Exercício de futurologia mantém família Barbalho no poder do Estado pelo menos até o ano de 2035

Crônica sobre hipóteses políticas desinteressadas, mas plenamente possíveis em um domingo de verão; as cartas estão na mesa.

Por Olavo Dutra | Colaboradores

23/07/2023 09:00
Exercício de futurologia mantém família Barbalho no poder do Estado pelo menos até o ano de 2035
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rognósticos políticos são feitos de hipóteses, e hipóteses são construídas com base em elementos nem sempre objetivos, porque as intenções por trás de grupos e agentes políticos nem sempre se expressam de modo claro e insofismável. Algumas dessas hipóteses são como nuvens, mudando de forma a cada instante e sendo lidas de acordo com o ponto de vista de quem observa.


A história que começou com Laércio Barbalho, cassado, levou Jader ao governo e ao Senado, se desenrola com o filho número dois, Helder, e tem o número 1 na vitrine. Demais personagens são apenas protagonistas eventuais/Fotos: Divulgação.

Diante da inexatidão que o futuro sempre descortina, abre-se a banca de apostas, dividindo os observadores da cena política em dois grandes blocos. Assim como no mercado de capitais, no mundo político existem três tipos de investidor: o conservador, o moderado e o arrojado.

Os apostadores com perfil conservador colocam todas as suas fichas no favorito, naquele que reúne o maior conjunto de atributos para vencer a disputa que está por vir.  Os moderados não arriscam ainda uma aposta, preferindo aguardar o correr dos anos para, na reta final, fincar seus palpites. Os arrojados, por sua vez, desafiam a lógica, levando em consideração elementos que fogem à compreensão ou mesmo à observação de conservadores e moderados.

 

Favorito em todo cenário

 

Vindo de sucessivos êxitos, o governador Helder Barbalho é o favorito para a sua própria sucessão, em 2026, mesmo não podendo concorrer. Isso significa que a aposta que ele próprio fizer tende a ter um peso muito elevado na disputa e no desenho final das eleições. Helder tem a seu favor não apenas a maioria dos prefeitos, vereadores e deputados, mas também a poderosa máquina do Estado que, somada às prefeituras, pode mover contingentes populacionais inteiros ao ponto de inverter expectativas.

 

Desafiante presumível 

        

O desafiante presumível mais relevante de Helder e sua tática é Daniel Santos, o Doutor Daniel, prefeito de Ananindeua, cidade onde o atual governador iniciou sua carreira política e administrativa, que culminou com a derrota eleitoral de seu escolhido, o hoje deputado Chicão Melo, em um pleito facilmente decidido no primeiro turno a favor de Manoel Pioneiro, padrinho político de Daniel Santos.

 

Escolha anunciada

 

Recentemente, quando da inauguração da avenida Ananin, obra executada pelo Estado em parceria com a Prefeitura de Ananindeua, o governador aproveitou o palanque e a presença do prefeito e secretários para anunciar que sua escolha para a própria sucessão seria Hana Ghassan, vice-governadora, ex-secretária de Helder em Ananindeua e pessoa da mais alta confiança do governador e de sua família.

O anúncio surpreendeu a todos - não à coluna -, especialmente os mais próximos do governador, não porque surpreenda alguém a relação de confiança que ele nutre com sua vice, mas porque Helder nunca antecipa uma tática eleitoral. A quebra de protocolo levou analistas atentos a discutirem se não haveria nesse anúncio antecipado um enigma a ser desvendado.

 

Pesos e medidas

 

Helder seria ingênuo se ignorasse solenemente o peso político e eleitoral de Doutor Daniel. Então, ele sabe que a chave para a disputa de 2026 passa por 2024. Passa por derrotar as pretensões do adversário no terreno que eles tanto conhecem: Ananindeua. Sim, porque uma vitória fácil de Daniel Santos o colocaria em uma posição tranquila para disputar 2026, tendo em vista que a escolha do prefeito da segunda maior cidade do Estado para o posto de vice em sua chapa é ninguém menos que Ed Wilson, seu homem de confiança, o que lhe daria garantias de sair do posto sem perder o mando.

 

Desenho futurista

 

Diante disso, começa a ganhar corpo a ideia de que Dr. Daniel terá que enfrentar não apenas a poderosa máquina do Estado, mas também a favorita de Helder muito antes de 2026. Segundo essa hipótese, a vice-governadora seria convocada para disputar a Prefeitura de Ananindeua, tendo como vice o deputado Chicão Melo. Hana seria prefeita por dois anos, saindo candidata ao governo em 2026.

Hanna vencendo, enterraria de vez o sonho de Dr Daniel de ser o segundo  maranhense a governar o Pará. O primeiro foi o intendente Antônio Lemos, no início do século XX, que passou 15 anos no poder.

Existe ainda a hipótese de Hana Ghassan escolher outro vice nas eleições de 2024 e do deputado Chicão Melo, presidente do legislativo estadual, suceder Helder. Como? Derrotado o principal opositor, o governador renunciaria no tempo legal, levando a Assembleia Legislativa a precisar eleger indiretamente o governador de abril a dezembro.

Chicão Melo empossado governador poderia disputar uma única eleição, sendo reeleito com as bênçãos da família Barbalho em 2026, com mandato até 2030. Helder Barbalho favorito para uma das vagas no Senado apresentaria como  suplente seu primeiro irmão, o atual ministro Jader Filho. Senador eleito e empossado, Helder assumiria um ministério de relevância e deixaria temporariamente sua cadeira para o primeiro irmão.

Em 2030, Helder Barbalho com mandato de senador e seu irmão sendo o primeiro suplente pode, se quiser, disputar as eleições novamente para governador, deixando definitivamente a cadeira do Senado da República a Jader Filho, com mandato até 2035.

 

E as crianças crescem...

 

Com isso, o ciclo de poder da família que entrou na política com o velho Laércio Barbalho, ghostwriter do caudilho Magalhães Barata, cassado em 1964, seguiria sua dinâmica de renovação, iniciada com a primeira eleição de Jader Barbalho para vereador em plena ditadura.

Sem falar que as crianças estão crescendo...

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