ANS decreta “intervenção branca” na Unimed Belém e dá prazo de 30 dias para corrigir contas

CEO Wilson Niwa diz em comunicado que não se trata de “intervenção fiscalizatórias”, mas admite pressão da Agência.

11/06/2024 08:15
ANS decreta “intervenção branca” na Unimed Belém e dá prazo de 30 dias para corrigir contas
U


m comunicado distribuído na última semana pelo presidente do Conselho de Administração da Unimed Belém, Wilson Niwa, dá conta do que a cooperativa não quer confessar abertamente: a Agência Nacional da Saúde decretou uma espécie de intervenção, exigindo “correção imediata de inconformidades nos indicadores econômicos e financeiros” da Cooperativa. Pode até não ser uma intervenção clássica, mas que é uma “intervenção branca”, é: o prazo de ajustes é de apenas 30 dias.

Pressão da Agência de Saúde se soma a boatos sobre compradores interessados na cooperativa/Fotos: Divulgação.

O documento foi encaminhado no último dia 6, pela diretoria da responsável pelo acompanhamento das operadoras de planos de saúde da ANS, mas divulgado aos associados somente dois dias depois. No comunicado distribuído aos associados, no dia 8, Wilson Niwa afirma que “não significa uma intervenção fiscalizatória, mas exige acompanhamento mensal do cumprimento” das recomendações, “que deve ocorrer no prazo de 48 meses, com a reversão de todas as anormalidades administrativas e econômicas”.    



Situação incômoda

Não é confortável, como vem ocorrendo nos últimos meses depois da pandemia de covid-19, a situação dos médicos cooperados da Unimed Belém. E a crise, por si só, além de impor sacrifícios aos profissionais que restam no quadro de associados - a debandada, desde lá, parece não ter fim -, impõe temores sobre o futuro, como as pressões externas de “investidores” interessados em comprar o plano e ampliar negócios no mercado de saúde em Belém, onde os boatos se sobrepõem aos fatos, crescem dia após dia sem contestações e se aquietam na expressão “se non è vero, è ben trovato”.

Quem quer comprar

As redes sociais são um termômetro para medir a temperatura na administração da Unimed Belém, mas também lá circulam informações sobre supostos interessados em comprar a cooperativa - um deles, um grupo que já detém o controle de um hospital em Belém e envolvendo uma triangulação onde aparecem médicos conhecidos e políticos, mais ainda, todos com mandato em dia. A oferta: R$ 360 milhões - curiosamente, cerca de R$ 40 milhões a menor do valor pelo qual o Hospital Porto Dias voltou para as mãos da família Porto Dias em operação recente anunciada pelo Grupo Mater Dei.

Conteúdo relacionado

Mater Dei "devolve" Porto Dias a fundadores com perda de R$ 190 milhões e alega correção de rota

Dívida bilionária

Ocorre que, segundo fontes internas da Coluna Olavo Dutra na Unimed Belém, a dívida acumulada da cooperativa médica estaria entre R$ 500 milhões e R$ 700 milhões, razão pela qual a Agência Nacional de Saúde teria botado o dedo na ferida. Diante da suposta proposta de compra, os possíveis compradores ainda teriam um prejuízo de cerca de R$ 350 milhões para administrar no novo negócio, provavelmente arriscando a própria capacidade financeira do grupo - embora assumindo a propriedade de quatro hospitais próprios, incluindo o Prime, e um terreno -, ou precisariam de aporte financeiro para suportar a carga.

Desidratação em curso

Sem falar que, desde a pandemia, a cooperativa contabiliza perdas de 1 milhão de associados para menos de 300 mil hoje, além dos médicos que bateram em retirada ao longo desse período e apesar de ter cancelado contratos com praticamente todos os laboratórios para irrigar apenas um - o Laboratório Ruth Brazão, que mais que triplicou suas unidades em Belém. As dívidas acumuladas com dois outros - Laboratório Beneficente Portuguesa e Laboratório Amaral Costa - ultrapassam a casa dos R$ 25 milhões.   

A coluna não conseguiu contato com a assessoria de Imprensa ou com a direção da Unimed Belém para esclarecimentos, mas segue aberta, como manda a regra.

Papo Reto

A improvável disputa pelo controle da Secretaria de Cidadania do Estado, de onde saiu Igor normando, pendeu para Elieth Braga - ou seria para Hanna Ghassan? -, que assume o cargo, deixando o Planejamento para Renata Mirela (foto), titular do Detran.

 •  Renata atuará cumulativamente, enquanto Elieth Braga cuida das usinas de Paz e turbina sua candidatura à Assembleia Legislativa em 2026.

Ananindeua chorou e sepultou ontem o ex-vereador Carlos Corrêa Lima, o Carlúcio, que morreu aos 81 anos de idade.

•  Parlamentar de oito mandatos, Carlúcio integrou as fileiras do PSDB e do MDB, mas saiu de cena política há mais de dez anos.

A Câmara Federal vem dando exemplos da sua má qualidade nos últimos dias, com brigas, confusões, agressões verbais e até físicas.

• Pior: tudo isso tendo como palco o Conselho de Ética e Decoro Parlamentar, o mesmo que absolveu o deputado André Janones da prática de “rachadinha”. 

Foi-se o tempo em que os cargos federais significava a "última coca-cola no deserto" na vida dos parlamentares da chamada "base" governista.

•  Agora, flutuando com emendas de R$ 53 bilhões na mão, os deputados passaram a fugir dos escândalos por nomear correligionários para cargos ou negócios em troca de votos pro governo. 


Mais matérias OLAVO DUTRA