Escolha do vice pode desequilibrar disputa em eleição tensa e acirrada prevista para Belém

Dos cinco candidatos postos para concorrer ao cargo este ano, apenas Igor Normando, do MDB, sinaliza chapa: Ursula Vidal.

Por Olavo Dutra

10/06/2024 12:00
Escolha do vice pode desequilibrar disputa em eleição tensa e acirrada prevista para Belém
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s números prévios divulgados por institutos de pesquisa mostram que Belém terá uma disputa eleitoral tensa e acirrada. Não seria novidade, diriam os observadores mais experientes. Contudo, dada a realidade polarizada que o País construiu na última década, esse acirramento eleitoral ganha outros contornos, exigindo de cada contendor uma redobrada prudência a cada passo.

Ex-secretária de Cultura, do União Brasil, deve ser a indicada para compor com o candidato do MDB/Fotos: Divulgação.

Em um cenário conflagrado, cada detalhe pode fazer a diferença e, nesse contexto, o papel do vice assume uma importância de relevo, podendo ser decisivo para o sucesso ou insucesso eleitoral.

Tão importante quanto

 “O vice-prefeito não só auxilia na gestão e no desenvolvimento das políticas municipais, como também desempenha um papel estratégico na busca por votos e na construção de alianças sociais agregadoras de votos”, explica o sociólogo Sérgio Santos.

Uma das principais contribuições do vice-prefeito em uma disputa eleitoral acirrada, segundo ele, é a capacidade de ampliar a representatividade da chapa. “Ao escolher um vice-prefeito com perfil e base eleitoral distintos, o candidato a prefeito pode conquistar novos eleitores e fortalecer sua posição política. Se o candidato e o vice têm perfis semelhantes, se são dois políticos com mais semelhanças que diferenças, a soma é zero”, afirma o sociólogo.

Em síntese, se o candidato a prefeito possui uma base eleitoral mais conservadora ou de centro, a escolha de um vice-prefeito com uma base eleitoral mais progressista pode atrair votos de um eleitorado diversificado, ampliando as chances de vitória.

Construção de acordos

Além disso, o vice-prefeito pode desempenhar um papel fundamental na construção de enlaces sociais, agregando forças vivas para além dos arranjos políticos formais, caracterizados pelo fisiologismo. “Em uma disputa eleitoral acirrada, como Belém viverá, é comum que diferentes partidos e grupos políticos busquem formar alianças para aumentar suas chances de sucesso e isso fará com que partidos maiores, com maior peso e recursos, tenham a prevalência na composição das chapas. Esse não é um fator desprezível”, afirma Santos. Além disso, o vice-prefeito pode ser um elemento-chave na negociação e articulação de convergências com setores sociais enraizados em causas e demandas específicas, “assim, sua presença na chapa pode atrair o apoio de um eleitorado que o candidato a prefeito não alcança”.

Etapa complementar

Outro aspecto relevante é a complementaridade de habilidades e experiências que o vice-prefeito pode trazer para a chapa, como ressalta o consultor político Jacinto Neto. “Enquanto o candidato a prefeito pode ter um perfil mais voltado para a política e para o corpo a corpo institucional, o vice-prefeito pode trazer uma expertise em áreas específicas, como a de gestão. Essa complementaridade de habilidades pode ser um diferencial importante para atrair a atenção dos eleitores, que buscam candidatos que sejam capazes de lidar com os múltiplos desafios e demandas de uma cidade”.

Além disso, o vice pode assumir um papel estratégico na campanha eleitoral, representando o candidato em caminhadas, eventos, debates e reuniões políticas com a autoridade que a popularidade confere. Essa presença ativa do vice multiplica a capilaridade da campanha, gerando maior visibilidade para a chapa e permitindo que o candidato a prefeito possa se dedicar a outras atividades, como a articulação política e a costura de apoio parlamentar e das cúpulas partidárias.

Gestão de projetos

O vice também pode assumir um papel importante no pós-eleição, como Geraldo Alckmin faz no governo Lula, auxiliando o gestor na implementação das políticas e projetos. Com sua experiência e conhecimento da administração pública, o vice pode contribuir de forma significativa na tomada de decisões e na gestão e isso pode e deve ser vendido na campanha.

À procura de um...

Eder Mauro, Edmilson Rodrigues, Igor Normando, Thiago Araújo ou Everaldo Eguchi, principais nomes na disputa até aqui, ainda não apresentaram seus vices. No campo governista, Igor Normando, o candidato do MDB, espera uma sinalização de Helder Barbalho confirmando o nome de Ursula Vidal, ex-secretária de Cultura, como sua companheira de chapa.

Pontuado melhor que o próprio candidato em enquetes da Paraná Pesquisas e do Instituto Mentor, Ursula Vidal goza de grande popularidade. Na última disputa majoritária em que concorreu, em 2018, obteve mais de 250 mil votos em Belém, o que não deve ser minimizado.

Fora do baralho

Presença constante em palanques e inaugurações e cotado por alguns colunistas como postulante ao lugar de vice, o ex-secretário de Esportes Cássio Andrade, por ter um perfil idêntico ao do candidato e pertencer a um partido em litígio - perdeu o controle da sigla para Doutor Daniel, prefeito de Ananindeua -, ao que tudo indica já é carta fora do baralho, decisão que teria sido corroborada em pesquisas qualitativas conduzidas pelos marqueteiros do MDB. Caberá a Cássio Andrade assumir a coordenação de campanha, onde não estará sozinho. Orlando Reis, que teve papel relevante nas duas últimas eleições do governador, integrará a coordenação, ao lado do professor Carlos Maneschy, gestor da Empresa de Tecnologia da Informação e Comunicação do Pará (Prodepa), escalado por Helder para formular o programa de governo de Igor Normando.

Tempo e dinheiro

Bem avaliada por sua gestão à frente da cultura do Estado, Ursula Vidal, por sua vez, nunca esteve tão confortável. O União Brasil, partido ao qual está filiada, tem grande poder de fogo. Dos R$ 4,9 bilhões do Fundo Eleitoral deste ano, R$ 758 milhões (15%) vão para o UB, que também detém o maior tempo de rádio e televisão. Com este cacife, o partido do ministro Celso Sabino considera duas hipóteses: apresentar o nome de vice na composição com o MDB, ou mesmo apresentar um nome próprio para a disputa eleitoral em Belém. Em ambos os casos, o nome apontado seria de Ursula Vidal, secretária de Cultura de Helder recém desincompatibilizada do cargo.

Nos minutos finais

A movimentação em torno dessa posição mostra o quanto o papel do vice pode ser decisivo, especialmente em uma disputa eleitoral acirrada. Sua capacidade de ampliar a representatividade da chapa, agregar popularidade, complementar as habilidades do candidato a prefeito e assumir um papel estratégico na campanha eleitoral são elementos fundamentais para o sucesso. Para alguns analistas, a viabilidade ou não de Igor Normando como candidato competitivo depende, em grande medida, dessa singela decisão. Helder Barbalho, responsável pela palavra final, ganha tempo, alegando que tem “no mínimo até as convenções” para apresentar sua decisão.

É verdade, mas esse tempo pode fazer falta quando a disputa é por um fio e os números seguem estáveis diante das intempéries da política. 

Papo Reto

•  O Campus Guamá da UFPA, em Belém, está como o diabo gosta e magnífico reitor Emmanuel Tourinho (foto) autoriza: fechado há dois meses.

•  A democracia relativa da maior Universidade da Amazônia paralisa aulas e prejudica serviços oferecidos à comunidade na maior cara de pau superior de que se tem conhecimento. Um escárnio.

•  Ao menos duas razões justificariam a paralisia: o reitor fica bonitinho na foto com os sindicatos e o DCE e se farta de recursos não aplicados para desfilar na reunião da SBPC, em setembro deste ano.

•  Com sobras inclusive drenar o que bem lhe aprouver para as obras de construção da nova editora da Universidade. Uma vergonha.

O ex-deputado estadual Júnior Hage foi eleito domingo em pleito extraordinário em Monte Alegre, oeste do Pará.

• Hage levou de roldão a candidata do MDB, Josefina Carmo, cravando 51,32% contra 23,92% dos votos.

O procurador-geral da República, Paulo Gonet, arquivou o pedido do ex-deputado Deltan Dallagnol para apuração de suposto abuso de autoridade por parte do ministro Alexandre de Moraes, do STF.

•  Justificativa do chefe do MP Federal: “falta de mínimo elemento de justa causa” no pedido de investigação.


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