Grupo político da vereadora Silvia Letícia vai ao ataque e diz que gestão Ed50 em Belém não representa o Psol

Prefeito Edmilson Rodrigues surfa na onda da COP 30 como última tentativa de recuperar a popularidade para garantir a reeleição, mas tendência interna do partido tem narrativa que desmonta essa estratégia: mostrar o abandono de Belém e o descaso com o ser

25/06/2023 17:00
Grupo político da vereadora Silvia Letícia vai ao ataque e diz que gestão Ed50 em Belém não representa o Psol


A Revolução Socialista, uma das tendências do Psol, que abriga a vereadora Silvia Letícia, prepara o que se poderia chamar de ‘golpe de misericórdia’ na gestão do prefeito Edmilson Rodrigues, principal figura política da tendência Primavera Socialista. Uma das estratégias circula desde a manhã de hoje nas redes sociais e inclui um dossiê contra a administração municipal apontando o abandono a que a cidade está relegada às portas da COP 30 e as expectativas de reeleição do alcaide. O grupo de Silvia Letícia diz não reconhecer a gestão do Psol controlado pelo prefeito Edmilson Rodrigues e seu restrito grupo político.  

Belém, uma das principais cidades da Amazônia, foi anunciada pelo presidente Lula e pelo governador Helder Barbalho como a sede do encontro das partes sobre mudanças climáticas, em novembro de 2025.



Vereadora Silvia Letícia, da tendência Revolução Socialista e o prefeito Edmilson Rodrigues, principal peça da tendência Primavera Socialista, ambas do Psol: gestão sob lupa e críticas ao abandono de Belém e das ideias defendidas em campanha/Fotos: Divulgação.
O anúncio foi saudado com entusiasmo pelo prefeito de Belém, Edmilson Rodrigues, que, ao agradecer o empenho do presidente e do governador disparou: “Estamos juntos pelo Brasil e pelo Pará, estamos juntos por Belém” -, declaração considerada jogada de marketing para se colar à popularidade de Lula e Helder e tentar esconder do público, País afora, os enormes índices de rejeição da sua gestão.

A COP-30 e os investimentos públicos e privados que serão utilizados para preparar minimamente a cidade, que deve receber mais de 100 mil pessoas de todo o mundo são, na verdade, a última cartada do prefeito para melhorar sua imagem e tentar a reeleição.

 

Rejeição escandalosa

Segundo pesquisa Doxa recente, a rejeição da prefeitura administrada pela tendência Primavera Socialista-Psol-Frente Ampla está por volta de 83,9% - somatória de péssimo, ruim e regular - e de apenas 14,8% - bom e excelente - da população aprova a gestão Ed50. 

O estudo aponta que, para a população, os maiores problemas da cidade são: violência (18,6%); tudo (18,2%); sujeira; falta de limpeza de canais e vias públicas (15,8%); saúde pública precária (12,1%); falta de saneamento (11,4%); falta de abastecimento de água; transporte coletivo; iluminação pública; falta de renda; educação precária e má administração (4,2%).

 

Cabide de emprego

A Prefeitura de Belém está inchada por contratações feitas via indicações políticas e média salarial acima de R$ 3,5 mil, enquanto a maioria da população sobrevive com menos de 1 salário mínimo.

Somente no gabinete do prefeito, dos 631 trabalhadores lotados, 576 são cargos de indicação política e apenas 54 são de servidores efetivos. No total, segundo estudo do Sindicato da Educação junto ao Portal da Transparência, foram nomeados em dois anos de mandato 2.684 cargos políticos pelo gabinete do prefeito, dentre esses, na Secretaria de Educação 128; Secretaria de Saneamento, 144; Secretaria de Saúde, 283; e Secretaria de Urbanismo, 131. 

Dos 29.625 funcionários da prefeitura, apenas 21.745 são efetivos; 7.880 são servidores contratados de forma temporária, sem concurso público e por seleção questionável, já que, para ter direito a um contrato, bastaram currículo compatível com a função, uma entrevista na secretaria correspondente ou mera indicação política.

 

Propaganda enganosa

Edmilson se elegeu prefeito de Belém cercado de verdadeiras expectativas de mudanças, já que a cidade é uma das mais pobres do País. As expectativas têm se transformado em frustração: mais de 70% dos domicílios da cidade não possuem água e rede de esgoto tratada; o lixo se avoluma pelas ruas, favorecendo transbordo e canais e inundando casas.

Edmilson se elegeu com o apoio massivo do funcionalismo municipal e da maioria dos setores organizados. Entretanto, desde sua vitória existe uma disputa de narrativa de que, sem o apoio incisivo do governador Helder Barbalho, a Frente Ampla não teria conseguido derrotar eleitoralmente o desconhecido delegado federal, Everaldo Eguchi, que surpreendeu no segundo turno e quase ganhou as eleições. 

Fato é que, desde a posse, Edmilson virou as costas para sua tradicional base social e eleitoral, adotando como modelo de gestão uma administração em estreita parceria com o MDB, que lhe serve de base de sustentação na Câmara dos Vereadores, aplicando ajuste fiscal sobre o funcionalismo e a população mais pobre. Dada à forte ligação com o governador, a Prefeitura é vista como uma secretaria de governo.

 

Cravo e ferradura

O funcionalismo público sofre uma brutal desvalorização - a maioria não recebe sequer o salário mínimo nacional no vencimento base e o magistério não tem direito ao piso salarial nacional. A prefeitura não faz concurso público, optando por contratos temporários precarizados. As denúncias de assédio moral nas secretarias só aumentam e o movimento sindical independente, sobretudo as entidades sindicais do funcionalismo organizados no fórum de entidades municipais, que organiza os trabalhadores para lutar por suas pautas econômicas e sociais são perseguidas e, agora, acusadas de bolsonaristas.

 

Mais matérias OLAVO DUTRA