radicionalmente, a figura da primeira-dama oscila entre o papel de acompanhante discreta e o de influenciadora política. O Brasil tem um histórico de primeiras-damas reclusas, dedicadas ao cuidado com a casa - com os maridos ou com a população, como “mãe dos pobres”.

Recorde-se, por exemplo, o famoso "incidente do sapato" de Nikita Khrushchev na ONU, em 1960. O líder soviético, em um acesso de fúria, golpeou a mesa com seu sapato, um gesto que se tornou um símbolo da Guerra Fria e da tensão diplomática da época, mas que foi associado ao destempero, inapropriado para quem poderia destruir o mundo apenas apertando um botão. Ou ainda, as declarações controversas de Marie Antoinette, esposa do rei Luís XVI, que, segundo a lenda, teria sugerido aos famintos, que tomavam as ruas exigindo pão - “se não têm pão, que comam brioche” -, alimentando a fúria que culminou na Revolução Francesa e a fez, literalmente, perder a cabeça.
Mulher do presidente
No cenário pátrio, Janja tem acumulado episódios que ocupam pautas jornalísticas, análises sociológicas e conversas de botequim. A presença dela na vida nacional é uma imposição circunstancial. Entenda-se: enquanto Lula tem uma trajetória social que o tirou do anonimato das fábricas para o centro da vida pública nacional, levando-o a se tornar o único brasileiro a governar três vezes o País, Janja é uma escolha pessoal do homem Luiz Inácio Lula da Silva. “Ninguém além de Lula escolheu Janja. Ninguém votou nela. Mas todos temos que lidar com ela”, contextualiza o sociólogo Sérgio dos Santos.
Conduzida por Janja, a reforma do Palácio da Alvorada, com gastos elevados em móveis e decoração, contrastou com a doação de um simples micro-ondas para uso dos jornalistas que cobrem o Palácio, gerando acusações de oportunismo e mesquinharia.
Janja fez referência em tom de deboche sobre a morte de Tiü França, o bolsonarista que protagonizou a explosão em frente ao Supremo Tribunal Federal, afirmando que o "bestão acabou se matando com fogo de artifício".
A declaração de Janja sobre a inexistência de "linha de hierarquia" entre ela e o presidente Lula, somada à sua atuação como "articuladora" com "total autonomia", alimenta discussões sobre os limites de sua influência, não na vida ou nas escolhas de Lula, mas em seu governo e, portanto, na vida nacional. O aumento da imagem negativa de Janja entre os brasileiros, detectada por duas pesquisas este ano, deveria reforçar a necessidade de cautela. Mas isso não é o que está acontecendo.
Ainda está fresca na memória a repercussão da troca de farpas da primeira-dama brasileira com Elon Musk durante o G20 Social. Musk é cofundador e líder da Tesla e CEO SpaceX, da Neuralink e da The Boring Company. A resposta ríspida de Janja ao megaempresário, que incluiu um insulto pessoal, desviou o foco do evento e gerou críticas sobre a postura anti-diplomática da primeira-dama. O G20 reúne as 20 maiores economias do mundo que anualmente se encontram para discutir estratégias econômicas de acordo com o contexto mundial.
Atos e palavras
Em 2023, Janja embarcou ao lado de Lula para as agendas do bloco que ocorriam na Índia. Diferente das outras cônjuges de presidentes e chefes de Estado, Janja foi a única esposa a acompanhar as reuniões do grupo, normalmente restritas a líderes de governo e fechadas para a imprensa. Na ocasião, Janja ignorou a programação que havia sido preparada para primeiras-damas para acompanhar as discussões ao lado de Lula, mesmo sem possuir cargo oficial no governo, o que produziu desconforto em alguns representantes estrangeiros.
Além das palavras, Janja às vezes excede nos atos. A polêmica do "Janjapalooza", com shows financiados por empresas públicas, também expôs a prática de tráfico de influência, com o uso de recursos públicos em ações que estão longe de serem prioridade das ações do governo.
Mais recentemente, o clima no Palácio do Planalto se inflamou após o vazamento de notas e relatos sobre uma nova gafe de Janja, dessa feita durante a viagem da comitiva presidencial à China.
Durante o encontro entre os presidentes Lula e Xi Jinping, Janja pediu a palavra para falar sobre como a plataforma Tik-Tok representava um desafio em meio ao avanço da extrema direita no Brasil. Para ela, o algoritmo “favorece a direita”. Segundo relatos, ela ouviu do próprio presidente chinês que o Brasil tem legitimidade para regular e até banir, se quiser, a plataforma.
Coisa com coisa
Nas palavras de um ministro, ninguém entendeu “nem o tema nem o pedido para falar” em um encontro em que não havia falas previstas. Na avaliação de um integrante da comitiva, a situação foi constrangedora e se tornou “o ponto negativo de uma viagem com resultados positivos para o Brasil”.
A acusação de traição entre ministros, com o nome de Rui Costa sendo citado como possível fonte, intensificou a tensão e gerou um clima de desconfiança. A reação de Lula, que defendeu a esposa e criticou a postura dos ministros, expôs a fragilidade das relações internas no governo.
Ordem de silêncio
A ordem de silêncio, imposta pela Secom, demonstra a tentativa de conter a crise e evitar novos desgastes. No entanto, a repercussão negativa dos episódios, somada à crescente impopularidade da primeira-dama, se soma a uma sucessão de tropeços comunicacionais do governo e representa um desafio para Lula.
Dois desses desafios de comunicação, em que a oposição encurralou o governo, foram a “crise do Pix” e o anúncio da fraude no INSS. Comprovadamente não havia intenção no governo de taxar pequenas movimentações do Pix, e sim incidir sobre as movimentações suspeitas de lavagem de dinheiro. Em relação ao esquema no INSS, as investigações da PF e do MPF indicam que a maioria das entidades suspeitas surgiu entre os governos Temer e Bolsonaro. Mas aqui, de novo, a comunicação do governo perdeu para a versão da oposição.
Mulheres na COP30
Em meio a essa sucessão de embates e guerras de narrativas, as gafes de Janja, assim como as de Khrushchev e Marie Antoinette, servem como um lembrete de que as palavras e ações de quem tem alta visibilidade e responsabilidade pública, têm um peso superlativo. No caso da primeira-dama, a busca por um equilíbrio entre a autonomia e o respeito ao protocolo seria o desejável, para evitar novos episódios que possam comprometer ainda mais a imagem do governo e a confiança da população.
Contudo, isso parece estar longe de acontecer. Pelo menos é o que indica a notícia de que Janja será a responsável pelo engajamento de mulheres na COP 30. O comunicado do comitê gestor informa que os responsáveis setoriais funcionarão como “caixas de ressonância, canais e facilitadores do fluxo de informações e de percepções de suas respectivas áreas”. Ainda de acordo com a nota, todos os nomes, incluindo o de Janja, foram escolhidos "por serem atores de relevância e credenciados em suas respectivas áreas".
Papo Reto
•Ainda sobre os bastidores da mexida de tabuleiro na área da saúde: Sipriano Ferraz (foto) é palaciano, está entre os mais próximos do governador Helder Barbalho e, ao que se indica, será um forte nome na linha de frente eleitoral do time do governo com sua provável candidatura ao Legislativo Estadual.
•O novo posto, na Fundação Hospital de Clínicas Gaspar Viana, mantém Sipriano no primeiro escalão do governo e agora com liberdade para pavimentar o seu caminho político.
•Vocês já observaram que quem determina algumas ações do governo Lula é Bolsonaro e seus soldados? Os canais de televisão vão mais longe, e dizem que o ex é o presidente de fato.
•Mudança no Bolsa Família: quem exceder o limite de renda poderá seguir no programa, mas só por até 12 meses, com 50% do benefício, desde que a renda per capita não ultrapasse R$ 706.
•Como não bastasse a falência do Correios, a Eletrobras acumulou prejuízo de R$ 81 milhões só no primeiro trimestre de 2025, segundo a Agência Nacional de Energia Elétrica.
•A safra 2025, prevê o IBGE, alcançará 328,4 milhões de toneladas.
•A safra 2025, prevê o IBGE, alcançará 328,4 milhões de toneladas.
•O lodo da máquina de lavar louça, aparelhos der ar condicionados, microondas, painéis solares, aquecedores de água e chuveiros acumulam micróbios que podem trazer soluções climáticas para atenuar o aquecimento global.
•Estudo revela “sala” ou "tubos de rapé" para uso de alucinógenos em rituais religiosos da antiga cultura Chavín, região dos Andes, Peru há 2.500 anos.
•Acredite, a manga pode ser uma aliada importante contra o diabetes, conclui uma pesquisa realizada por cientistas do Instituto de Tecnologia de Illinois.