a última terça-feira, 22, os governos do Estado e do município celebraram - bem à maneira que a grandeza da obra exige, claro - a entrega do novo Hospital de Curralinho, na Ilha do Marajó. Para além do fato político, a expectativa é de que o novo equipamento público, orçado em R$ 2,2 milhões, resolva problemas aparentemente pequenos, mas que vêm resultando em transtornos enormes no dia a dia da população.
Entre as dificuldades enfrentadas por quem procura atendimento em Curralinho estão a falta de medicamentos, a falta de estrutura para transporte quando o assunto é transferência de pacientes e a contratação de médicos inexperientes, cujos atendimentos deixam a desejar em atenção e solução, segundo a população.
Vídeos encaminhados à Coluna Olavo Dutra mostram algumas dessas situações. Em uma delas, uma paciente identificada como Graciele Gonçalves teria perdido os movimentos das pernas depois de ter sido submetida à aplicação de uma injeção no momento do parto. Casos de mães que penam para ter crianças na unidade, segundo denúncias, seriam recorrentes em Curralinho.
A mesma mulher aparece, num momento mais à frente do vídeo, sendo transportada no chão de uma voadeira para Breves, onde seria submetida a uma ressonância magnética no hospital regional. O transporte improvisado não poupa sofrimento: Graciele recebe todo impacto da maresia, que na travessia entre as duas cidades é bem forte, no corpo inteiro, aumentando a precariedade de um estado de saúde que, por si só, já é penoso.
Vidas interrompidas
Ao chegar no local de desembarque, Graciele é levada para o hospital de Breves em um táxi, porque não havia ambulância para fazer, sequer, o transporte da paciente entre o porto e a unidade. O carro, um Fiat Uno, apertado e sem ar condicionado. Na volta, a mulher sofreu com um frio extremo na lancha. Nunca houve, segundo os denunciantes, explicação e, muito menos, qualquer pedido de desculpas pela humilhação.
Ainda de acordo com o narrador do vídeo, a própria mãe dele, já com câncer, era medicada apenas com a aplicação de uma injeção e mandada de volta para casa sempre que procurava o atendimento com dores.
Em outro áudio, um morador relata, com receio de se identificar, que a mortalidade infantil é grande no hospital. Graciele, a mais recente vítima e cuja história já foi relatada na matéria, estaria internada em Belém e com o filho recém-nascido em Breves, depois que perdeu os movimentos das pernas, segundo a denúncia. Ela segue internada.
Uma nova realidade?
De acordo com a publicidade do governo do Estado, o novo hospital conta com 41 leitos, distribuídos entre clínica médica, pediatria, obstetrícia, cirurgia, observação e estabilização, além de consultório odontológico, serviços de urgência e emergência, internações, partos, cirurgias eletivas, ultrassonografia, raios-X digital, endoscopia, eletrocardiograma, exames laboratoriais e acompanhamento multiprofissional com nutricionista, fisioterapeuta, assistente social, enfermeiros, médicos e biomédicos.
Durante o anúncio de entrega do novo hospital municipal, tanto o prefeito Cléber Edson quanto o governador Helder Barbalho enfatizaram que o investimento representa novos tempos para a saúde do município. E isso é o que todos esperam, já que as vítimas do passado em nada podem ser beneficiadas com as mudanças atuais. Guardam consigo as mazelas do passado. E se casos recorrentes seguirão no presente, só o tempo irá dizer.
Quanto às denúncias encaminhadas ao editor, a coluna encaminhou pedido de nota à Prefeitura de Curralinho para ouvir o posicionamento da gestão, mas até a publicação desta matéria não houve retorno. O espaço segue aberto para possíveis esclarecimentos.
Papo Reto
•O prefeito de Belém, Igor Normando (foto), determinou a imediata remoção dos tapumes das obras praticamente concluídas e a entrega de duas praças ao uso da população do Distrito de Icoaraci. O assunto foi tema de reportagem recente da coluna.
•Na pracinha da capela mortuária, porém, os brinquedos infantis ficaram sem grades de proteção, à mercê dos muitos vândalos que povoam as ruas da vila.
• Na pracinha do posto, gigantescas castanholas não foram podadas como deveriam antes da reforma, oferecendo risco iminente nesses tempos de tantas tempestades.
•Abrindo o jogo: em reunião com líderes de esquerda no Chile, Lula assumiu publicamente a necessidade de censura nas redes sociais, em nome da "transparência de dados e governança digital global".
•Sem ligar para o Itamaraty, senadores brasileiros deverão ir aos EUA tentar abertura de diálogo com Trump no âmbito do tarifaço.
•Resposta imediata da Associação Brasileira das Indústrias de Pescados à crise entre Brasil e EUA: solicitar ao governo federal uma linha de crédito emergencial entre R$ 800 milhões e R$ 900 milhões.
•A ideia é evitar o colapso do setor. O apelo, feito por carta ao presidente Lula, evidencia não só a gravidade da situação atual, mas o que está por vir.
•As novas regras visam, diz o governo, "reforçar o controle e a fiscalização sobre o setor, limitar o número de armas de fogo e exigir comprovação de prática para manter registros ativos."
•Nada se fala sobre o crime organizado que, dizem, já habita as estranhas dos poderes constituídos e segue fazendo o que bem entende nos quatro cantos do País.
•De um leitor da coluna: “Aqui, no sul do Pará, quem manda nos garimpos é o CV. Os coitados dos índios e os garimpeiros só entram na terra se pagarem um percentual”.