Em Curralinho, sobra beleza no novo hospital, mas faltam remédios, médicos e estrutura

Vídeos denunciam nas redes sociais como a reforma da unidade de saúde priorizou a estética, mas peca no que é mais importante.

23/07/2025, 12:30

Como obra pública, o hospital recebe elogios da população, mas fica a dever na prestação de serviços, cuja responsabilidade é da prefeitura do município/Fotos: Divulgação.


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a última terça-feira, 22, os governos do Estado e do município celebraram - bem à maneira que a grandeza da obra exige, claro - a entrega do novo Hospital de Curralinho, na Ilha do Marajó. Para além do fato político, a expectativa é de que o novo equipamento público, orçado em R$ 2,2 milhões, resolva problemas aparentemente pequenos, mas que vêm resultando em transtornos enormes no dia a dia da população.

Entre as dificuldades enfrentadas por quem procura atendimento em Curralinho estão a falta de medicamentos, a falta de estrutura para transporte quando o assunto é transferência de pacientes e a contratação de médicos inexperientes, cujos atendimentos deixam a desejar em atenção e solução, segundo a população.

Vídeos encaminhados à Coluna Olavo Dutra mostram algumas dessas situações. Em uma delas, uma paciente identificada como Graciele Gonçalves teria perdido os movimentos das pernas depois de ter sido submetida à aplicação de uma injeção no momento do parto. Casos de mães que penam para ter crianças na unidade, segundo denúncias, seriam recorrentes em Curralinho.

A mesma mulher aparece, num momento mais à frente do vídeo, sendo transportada no chão de uma voadeira para Breves, onde seria submetida a uma ressonância magnética no hospital regional. O transporte improvisado não poupa sofrimento: Graciele recebe todo impacto da maresia, que na travessia entre as duas cidades é bem forte, no corpo inteiro, aumentando a precariedade de um estado de saúde que, por si só, já é penoso.

Vidas interrompidas

Ao chegar no local de desembarque, Graciele é levada para o hospital de Breves em um táxi, porque não havia ambulância para fazer, sequer, o transporte da paciente entre o porto e a unidade. O carro, um Fiat Uno, apertado e sem ar condicionado. Na volta, a mulher sofreu com um frio extremo na lancha. Nunca houve, segundo os denunciantes, explicação e, muito menos, qualquer pedido de desculpas pela humilhação.

Ainda de acordo com o narrador do vídeo, a própria mãe dele, já com câncer, era medicada apenas com a aplicação de uma injeção e mandada de volta para casa sempre que procurava o atendimento com dores.

Em outro áudio, um morador relata, com receio de se identificar, que a mortalidade infantil é grande no hospital. Graciele, a mais recente vítima e cuja história já foi relatada na matéria, estaria internada em Belém e com o filho recém-nascido em Breves, depois que perdeu os movimentos das pernas, segundo a denúncia. Ela segue internada.

Uma nova realidade?

De acordo com a publicidade do governo do Estado, o novo hospital conta com 41 leitos, distribuídos entre clínica médica, pediatria, obstetrícia, cirurgia, observação e estabilização, além de consultório odontológico, serviços de urgência e emergência, internações, partos, cirurgias eletivas, ultrassonografia, raios-X digital, endoscopia, eletrocardiograma, exames laboratoriais e acompanhamento multiprofissional com nutricionista, fisioterapeuta, assistente social, enfermeiros, médicos e biomédicos.

Durante o anúncio de entrega do novo hospital municipal, tanto o prefeito Cléber Edson quanto o governador Helder Barbalho enfatizaram que o investimento representa novos tempos para a saúde do município. E isso é o que todos esperam, já que as vítimas do passado em nada podem ser beneficiadas com as mudanças atuais. Guardam consigo as mazelas do passado. E se casos recorrentes seguirão no presente, só o tempo irá dizer.

Quanto às denúncias encaminhadas ao editor, a coluna encaminhou pedido de nota à Prefeitura de Curralinho para ouvir o posicionamento da gestão, mas até a publicação desta matéria não houve retorno. O espaço segue aberto para possíveis esclarecimentos. 

Papo Reto

O prefeito de Belém, Igor Normando (foto), determinou a imediata remoção dos tapumes das obras praticamente concluídas e a entrega de duas praças ao uso da população do Distrito de Icoaraci. O assunto foi tema de reportagem recente da coluna.   

•Na pracinha da capela mortuária, porém, os brinquedos infantis ficaram sem grades de proteção, à mercê dos muitos vândalos que povoam as ruas da vila.

Na pracinha do posto, gigantescas castanholas não foram podadas como deveriam antes da reforma, oferecendo risco iminente nesses tempos de tantas tempestades.

•Abrindo o jogo: em reunião com líderes de esquerda no Chile, Lula assumiu publicamente a necessidade de censura nas redes sociais, em nome da "transparência de dados e governança digital global".

Sem ligar para o Itamaraty, senadores brasileiros deverão ir aos EUA tentar abertura de diálogo com Trump no âmbito do tarifaço.

•Resposta imediata da Associação Brasileira das Indústrias de Pescados à crise entre Brasil e EUA: solicitar ao governo federal uma linha de crédito emergencial entre R$ 800 milhões e R$ 900 milhões.

A ideia é evitar o colapso do setor. O apelo, feito por carta ao presidente Lula, evidencia não só a gravidade da situação atual, mas o que está por vir.

•As novas regras visam, diz o governo, "reforçar o controle e a fiscalização sobre o setor, limitar o número de armas de fogo e exigir comprovação de prática para manter registros ativos."

Nada se fala sobre o crime organizado que, dizem, já habita as estranhas dos poderes constituídos e segue fazendo o que bem entende nos quatro cantos do País. 

•De um leitor da coluna: “Aqui, no sul do Pará, quem manda nos garimpos é o CV. Os coitados dos índios e os garimpeiros só entram na terra se pagarem um percentual”.

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