as mesmas esquinas de onde, varando os
tempos, viam-se famílias bem arrumadas caminhando sobre espaços vagos, mas
concorridos, fazendo compras; dois ou três destacados comerciantes trocando
ideias nos primeiros raios da manhã e sob a brisa que se esgueirava por entre
ruas estreitas soprada pela Baía do Guajará; trabalhadores abrindo portas e
lojas de sapatos, armarinhos, de material esportivo e de joias se ofereciam aos
clientes sem alardes, hoje em dia, postada nessas mesmas esquinas do passado,
nem mesmo a mente mais sombria poderia imaginar o vergonhoso grau de degradação
a que chegaria o Centro Comercial de Belém que, um dia, o empresário Said
Xerfan, dono de lojas de tecidos e então prefeito de Belém, sonhou e ergueu o
que chamou singelamente de Belo Centro - uma área comercial limpa, arejada e
convidativa.
Passado e presente
Se é verdade que o presente se constrói
com o olhar no passado, seguidas administrações da cidade, algumas permissivas
demais, outras impotentes pela própria natureza, não enxergaram o passado, nem
além dele - aquele que deu origem à capital do Pará. Pecaram por omissão, ou
por falta de espírito público, e se apegaram aos próprios interesses de umbigo,
castigando, ao ignorar as partes, o todo da população. Hoje, graças a elas, o
Centro Comercial é o mais fiel retrato do descaso, do desrespeito público e da decadência.
Uma imagem chocante
Dia desses, um velho amigo encaminhou
uma fotografia acidental e curiosa à Coluna Olavo Dutra. À primeira
vista, parecia um amontoado de embarcações empilhadas - e essa impressão acabou
de tal maneira encravada que já não parece mais possível removê-la da mente. De
um outro amigo do redator, a quem a fotografia foi mostrada, veio a seguinte
impressão: “Gostei - muito - dessa foto. Os trilhos indicam a trilha da
miserável cidade que não menos miserável prefeito plantou. É forte para
prêmio”. Trata-se, portanto, da imagem que abre o relato a seguir sobre o
Centro Comercial de Belém, de onde o passado foi apagado por conveniências
políticas e deu lugar a um presente sofrível, do qual o futuro foge como o
diabo foge da cruz. Para essa Belém caquética, a COP30 manda lembranças.
Por onde não passa a COP
Belém passa por intervenções físicas milionárias em áreas históricas por conta
da COP30, entre elas o Mercado Ver-o-Peso e a avenida Visconde de Souza Franco,
a Doca. Dessas obras, todo mundo já
sabe. O que talvez muita gente ignore, desconsidere ou tenha esquecido, é que
um pedaço significativo da cidade está completamente à deriva - sem organização
e sem as regras, seja de ocupação ou de mobilidade urbana: é o Centro
Comercial.
A potoca das regras
Nos últimos anos, tem sido flagrante a
deterioração das regras e o penar de quem se arrisca a transitar pelo comércio
popular de Belém. A ordem pública sumiu. Independente do acesso que o cidadão
possa fazer, seja pelo Boulevard Castilhos França, pela rua Portugal, ou pela
travessa Padre Eutíquio, as barreiras e obstáculos tomam conta da desregrada
área histórica da cidade. Nada foi feito para equilibrar a dinâmica da economia
informal, desnudando um escandaloso desfavor ao ir e vir.
Desordem acima de tudo
As barreiras, bem visíveis - caso das
travessas Padre Eutíquio e Campos Sales, além da rua 7 de Setembro - foram
praticamente institucionalizadas. Sem
fiscalização ou qualquer possibilidade de ajuste no ordenamento, o consumidor
sofre para atravessar a rua 7 de Setembro, trecho entre a Manoel Barata e a 15
de Novembro. Um variado comércio tomou conta da via pública, das ruas e das
calçadas. As calçadas, na maioria dos casos, são ocupadas por caixas com
mercadorias, mas também por assentos para acomodar clientes das barracas de
venda de comida. Sem qualquer cerimônia, é fácil encontrar serviços de designer de
sobrancelhas e de manicure, além do lixo, impedindo o fluxo de pedestres.
“A Deus pertence”
Quem um dia viu a rua João Alfredo e a continuidade dela, a rua Santo Antônio, sentido Presidente Vargas, espanta-se: um emaranhado de lonas toma conta do visual da rua estrangulada e sem fôlego. Lembra um grande cortiço. Um comerciante tradicional lamenta o “estado de coisas”. “Difícil pensar em uma saída no médio prazo. Vamos ver o que o novo prefeito pretende fazer”, soluça, consolidando a resiliência histórica.
Frequentador do comércio, muito mais na
época de Natal, o cametaense Manoel Menezes critica a desorganização e as
irregularidades. “A gente não pode se acostumar com isso. Fico triste de ver o
comércio desse jeito”, lamentou. “Acho que todo mundo tem o direito de ganhar
seu dinheiro, mas é preciso melhorar para beneficiar a todos”.
Papo Reto
· O que se diz é que na lista
de “achados e perdidos” que circula nos corredores do Tribunal de Justiça do
Pará consta o telefone celular de um magistrado no qual haveria conteúdos
relacionados à pedofilia. E mais não se diz, embora haja muito o que dizer.
· Recentemente, a Assembleia
Legislativa criou o Cadastro de Pedófilos, que prevê identificar pessoas
envolvidas nesse tipo de crime, mas a lei ainda não está regulamentada. Pelo
sim, pelo não, a lista parece que está cada vez maior.
· O ministro Jader Filho, das
Cidades (foto), participa amanhã, em Belém, do "Simpósio para
o Fortalecimento da Gestão Municipal no Pará 2025-2028", promovido pelo
TCM, no Hangar. A ideia é oferecer capacitação e orientações técnicas a
prefeitos, vereadores e equipes de transição, que assumem os mandatos em
janeiro de 2025.
· O evento também terá a presença
do governador Helder Barbalho, presidente do STF, ministro Luís Roberto
Barroso, ministro André Mendonça, do STF, presidente TCU, ministro Bruno
Dantas, e da ministra-substituta do TSE, Edile Lobo.
· Um bar chamado “Vero”,
novo point da Benjamin Constant, entre Braz e Nazaré, não
satisfeito em tomar a calçada dos transeuntes, agora ocupa metade da pista
Benjamin.
· Depois
de 16 meses em obras, o Mercado de São Brás será reinaugurado no dia 13 de
dezembro. A ideia é devolver ao prédio histórico o glamour do início do século,
sem deixar de atender às necessidades da população. O investimento é de
R$ 125 milhões.
· A Prefeitura de Ananindeua
segue até o final deste mês com a campanha "Fique em Dia", que
permite a pessoas físicas e jurídicas a regularização de débitos tributários
com descontos de até 100% em multas e juros e parcelamento em até 60 vezes.
· A campanha abrange o Imposto
sobre a Propriedade Predial e Territorial Urbana, Imposto sobre Transmissão de
Bens Imóveis, Imposto sobre Serviços de Qualquer Natureza e Alvará de
Funcionamento.