado de roubo de celular. Desse modo, restabeleceu a pena de quatro anos de prisão ao delinquente.

 

De saco cheio com a "democracia" brasileira, a plataforma Rumble, que competia com o YouTube, preferiu deixar o País, após decisões do STF solicitando a exclusão de perfis de criadores de conteúdo da plataforma.

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