a última quarta-feira, 2, e quinta-feira, 3, Belém foi bastante castigada por chuvas e trovoadas. A cidade estranhou: o mês de julho chegou aparentemente desacompanhado do chamado “Verão amazônico”. Sem avaliar “o tempo que o tempo tem”, moradores da Belém afundada assacaram contra o alcaide Igor Normando, vítima de si mesmo e do cargo que ocupa, com a inenarrável desvantagem da falta de experiência e do despreparo técnico dos zeladores da urbe.
Para a maioria dos ‘alagados’, é inevitável não relacionar os rios que passam na vida de cada um nestes tempos estranhamente chuvosos com a COP30, a menos de cinco meses. “E se chover?”, indagam em tom de preocupação e expectativa. Bem, em condições normais de temperatura e pressão, não chove tanto em novembro - mas a Conferência da ONU é sobre o clima.
A voz do zelador
Atacado por cima e por baixo, já que tem a proteção dos flancos, o prefeito Igor Normando cumpriu seu papel, já na quarta, entre uma chuvarada e outra: foi às redes sociais tentando explicar o óbvio ululante. “Estamos monitorando e atuando nos pontos de alagamento. Equipes estão nas ruas para minimizar os impactos e garantir mais segurança à população. A equipe de zeladoria foi reforçada na desobstrução de canais e na limpeza de bueiros”, disse, com a cara preocupada.
No dia seguinte, quinta, a prefeitura tratou de “colocar seu bloco na rua”, mas a situação era pior do que o imaginado. A informação dava conta de que a Zeladoria e da Defesa Civil seguiam no monitoramento da cidade, “agindo com rapidez e eficiência” nos pontos com histórico de alagamento, como os canais da Doca e da Tamandaré, para garantir o escoamento da água e prevenir contra novos alagamentos”.
Chuva de críticas
A esta altura da competição entre a Zeladoria e Natureza, as redes sociais falavam mais alto, atiçando a noção de que as obras das COP30 favorecem os atuais alagamentos em Belém, apontando os casos registrados nas imediações dos parques lineares da Doca e da Tamandaré. O que se viu por lá foi que, ao que parece, esqueceram de desobstruir o leito dos canais, por isso os alagamentos se esparramam pelas redondezas.
Outros denunciaram os alagamentos no Parque da Cidade, erguido em terreno de nível mais elevado e entregue à população havia duas semanas. Vários vídeos mostram o parque sem drenagem na pista de skate e quadras de esporte.
Uma voz do além
E foi assim, nesse ambiente turvo e friorento que, como que saído da música de Caetano Veloso - “impávido que nem Muhammad Ali e infalível como Bruce Lee” -, o ex-prefeito de Belém Edmilson Rodrigues, do Psol, embarcou na canoa dos descontentes e atirou pitacos sobre a Belém flagelada, coisa que ele viu, viveu e presenciou, mas também se afundou.
A artilharia do ex apontou o Parque da Cidade: “Vários vídeos nas redes denunciam o constante alagamento com as chuvas que atingem Belém. Como arquiteto e urbanista, me surpreende ver uma obra dessa magnitude, de R$ 980 milhões, apresentando tantas falhas nos serviços de drenagem”.
Em seguida, a memória apagada do “arquiteto e urbanista” de ontem lembrou que, no início, “esse projeto estava estimado em menos de R$ 300 milhões, aumentou três vezes mais, e ainda se apresenta com problemas técnicos, que, numa primeira avaliação, não se justificam”. Segundo ele, o governo do Pará precisa rever o serviço feito, corrigir e, principalmente, fiscalizar. Trata-se, como se sabe, de recursos públicos e seu uso precisa ser corretamente acompanhado”, ensinou.
Enfim, a voz da razão
O meteorologista José Raimundo Abreu, do Instituto Nacional de Meteorologia, explicou que a chuva de quarta-feira, 2, chegou a acumular 75 mm no bairro do Curió-Utinga, um dos pontos monitorados pelo Instituto, enquanto a Pedreira registrou 42 mm de chuva, e 35 mm no Entroncamento. A chuva durou pouco mais 40 minutos e seguiu de maneira irregular, com alguns pontos da cidade registrando um maior volume de água, como no Curió-Utinga.
A Secretaria de Meio do Estado, por sua vez, também destacou que as chuvas registradas em Belém na quarta-feira apresentaram volumes distintos entre os bairros. “Em Mosqueiro, o volume registrado em um único dia - 76,6 mm - corresponde a cerca de metade da média histórica de precipitação para todo o mês de julho, que varia entre 150 mm e 160 mm na capital”. A previsão da Secretaria é de que, este ano, o acumulado de julho fique acima dessa média.