evantamento da Agência Pública aponta que as mineradoras brasileiras, incluindo o Vale, deram um calote bilionário em municípios do Pará e de Minas Gerais. O estudo foi baseado em dados do TCU e revela que apenas 1% dos contratos das atividades mineradoras é fiscalizado pela Agência Nacional de Mineração, a ANM, que no momento passa por uma “operação desmonte”.
Criada para regular e fiscalizar o
setor de mineração, responsável por 4% do PIB do País, a AMN alcançou o menor
efetivo da história e o maior déficit de pessoal de todo o serviço público
federal. A Agência, atualmente, conta com apenas 659 funcionários, que
representam 34,2% dos 2 mil cargos previstos em lei. Desses, somente quatro
trabalham na fiscalização de 39,3 mil processos ativos. Segundo a Agência,
seriam necessários, pelo menos, mais 200 servidores apenas para atender
satisfatoriamente às demandas de fiscalização.
Vale quanto pesa
Segundo o levantamento, a
Vale, maior mineradora do País, é também a que mais se beneficia do
sucateamento da Agência. A auditoria realizada pelo TCU
nesse órgão mostra que a Vale sonegou, em seis anos, R$ 2,8 bilhões aos
cofres públicos. Esse montante representa 71,5% dos R$ 4
bilhões da Cfem, que caducou entre 2017 e 2021, referente a dívidas anuais
que se arrastam desde 2002 por falhas do governo federal.
Conforme o TCU, nesses quatro anos,
os cofres públicos deixaram de receber valores expressivos também de outras
empresas, incluindo R$ 445 milhões da Minerações Brasileiras Reunidas S.A.,
pertencente à Vale; R$ 52 milhões da Cadam S.A.; R$ 35 milhões da Mineração
Vila Nova Ltda; e R$ 24 milhões da AngloGold Ashanti Córrego do Sítio Mineração
S.A.
Os quatro municípios mais
prejudicados pelo calote das mineradoras foram Mariana, Ouro Preto e
Itabira, em Minas Gerais; e Parauapebas, no Pará. Apenas Mariana deixou de
receber cerca de R$ 262 milhões de royalties do minério. Os
Estados de Minas Gerais, Pará, Amapá e Espírito Santo também estão entre os
mais afetados pela falta de pagamento.
Seis por meia dúzia
No resultado da auditoria na
ANM entre 2017 a 2021 - parte no governo anterior -, servidores
relataram que o cenário “desolador” do órgão, atualmente dirigido por Mauro
Henrique Moreira Sousa, permanece o mesmo, após quase dois anos da gestão do
presidente Lula. A agência foi criada em 2017, no governo do
ex-presidente Temer, do MDB, para substituir o DNPM, sendo vinculada ao
Ministério de Minas e Energia, pasta que está, atualmente, sob o comando de
Alexandre Silveira, que recebeu R$ 2 milhões em doações de mineradoras nas
campanhas em que concorreu ao Senado, conforme mostrou o Observatório da
Mineração.
Um ponto que precisa ser destacado é
que, enquanto postergava o pagamento da Cfem até prescrever, a Vale alcançou em
2021 um lucro histórico entre as empresas listadas na Bolsa de Valores
brasileira, de R$ 121 bilhões.
O caso do Pará
O documento, cujo relator é o
ministro Benjamin Zymler, aponta que, entre as unidades da federação, o
Pará é um dos maiores prejudicados, uma vez que R$ 620 milhões em royalties deixaram
de chegar aos governos municipais produtores.
Este valor é inferior apenas ao que seria apurado por Minas
Gerais, com R$ 2,7 bilhões. A Vale teria sido a empresa que
mais se beneficiou com a decadência de créditos da Cfem, e deixou de
pagar R$ 2,86 bilhões. Parauapebas, no sudeste do Pará, que abriga a
Serra dos Carajás, principal campo de atuação da Vale no Estado, é
o mais prejudicado do País: perdeu R$ 360 milhões devido ao
sucateamento da ANM, que redundou na sonegação de repasse dos royalties da
Cfem.
A mineradora informa que efetua,
regularmente, o recolhimento da Cfem “de acordo com o sistema jurídico
vigente”. A empresa diz que nos últimos dez anos recolheu R$ 29 bilhões em
Cfem, distribuídos aos municípios pela ANM.
Papo Reto
· Começou
ontem, dia 6, em Belém, a segunda edição da Conferência Internacional Amazônia
e Novas Economias, promovida pelo Ibram.
· Na abertura, no final da tarde,
uma desfeita foi percebida: a ausência do ainda prefeito de Belém, Edmilson
Rodrigues (foto) entre as autoridades. Ano passado, Edmilson
era figura constante nos corredores e nos debates do evento.
· A presença do prefeito era
esperada, pelo menos na abertura oficial, tanto que o atual CEO da mineradora
Vale, Gustavo Pimenta, que não pode comparecer ao evento por compromissos
profissionais, o cumprimentou em vídeo-mensagem exibida na abertura, diretamente
do continente asiático.
· Ano passado, o prefeito de
Belém compôs a mesa de abertura e e participou de um dos painéis mais
concorridos do evento.
· Este ano, entre os mais de 150
convidados para os debates, ele não consta de nenhum. Terá ficado chateado e
resolveu ‘não dar as caras’?
· Detalhe: na abertura, um
momento chamou a atenção. Ao ser convidado para compor a mesa de autoridades, o
engenheiro Alex Carvalho, presidente afastado pela Justiça da direção Fiepa
foi bastante aplaudido.
· O governador Helder Barbalho
deu um jeito de não falar com os jornalistas após o encerramento da cerimônia.
Cercado de muitos assessores, mas com os jornalistas insistindo na fala dele, o
governador saiu pela tangente.
· Aos
repórteres presentes que esperavam a manifestação do governador sobre o embargo
das obras de construção da rua da Marinha pelo Justiça, nem tchum.
· Os órgãos de fiscalização
estadual passaram todos batidos, mas a Receita Federal apreendeu 237 toneladas
irregulares de cobre no Porto de Vila do Conde. Foi apenas a vigésima apreensão
do ano em Barcarena.