O cenário catastrófico de um período da Europa medieval, retratada na obra de Pieter Bruegel “O triunfo da Morte”, de 1562, em que a peste se alastra naquele continente, traz-nos àlembrança a guerra que parece triunfar no Oriente Médio, com todos os horrores já vistos na Faixa de Gaza e no território israelense, e com a possibilidadeagora do conflito armado se nuclearizar.
Uma guerra sem possibilidade de haver vencedores, sim porque a civilização humana já é a primeira a perder nas guerras. Vidas humanas perdidas de lado a lado; sendo que um lado, seja qual for, ao olhar o seu adversário do outro lado da fronteira, nele não vê humanidade.
E a morte triunfa, sob os olhares petrificados da ONU, outra grande derrotada nessa guerra, juntamente com a diplomacia multilateral.
Ressentimentos, revanches, territórios em disputa por questões históricas, econômicas ou religiosas são motivações que são apontadas como razões para essa guerra; embora não a justifiquem, como não se justificam as mortes de tantos civis, a indicar o desalentador fenômeno que desponta nas “novas guerras”, que é o de morrerem muitos mais civis do que militares enfileirados e treinados nos fronts de batalhas.
Assim como na obra de Bruegel, o cenário é de falta de esperança em algum futuro mais ameno, pois não há para a população civil, de lado a lado, um meio de deter a praga que lhes consome oscorpos e esperanças. E o perigo do mal se alastrar na região do Oriente Médio, em uma frenética escalada bélica, é outro fator de apreensão.
O fato é que a guerra entre Israel e Hamas, cujo estopim foi brutal ataque terrorista desse grupo ao território israelense, em 07 de outubro de 2023, começou a envolver outros atores, além de Israel e Palestina. Líbano, Irã, Síria e agora os Estados Unidos, que bombardeou recentemente instalações nucleares iranianas, estão agora no tabuleiro bélico montado no Oriente Médio, onde a tragédia humanitária de Gaza, assombrada pelas mortes e pela fome de milhões de pessoas, deixou até de ser percebida.
Pouco é lembrado também o drama dos reféns sequestrados pelo Hamas. E tabuleiro de guerra ora montado no Oriente Médio começa a evocar o terror nuclear da época da Guerra Fria, com recorrentes pesadelos coletivos, fazendo a humanidade como um todo temer por um futuroincerto, diante de um mundo já tão devastado nestes tempos de emergências e tragédias climáticas.
Parece esquecida da mesma forma a solução defendida pela destroçada ONU e pelos que buscam a paz, de dois Estados (judeu e palestino)coexistindo naquela região, sob o acompanhamento da comunidade internacional. É o apocalipse de Bruegel cada vez mais presente no Oriente Médio, infelizmente.
Foto: Divulgação
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João Cauby de Almeida Júnior é Doutor em Relações Internacionais (UNB) é docente do Programa de Pós-Graduação em Ciências e Meio Ambiente e integrante do Observatório de Estudos de Defesa da Amazônia ( OBED) e da Comissão dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da OAB/PA.