Rio, 04 - Os
ataques de Israel e dos Estados Unidos ao Irã complicaram ainda mais um
consenso no Brics. Além de exigir uma manifestação mais forte do grupo sobre a
guerra e os ataques que sofreu, a delegação iraniana no Rio recrudesceu sua
posição e agora quer mudar até a forma como o bloco vai se referir a Israel.
A negociação para obter uma declaração final no Brics, desta vez em nome dos líderes
políticos, ficou mais "difícil", relatou um diplomata envolvido na
negociação da Cúpula no Rio.
Os países membros do Brics discutem se vão subir o tom no comunicado de
líderes, como exige o Irã. O chanceler iraniano, Abbas Araghchi, está a caminho
do Rio, e pode se envolver na negociação.
A posição iraniana extrapola como o grupo pretendia tratar os ataques aéreos de
12 dias e contaminou até manifestação do grupo sobre a questão palestina, outro
ponto sensível, já que o grupo tem países mais próximos de Israel e dos EUA,
como a Índia, Egito, Etiópia, Emirados Árabes Unidos e Arábia Saudita.
Após o bombardeios, porém, o Irã recrudesceu e quer usar uma linguagem mais
próxima da oficial em Teerã e da diplomacia de guerra. Os ataques sem
precedentes na história atingiram o programa nuclear iraniano, mataram
lideranças militares e cientistas, unidades das Forças Armadas e até uma rede
estatal de TV.
Por princípio, a liderança islâmica do Irã nega a existência do Estado de
Israel, o que leva o governo israelense a considerar que enfrenta uma questão
existencial caso os iranianos consigam fabricar uma bomba nuclear. Esse foi um
dos pretextos dos ataques.
Em Teerã, autoridades governamentais costumam se referir ao país como
"inimigo", "entidade sionista" ou "regime
sionista". Uma versão similar chegou a ser defendida pela diplomacia persa
dentro do Brics. O tema é considerado importante pelo Irã.
A cobrança persa era esperada, pelo fato de o grupo ter um país atacado. Além
disso, o cessar-fogo é visto como "instável" por integrantes de
chancelarias presentes ao Rio.
Não há consenso porque delegações no Brics rejeita esse tipo de linguagem ou
até a simples menção direta a Israel e Estados Unidos.
Os três pontos pendentes agora são como se pronunciar sobre a questão
palestina, os ataques ao Irã e resolver a proposta de reforma do Conselho de
Segurança das Nações Unidas, na qual o Brasil sofreu um revés em Kazan.
O tema também é considerado "difícil", mas o Brasil tenta contornar a
disputa africana, que impede a menção a um país africano como candidato a uma
vaga no Conselho de Segurança. A objeção de Egito e Etiópia derrubou também o
apoio explícito a Brasil e Índia.
Não houve menções ao recente ataque da Rússia contra a Ucrânia, a maior
operação aérea desde o início da invasão. O recente conflito entre Paquistão e
Índia também teve menor impacto.
A declaração principal também será enfática sobre o tarifaço comercial, vai mas
não citará o presidente Donald Trump e os Estados Unidos. Por outro lado, o
recado do Brics em defesa do multilateralismo ficará explícito pelos convites
especiais a entidades combatidas por Trump: o diretor-geral da OMS (Organização
Mundial da Saúde), Tedros Adhanom, e o secretário-geral das Nações Unidas,
António Guterres.
Além disso, o Brics vai publicar três comunicados específicos sobre:
Financiamento Climático, Parceria Para Eliminação de Doenças Socialmente
Determinadas e Inteligência Artificial.
Fonte: Estadão conteúdo
Foto: Fernando Frazão/ Agência Brasil