m documento de 180 páginas encaminhado pelo governo do Estado à Assembleia Legislativa explodiu na manhã de ontem como uma bomba administrativa, mas sinais anteriores já sinalizavam a medida - conforme a Coluna Olavo Dutra antecipou -, sem, contudo, prever efeitos tão dramáticos e devastadores.
Trata-se da proposta de reformulação da
estrutura administrativa do Estado que, entre outros órgãos, implode a Fundação
de Telecomunicações do Pará, a Funtelpa, criada há 47 anos, tornando-a mero
“puxadinho” da Secretaria de Comunicação do governo. No bojo da proposta, que
esmaga serviços relacionados a direitos humanos, grupos vulneráveis, jovens,
idosos e outros segmentos, até ribeirinhos ficam órfãos, com a extinção sumária
da Companhia de Portos e Hidrovias.
Meia volta, afinal?
Em meio à grita generalizada, porém,
principalmente na Funtelpa, a noite de quarta-feira trouxe um alento: a
informação de que, por uma razão qualquer, o governo havia retirado a proposta
da Comissão de Constituição e Justiça da Assembleia, onde quatro analistas se
debruçavam sobre o documento com a promessa de encaminhá-lo à presidência da
casa na próxima segunda-feira. Essa informação não foi confirmada pela Comissão
até o encerramento desta edição, embora veiculada por pessoas com expertise na
Casa.
Em contato com telefônico com a coluna,
o presidente da Comissão, deputado Eraldo Pimenta, do MDB, confirmou apenas que
o documento estava em análise até segunda-feira, contém 180 páginas e sugere
uma “mexida importante” do governo na máquina administrativa, inclusive
comentando a necessidade de “enxugamento” de algumas secretarias que não
apresentam produtividade suficiente. Pimenta citou, hipoteticamente, o caso da
Secretaria de Obras, que antes operava com dez projetos no Estado e que agora,
com 50, não teve sua capacidade de pessoal aumentada. Em contato seguinte,
sobre a retirada do projeto da Comissão pelo governo, prometeu “checar” - e
mais não disse até o momento.
Em grupo de mensagens, o titular da Secretaria de
Igualdade Racial e Direitos Humanos, Jarbas Vasconcelos confirmou a retirada da
pauta “por determinação pessoal do governador”.
Efeito demolidor
Pelo sim, pelo não, o projeto de Lei nº
701/2024 é um exercício de demolição de alguns setores considerados importantes
no serviço público, da forma como está posto. Seus efeitos demolidores se
multiplicam ante a noção geral de que, pelo buraco da agulha da Assembleia
Legislativa, todo camelo passa, o que não parece o caso, a se confirmar a retirada
do projeto.
Na prática, a reforma administrativa ou
reorganização administrativa na proposta apresentada pelo governo estadual
extingue órgãos, provoca fusão de unidades administrativas e absorve
secretarias dentro de outras secretarias, o que leva os observadores de plantão
a especular sobre a criação de 'supersecretarias'.
Redução de custos
No texto do projeto, o governo
justifica a mudança sob a alegação de enxugar a máquina para “reduzir custos
com energia, água, telefonia, bens de consumo e serviços contratados” e se
justifica em números: redução de 348 cargos comissionados, com economia anual
estimada de R$ 139,1 milhões, e despesas de custeio, dentre outros, com
expectativa de queda de R$ 240 milhões.
Na
abordagem da comunicação pública e o papel da Funtelpa no contexto da reforma
administrativa, sabe-se que a Secretaria de Comunicação absorverá a Fundação.
Na página 20 do texto, o Executivo lança o papel da pasta de comunicação no
processo da reforma administrativa, o que gera o grande debate público e o
sentimento de indignação diante da possibilidade da redução do papel da
Funtelpa na política relacionada à comunicação pública no Pará.
O que será o amanhã?
Em sete artigos - do 27 ao 34 -, a
redação do projeto institui o caminho futuro da Funtelpa. Os artigos 28 e 29
definem a redistribuição dos servidores para a Secom. No artigo 31, cria-se o
cargo de secretário-adjunto, que passa a integrar o quadro de cargos da
Secretaria de Comunicação. E
no artigo 32, que passa a integrar o anexo III da lei de criação da Secom
(7.056/2007), criam-se também 24 cargos comissionados vinculados à Secretaria.
Sabe-se que atualmente existem 91 comissionados na estrutura da Funtelpa. A
Fundação dispõe de um Plano de Carreiras, Cargos e Remuneração dos Servidores e
conta com um quadro de 393 cargos.
Fala quem conhece
Dada a comoção em que o caso afundou
funcionários da Funtelpa, a coluna ouviu ex-presidentes da Fundação, ontem. A
jornalista Adelaide Oliveira não escondeu a contrariedade à proposta do governo
e ressaltou a importância da estrutura pública estadual e toda a rica produção
jornalística, audiovisual, além das diversas campanhas atreladas à prestação de
serviços públicos, como aquelas relacionadas às pautas de direitos humanos.
“No momento em que o mundo discute o
combate às fake news, a gente vai extinguir emissoras públicas que têm compromisso
com o público?”. “Aí existe uma distinção entre emissora pública e ter
autonomia, ter orçamento próprio, virar um apêndice de uma Secretaria da
Comunicação e cair na rubrica de publicidade. Eu temo muito pelo futuro da
Funtelpa”, lamenta a jornalista, que presidiu a Fundação por duas vezes.
“Eu lamento muito essa decisão. Acho
extremamente equivocada, vai na contramão de quando você pensa em uma
comunicação pública forte”, diz ela.
Ney
Messias, que esteve à frente da Funtelpa entre 2011 a 2013, adotou um tom mais
ameno, mas não menos crítico. “Minha opinião é que antes de fazer juízo
de valor, eu preciso entender algumas áreas que não foram explicitadas no
projeto, e creio que o governo deve explicar. Não sei como está hoje, mas
lembro que toda a produção da TV e da Rádio Cultura, por exemplo, era composta
por DAS, em função até da especificidade de cargos, ou por problemas
regimentais. Como deve ficar essa área? Isso para falar de apenas de uma área.
A produção será terceirizada? Os DAS atuais continuarão prestando esse serviço,
sendo dirigidos para outros órgãos?
Nas
redes sociais fala-se muito sobre transmissão de Parazão, mas esse já é um
evento terceirizado, até onde sei, mas como ficará a transmissão? A Rádio
Cultura, importantíssima para a produção e difusão da produção musical deste
Estado, está com sua continuidade de funcionamento garantida? O quadro de
produtores, locutores, operadores e programadores vai ser mantido? Se não, com
qual material humano a Rádio Cultura irá operar? Nem
falo dos concursados, porque esses, bem ou mal, têm seus direitos garantidos,
mas o que farão com os funcionários extremamente competentes que trabalham lá,
e que não tem concurso público, mas anos de casa?”
Prefiro esperar os esclarecimentos, já colocando essas reflexões, e fico na
torcida para que entre erros e acertos, a comunicação pública saia
fortalecida”, finaliza Ney Messias.
“Não vai ficar assim”
Os Sindicatos dos Jornalistas do Pará e
dos Trabalhadores das Empresas de Radiodifusão também se manifestaram contra o
projeto e prometem adotar “medidas jurídicas e políticas possíveis para
defender a comunicação, os serviços públicos e os servidores da Funtelpa”.
Papo Reto
· Não basta “anular” e
transformar a Funtelpa em “puxadinho”: o que se diz é que a Fundação está em
falta no item recolhimento previdenciários dos servidores.
· Embora a informação não seja
confirmada pela direção da Fundação, fala-se que o calote atinge 40
contribuintes da ativa e outros com tempo para aposentadoria.
· De autoria do deputado Eder
Mauro (foto), projeto de lei cria mais um tipo de flagrante delito no
Código Penal, o flagrante aprovado, que permite o uso de imagens de câmeras
para configurar o delito em flagrante.
· O flagrante ocorrerá quando o
suspeito for encontrado, em até 24 horas após o fato, e reconhecido pela vítima
ou por terceiros que o identifiquem por meio de filmagem e foto em ação
criminosa.
· Ruídos nos bastidores
políticos em Marabá: a Polícia Federal deve fazer uma operação contra
candidatos a vereador que usaram e abusaram da estrutura do Estado com a distribuição
de cheque moradia.
· Organizações de todo Brasil
emparedaram o perdulário Ministério da Saúde cobrando a entrega de remédio para
Atrofia Muscular Espinhal, que diz aguardar "resposta de laboratório sobre
acordo".
· O FNDE promete, em 2025, ser
absolutamente "implacável" na fiscalização do programa de alimentação
escolar, única fonte de boa comida para milhares de alunos brasileiros.
· A medida é mais do que
oportuna e inadiável, haja vista os raros registros de experiências exitosas e
o excesso de denúncias de safadezas com o dinheiro da merenda escolar.