A capacidade de um governo manter o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) com base em gastos públicos elevados e crédito facilitado, sem ganhos estruturais e aumento de produtividade - como vem ocorrendo no Brasil - é limitada e insustentável no longo prazo. É óbvio que um crescimento com tal natureza, muitas vezes chamado de "artificial" ou "induzido", pode trazer resultados de curto prazo, mas, por certo, enfrentará desafios colossais pelo simples fato de que o tempo é mestre e senhor da razão. Se não, vejamos:
O aumento dos gastos públicos, especialmente quando financiado por dívida, invariavelmente, conduz a um crescimento insustentável da dívida pública, já que, em algum momento, os investidores acabam perdendo a confiança na capacidade de o governo honrar seus compromissos. Resultado? Simples, aumento dos juros e dificuldades cada vez mais caras para rolar os “papagaios".
Pior, os déficits persistentes são sinônimo de ajustes fiscais dolorosos no futuro, sempre povoados de cortes de gastos e/ou aumentos de impostos, desacelerando a economia. Nem precisa ser economista para entender que o excesso de gasto público e o crédito facilitado quase sempre aquecem a demanda agregada, de forma desproporcional à oferta, gerando pressões inflacionárias.
Significa que, independentemente de quem tenha nomeado o chefe do Banco Central, se a inflação ameaça sair de controle, o BC acaba forçado a aumentar as taxas de juros, desacelerando o crescimento econômico.
Importante destacar ainda que a perda de confiança na política fiscal e monetária, invariavelmente, conduz à desvalorização da moeda, aumentando, como temos visto, o custo das importações e gerando ainda mais inflação.
A grande verdade que muitos têm dificuldade de encarar é que, sem ganhos de produtividade e reformas estruturais, o crescimento econômico tende a ser limitado. Em outras palavras, os manuais econômicos mostram que a produtividade é essencial para um crescimento (de fato) sustentável, pois permite que a economia produza mais com os mesmos recursos. Simples assim!
Quem não sabe que as incertezas geradas por políticas fiscais expansionistas e a falta de reformas estruturais podem desincentivar investimentos privados, que são cruciais para o crescimento de longo prazo?
Outra coisa: crédito facilitado não tem como não levar a um aumento do endividamento das famílias e empresas, resultando no aumento nas inadimplências e desestabilização do sistema financeiro. O excesso de crédito também pode induzir à formação de bolhas em setores vitais como o imobiliário, que, ao estourar, podem causar terríveis crises financeiras.
Finalmente, o crescimento econômico baseado em gastos públicos e crédito pode ser afetado por mudanças nas condições globais, como aumento das taxas de juros internacionais ou redução da demanda por "commodities", que são importantes para a economia brasileira.
Embora o governo possa sustentar o crescimento do PIB por algum tempo com gastos públicos e crédito facilitado, essa estratégia tem limites nítidos. Sem ganhos de produtividade e reformas estruturais que melhorem a eficiência da economia, o crescimento tende a se tornar insustentável, podendo levar a crises fiscais, inflacionárias ou financeiras.
Portanto, é crucial que políticas de estímulo ao crescimento sejam acompanhadas de reformas que promovam a produtividade e a competitividade da economia brasileira.
Foto: Agência Brasil
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*José Croelhas é economista, consultor, escritor e palestrante.