Posse de dois prefeitos na Grande Belém fica marcada pelo que deixa nas entrelinhas

Edmilson Rodrigues sela seu destino ao mandar um bilhete prosaico para sucessor; em Ananindeua, as opiniões se dividem, mas prefeito reeleito leva a Câmara de roldão.

02/01/2025, 09:35
Posse de dois prefeitos na Grande Belém fica marcada pelo que deixa nas entrelinhas
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solenidade de posse dos prefeitos eleitos nos dois maiores colégios eleitorais do Pará - Belém e Ananindeua - pode ter sido tudo, menos pelo o que deixaram nas entrelinhas.


Igor Normando e Daniel Santos começam jornadas semelhantes, com peso maior para o prefeito reeleito de Ananindeua, que se insinua candidato ao governo em 2026/Fotos: Divulgação.
 

Em Belém, o democrata Edmilson Rodrigues, do Psol, não compareceu à posse para passar a faixa e o cargo ao novo prefeito, Igor Normando, do MDB. Para não ficar “muito feio”, Ed mandou um prosaico bilhete a Igor que era quase uma daqueles poemas que costumava usar em suas entrevistas.

 

“Se for bem, será bom para Belém”, diz Edmilson Rodrigues ao desejar boa sorte a Igor Normando. Como se vê, o derradeiro ato de Ed50 sugere mil interpretações, uma delas que jamais se atreva a concorrer ao cargo novamente por absoluto desconhecimento do que vem a ser bom para Belém - tanto que não fez em quatro longos, cansativos e desgastantes anos.

 

Para além do futuro

 

Teve mais nessa posse. A faixa do prefeito foi colocada pela mulher de Igor, Fabíola Cabral, publicitária e ex-deputada estadual por Pernambuco, de 2019-2023.  Ainda na posse, em ato falho - ou seria de “previsão para além do futuro?” - uma repórter disse, ao vivo, que Igor Normando “recebeu a faixa presidencial” pelas mãos da esposa Fabíola. Antes, também ao vivo, disse que Silvane Ferraz, do MDB, foi “a vereadora mais eleita...” Pano rápido, por favor.

 

Onde anda a estrela

 

Em Ananindeua, uma ausência foi muito notada. Bruna Lorrane, que foi uma verdadeira “ponta de lança” da campanha de reeleição do prefeito Daniel Santos, do PSB, não compareceu à posse, uma ausência silenciosa que fez muito barulho na “República de Ananindeua”.

 

O pêndulo da política

 

O que se comenta no município vizinho - mas há controvérsias, à luz da Câmara de Vereadores, onde o prefeito reeleito não teve sequer concorrência -, é que o desembarque de Erick Monteiro e de Manoel Pioneiro, ambos do PSDB, diretamente na corte de Helder Barbalho, do MDB, marca com alguma ênfase a suposta desidratação da campanha de Daniel ao governo do Pará, em 2026.

 

Pioneiro, até então sem cargo público, assumiu, na quarta-feira, 1, a presidência da Cohab, que vai comandar a entrega do famigerado cheque moradia no Pará, programa que beneficia diretamente nas urnas alguns queridinhos políticos do governo na Assembleia Legislativa.

 

Moral da história

 

Outro comentário que se ouve na “República de Ananindeua” dá conta de que, o que é bom para Pioneiro, não é necessariamente bom para Ananindeua.

 

Papo Reto

 

· O ex-prefeito de Belém Edmilson Rodrigues (foto) não sancionou, nem vetou o projeto de adequação à constituição da contribuição previdenciária de Belém.

 

· Incontinenti, o presidente da Câmara, John Wayne, transcorrido o prazo legal, sancionou o projeto que vai para o colo do novo prefeito com os espinhos de sempre.

 

· Quatro anos atrás, o aporte financeiro adicional do Executivo para a previdência era na ordem de R$ 10 milhões. Hoje, pelo comportamento desequilibrado da gestão Ed50, deve estar em torno de R$ 20 milhões.

 

· Quando foi apresentado à Câmara, na gestão Zenaldo Coutinho, o projeto impactava em torno de 50% do excedente. Hoje, com valor de cerca de R$ 5 milhões. A gestão de Igor Normando deverá bancar mais ou menos R$ 15 milhões.

 

· Aliás, Igor Normando tem entre seus secretários pelo menos um ex-auxiliar do ex-prefeito Edmilson Rodrigues.  André Cunha foi secretário de Turismo de 2021 a 2024 e é secretário de Desenvolvimento Econômico de Igor Normando.

 

· Mais de cinco mil prefeitos, 3.077 de primeiro mandato e 2.466 reeleitos tomaram posse no Brasil.


· Existem 14 municípios com resultado da eleição sob judice e três com a votação anulada por diferentes circunstâncias, que terão novos pleitos marcados pelos tribunais regionais.


· Aliás, nunca foi tão expressiva a reeleição de prefeitos: 82% dos candidatos que buscaram um novo mandato saíram vitoriosos.


· Ao apagar das luzes, Lula sancionou a Lei de Diretrizes Orçamentárias de 2025, mas com vetos a emendas parlamentares e fundo partidário. Lá vem barulho!


· O projeto, aprovado pelo Congresso Nacional no último dia 18, amarra uma meta de resultado primário - déficit ou superávit - por volta de zero, com um intervalo de tolerância de 0,25% do PIB. Vai faltar "inglês" pra ver...

 

· Lula também "desancionou" a lei que acaba com a volta do Dpvat e, assim, o seguro não será cobrado, pelo menos em 2025. 

· O Dpvat, para quem não lembra, foi extinto pelo governo do ex-presidente Jair Bolsonaro, mas reformulado e retomado no ano passado pela gestão Lula 3 sob o pomposo nome de Seguro Obrigatório para Proteção de Vítimas de Acidentes de Trânsito (Spvat).

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