A Revolução Socialista, uma das tendências do Psol, que
abriga a vereadora Silvia Letícia, prepara o que se poderia chamar de ‘golpe de
misericórdia’ na gestão do prefeito Edmilson Rodrigues, principal figura
política da tendência Primavera Socialista. Uma das estratégias circula desde a
manhã de hoje nas redes sociais e inclui um dossiê contra a administração
municipal apontando o abandono a que a cidade está relegada às portas da COP 30
e as expectativas de reeleição do alcaide. O grupo de Silvia Letícia diz não
reconhecer a gestão do Psol controlado pelo prefeito Edmilson Rodrigues e seu
restrito grupo político.
Belém, uma das principais cidades da Amazônia, foi anunciada pelo presidente Lula e pelo governador Helder Barbalho como a sede do encontro das partes sobre mudanças climáticas, em novembro de 2025.
A COP-30 e os investimentos públicos e privados que
serão utilizados para preparar minimamente a cidade, que deve receber mais de
100 mil pessoas de todo o mundo são, na verdade, a última cartada do prefeito
para melhorar sua imagem e tentar a reeleição.
Rejeição escandalosa
Segundo pesquisa Doxa recente, a rejeição da prefeitura
administrada pela tendência Primavera Socialista-Psol-Frente Ampla está por
volta de 83,9% - somatória de péssimo, ruim e regular - e de apenas 14,8% - bom
e excelente - da população aprova a gestão Ed50.
O estudo aponta que, para a população, os maiores
problemas da cidade são: violência (18,6%); tudo (18,2%); sujeira; falta de
limpeza de canais e vias públicas (15,8%); saúde pública precária (12,1%);
falta de saneamento (11,4%); falta de abastecimento de água; transporte
coletivo; iluminação pública; falta de renda; educação precária e má
administração (4,2%).
Cabide de emprego
A Prefeitura de Belém está inchada por contratações
feitas via indicações políticas e média salarial acima de R$ 3,5 mil, enquanto
a maioria da população sobrevive com menos de 1 salário mínimo.
Somente no gabinete do prefeito, dos 631 trabalhadores
lotados, 576 são cargos de indicação política e apenas 54 são de servidores
efetivos. No total, segundo estudo do Sindicato da Educação junto ao Portal da
Transparência, foram nomeados em dois anos de mandato 2.684 cargos políticos pelo
gabinete do prefeito, dentre esses, na Secretaria de Educação 128; Secretaria
de Saneamento, 144; Secretaria de Saúde, 283; e Secretaria de Urbanismo,
131.
Dos 29.625 funcionários da prefeitura, apenas 21.745 são
efetivos; 7.880 são servidores contratados de forma temporária, sem concurso
público e por seleção questionável, já que, para ter direito a um contrato,
bastaram currículo compatível com a função, uma entrevista na secretaria
correspondente ou mera indicação política.
Propaganda enganosa
Edmilson se elegeu prefeito de Belém cercado de
verdadeiras expectativas de mudanças, já que a cidade é uma das mais pobres do
País. As expectativas têm se transformado em frustração: mais de 70% dos
domicílios da cidade não possuem água e rede de esgoto tratada; o lixo se
avoluma pelas ruas, favorecendo transbordo e canais e inundando casas.
Edmilson se elegeu com o apoio massivo do funcionalismo
municipal e da maioria dos setores organizados. Entretanto, desde sua vitória
existe uma disputa de narrativa de que, sem o apoio incisivo do governador
Helder Barbalho, a Frente Ampla não teria conseguido derrotar eleitoralmente o
desconhecido delegado federal, Everaldo Eguchi, que surpreendeu no segundo
turno e quase ganhou as eleições.
Fato é que, desde a posse, Edmilson virou as costas para
sua tradicional base social e eleitoral, adotando como modelo de gestão uma
administração em estreita parceria com o MDB, que lhe serve de base de
sustentação na Câmara dos Vereadores, aplicando ajuste fiscal sobre o funcionalismo
e a população mais pobre. Dada à forte ligação com o governador, a Prefeitura é
vista como uma secretaria de governo.
Cravo e ferradura
O funcionalismo público sofre uma brutal desvalorização
- a maioria não recebe sequer o salário mínimo nacional no vencimento base e o
magistério não tem direito ao piso salarial nacional. A prefeitura não faz
concurso público, optando por contratos temporários precarizados. As denúncias
de assédio moral nas secretarias só aumentam e o movimento sindical
independente, sobretudo as entidades sindicais do funcionalismo organizados no
fórum de entidades municipais, que organiza os trabalhadores para lutar por suas
pautas econômicas e sociais são perseguidas e, agora, acusadas de
bolsonaristas.