Afinal, o paraense “tem memória curta” ou são os detentores do poder que apagam a história?

Com perdão do trocadilho, Museu da Santa Casa, fechado há quatro anos, pede misericórdia, mas ‘anestesia geral’ se sobrepõe a tudo e a todos em Belém do Pará.

Por Olavo Dutra | Colaboradores

18/06/2024 08:00
Afinal, o paraense “tem memória curta” ou são os detentores do poder que apagam a história?
I

 

magine um acervo com moedas de 100, 200 e 500 réis; o livro “In Memoriam”, de 1905, de autoria de Frei Caetano Brandão; notícias de jornais de 1910; centenas de objetos exemplificando o ecletismo com arte sacra; mobiliário; instrumento hospitalares; documentos; medalhas; lápides e um piano. Esse acervo é do Museu e Arquivo Histórico da Santa Casa de Misericórdia do Pará, fechado há quatro anos.


Gestão Carmona sinaliza alergia a museus, à história e à memória científica ao ‘sepultar’ mil peças do acervo do hospital/Fotos: Divulgação-Coluna Olavo Dutra.

 

O museu, que completa 37 anos daqui a quatro dias - 22 de junho -, parece ser uma das vítimas da ‘anestesia’ aplicada pela controversa gestão da Santa Casa para escorregar livremente entre denúncias de supostas irregularidades jamais investigadas, uma delas, mais recente - em abril deste ano -, quando foram dispensados de forma sumária cerca de 30 médicos da Cooperativa dos Anestesiologistas, irrigando as suspeitas que recaem sobre o presidente Bruno Carmona.


Sinônimo da história científica de Belém, o museu está literalmente ‘escanteado’ e sem atenção dos órgãos de fiscalização, ou de quem de direito. Fundado pelo médico obstetra Alípio Bordalo, o museu nasceu para resgatar a história e a memória das ciências médicas no Pará e caiu no esquecimento, mas precisa ser resgatado, apesar de Carmona.

 

Choque anafilático


Quando esta reportagem estava em apuração, fonte da Coluna Olavo Dutra advertiu que, como em um passe de mágica, ‘apareceu’ um aviso afixado na porta de entrada do museu informando que o espaço estaria “fechado para manutenção”. Papel, como se sabe, é biodegradável, amarela com o tempo e desaparece, mas não é o caso desse que, tecnicamente, depois de 1.460 dias, continua novinho em folha, tipo 1.460 dias mais novo do que o dia de fechamento do museu ao público, o que faz dele, por assim dizer, um aviso “carmonamente plástico”.

 

Gestão desastrosa


“Realmente, é uma gestão desastrosa a da Santa Casa, que só olha para o próprio umbigo”, diz o trecho de uma mensagem que circulou em grupos de WhatsApp de servidores, médicos e pessoas relacionadas à rotina da Fundação em fevereiro deste ano, postada por uma médica. Segundo a mensagem, a médica provocou, com pedidos de providências, Ministério Público, a Secretaria de Cultura, deputados estaduais e entidades de classe. “Como médica, estive revisitando a instituição que tenho muito carinho e me deparei estarrecida com o Museu da Santa Casa fechado e caindo aos pedaços”, acrescentava a mensagem. Ninguém deu ouvidos.

 

Mais de mil peças


O Museu da Santa Casa possui mais de mil peças, entre as quais se destacam as coleções de dissertações e teses acadêmicas que registram os primeiros estudos da medicina paraense sobre as epidemias do início do Século XIX, como tuberculose, febre-amarela e varíola.  São as 15 coleções com obras sobre farmácia antiga, instrumental médico-hospitalar, coleção documental, memória médica e livros antigos de medicina.


Datas fazem história

 

Pesquisa feita pela coluna com base em informações do Trabalho de Conclusão de Curso-2013 “Museologia e Memória do Museu-Arquivo Histórico da Santa Casa Dr. Alípio Bordalo de Belém-PA”, de autoria da aluna Wanderlana Veríssimo, do curso de Museologia da Faculdade de Artes Visuais, demonstra um acervo mais rico ainda quando data peças mais antigas - móveis e chapeleira da então Provedoria do hospital.


Sobre a denúncia, a coluna aguarda posicionamentos da assessoria de comunicação da Santa Casa de Misericórdia do Pará e do Sindicato dos Médicos do Pará, o Sindmepa.

 

Papo Reto

 

· Quem tem fé tem medo: pressionada por lideranças evangélicas, a deputada Renilce Nicodemos (foto), do MDB, pediu à Mesa Diretora da Câmara a retirada do seu nome da lista de assinaturas do PL do Aborto.

 

· Dizem que a Polícia Federal monitora os passos de um certo auditor da Fazenda Nacional que tem visitado grandes empresários de Belém anunciando estranhas fiscalizações e antecipando, de cara, o suposto volume do que estaria sendo sonegado pela empresa. Vai dar BO.

 

· É cada vez mais perigoso transitar pela rodovia Transtapanã, sobretudo à noite e com chuva, por conta da sinalização horizontal, que praticamente se evaporou. A visibilidade ruim rendeu três acidentes só nos últimos dias.

 

· A operadora Vivo, que se diz “a imperatriz da tecnologia”, está devendo explicação a seus usuários sobre a precariedade de sinal de satélite na Arthur Bernardes.

 

· O rio Amazonas e seus afluentes começaram a vazar "antes da hora", desencadeando excessiva preocupação de quem dele depende para movimentar cargas e passageiros.

 

· O Brasil segue desprovido de instrumentos capazes de evitar a infiltração no Estado de empresas controladas por organizações criminosas, embora haja razoável controle sobre as contratações públicas e seja meticuloso o processo de habilitação das licitações.

 

·  Reuters: pesquisa revela que 47% dos brasileiros relutam em acompanhar o noticiário todos os dias, porque isso faz com que se sintam “ansiosos e impotentes”. 

 

·  O governo federal acenou com R$ 39,61 bilhões para pagar emendas Pix em 2025, mas o insaciável Congresso quer mais e já avisou: não abre mão de enfiar pelo menos R$ 50 bilhões no Orçamento.


· A licença-maternidade de 180 dias para policial e bombeira foi aprovada em comissão da Câmara. 

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