Denúncia aponta suposta descaracterização do prédio do Cine Olympia, em reforma quatro anos

Fechado desde a pandemia, cinema mais antigo no Brasil segue em obras, mas órgãos ligados ao patrimônio histórico sequer sabem o que acontece por trás dos tapumes.

24/04/2025, 11:00

Segundo a denúncia, alteração na estrutura interna do prédio deve resultar na redução da sala de exibição, com risco de acabar sob controle da iniciativa privada/Fotos: Divulgação.


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o dia em que completa 113 anos de fundação, o Cine Olympia, em Belém, considerado o cinema mais antigo do Brasil - “ainda em funcionamento” -, não tem muito a comemorar: está fechado há cinco anos, desde a pandemia de covid 19, e se encontra em obras de reforma que devem ser entregues em outubro ano, se Deus mandar bom tempo.  

Ocorre que essas obras de reforma são apontadas em denúncia encaminhada à Coluna Olavo Dutra como “obscuras”, por supostamente descaracterizar o prédio centenário, tombado pelos Institutos do Patrimônio Histórico nas três instâncias - do município, do Estado e federal.   

Paredes derrubadas

Segundo a denúncia, feita através de uma fonte que tem conhecimento e sensibilidade sobre preservação do patrimônio cultural, histórico e artístico, a preocupação é quanto a certos detalhes no andamento da obra. Dá conta da derrubada de paredes dos corredores laterais dos dois lados, o que deverá reduzir a largura da sala de exibição.

Conforme a fonte, “se essas paredes estão sendo retiradas, as decisões deveriam ser precedidas de prévias consultas e discussões com representantes dos segmentos interessados”.  

As obras de restauração e modernização do Cine Olympia tiveram início em março de 2023. A previsão é de que as obras sejam concluídas este ano. O projeto, aprovado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, visa a recuperação do cinema histórico e sua reabertura como um espaço cultural e cinematográfico.  

Quatro anos de espera 

O Cine Olympia foi inaugurado em 24 de abril de 1912, e depois de quatro anos fechado, as obras de reforma do prédio começaram em março de 2023, com orçamento de R$ 11 milhões.   A reforma está a cargo da Prefeitura de Belém, por meio da Secretaria de Cultura e Turismo de Belém, a ex-Fumbel, com patrocínio do Instituto Pedra e Instituto Cultural Vale. Em março passado, uma reunião no Palácio Antônio Lemos discutiu as obras de restauração com o prefeito Igor Normando, o presidente do Instituto Pedra, Luís Fernando de Almeida, e a arquiteta responsável pelo projeto de restauração, Ana Elizabeth Almeida. 

Ana Elizabeth Almeida detalhou que no processo de restauração, houve descobertas inesperadas que ampliaram o escopo do projeto. "Quando começamos a obra, ainda nas prospecções habituais, encontramos novos elementos, como os arcos, que não estavam previstos inicialmente”, explicou.  

A arquiteta informou também que o projeto original não incluía um bom planejamento acústico e de estrutura, o que exigiu uma adequação do rumo das obras.  

Sem fiscalização

A denúncia considera igualmente preocupante a falta de visitas mais frequentes de técnicos do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, autarquia federal do governo do Brasil, encarregada da fiscalização de obras dessa natureza.  

“Essa falta de visitas de fiscalização, comprovada com operários da obra, pode suscitar desvios no andamento dos serviços. É indispensável a participação de Iphan, Secult, e Fumbel na aprovação, fiscalização e controle de qualquer intervenção no Centro Histórico de Belém”, explica a fonte.  

Iniciativa privada?

Segundo a denúncia, há especulações de que a Prefeitura de Belém, responsável pelo cinema, irá entregar a gestão da sala para a iniciativa privada. “Pode haver um desvirtuamento da natureza atual do Olympia, como cinema público, e as implicações dessa instituição destinada a oferecer serviços e atividades ao público em geral, de todas as classes sociais”, informa. 

“A questão é se uma empresa da iniciativa privada manteria os programas gratuitos voltados à educação cinematográfica, executados há vários anos no Olympia, como ‘A Escola Vai Ao Cinema’ e ‘A Universidade vai ao Cinema’? Essa empresa teria interesse em manter as atividades gratuitas ou passaria a cobrar por elas?”, questiona. 

“Ainda em 2024, durante a gestão passada, a prefeitura convocou uma visita técnica às obras, aberta ao público, mas essas visitas ainda não foram retomadas pela atual gestão de Igor Normando. Uma situação incômoda, porque estão ignorando demandas de interesse coletivo”, comenta a fonte.  

Sumiço da história

A denúncia se mostra ainda mais tenebrosa diante das decisões da atual gestão, que já extinguiu ou desmontou entidades como Fundação Escola Bosque, Semob, Fumbel, Restaurante Popular e o programa Bora Belém. A denúncia relembra também que a extinção da Fumbel, “foi feita sem transparência: nada foi divulgado, por exemplo, sobre o destino das atribuições do Departamento Histórico, que estava na estrutura organizacional desta Fundação extinta”, destaca. 

A coluna pediu informações sobre as denúncias nas obras no Cinema Olympia às assessorias da Prefeitura de Belém e do Iphan e aguarda posicionamento.  

Papo Reto

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