ivo aqui desde sempre. Desde que me
entendo como macaco, se é que me entendem. Eu, minha família, os
bichos-preguiça, cobras, jacarés e pássaros, muitos pássaros. Alguns vêm e vão
de vez em quando, e dividimos nossa comida com eles. Dá para todos.
Escolhemos a vida sobre as árvores
por questão de segurança. Nosso universo é grande - está fora do “Polígono da
COP30” -, mas, sei agora, não é seguro. Os coatis, os tatus e outros bichos que
vivem no chão têm vida mais difícil. Nós preferimos as árvores, pois era seguro
- “era”, porque, apesar dos sinais, veio o cataclisma e viramos macacos
sem-árvores.
Naqueles dias, os ventos passaram a
perder o sentido. Meses antes, o jacaré se precipitou ao saber que o São
Joaquim, igarapé onde perambulava à procura de presas, mudaria de curso.
Desesperado e faminto, botou o pé na estrada e foi parar no elevado que existe
lá adiante, e que, desde que inaugurado, desassossegou nossas vidas e promoveu
o começo da fuga universal dos animais do nosso ambiente.
Já havia muito barulho por aqui. De
carros e de fogos, de buzinas e de gritos, principalmente em dia de jogo no
Mangueirão. Com isso eu estava habituado, como até conseguia dormir com a
música em alto volume que vinha do Mangueirão sem ter jogo. Era a festa deles,
mas, desde que o vento perdeu a compostura, a vida ficou mais difícil.
Primeiro vieram os homens. Eu via
tudo lá de cima. Depois chegaram os monstros de presas enormes e barulhentos e
depois outros monstros vestidos de amarelo e outros monstros raspando o chão de
onde derrubaram as árvores que eram nossa estrada. Eu e minha família e os
outros que vivemos aqui nas árvores e no chão estamos que nem os ventos, que
iam e vinham em todas as direções: descompensados e nervosos.
E então o cataclisma parou e o
silêncio se abateu onde já não há mais mata, nem estrada, nem comida, nem
homens, nem monstros. Só os fantasmas deles. Ainda não sei para onde vamos:
para o Mangueirão, para a Usina da Paz, para o Hangar ou para o aeroporto.
Tudo está tão estranho. Aqui no que
resta de mata, os bichos não têm nada a ver com a COP30. Nem estamos dentro do
“polígono” onde devem desfilar os homens que vêm. Para onde vamos quando os
monstros voltarem fazendo barulho e derrubando o que resta?
Uma conferência mundial
A Conferência das Partes é uma
reunião anual de signatários da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a
Mudança do Clima, e tem como objetivo debater medidas para diminuir a emissão
de gases do efeito estufa, encontrar soluções para problemas ambientais que
afetam o planeta e negociar acordos. Participam da conferência todos os 193
países da ONU e cinco territórios. A primeira COP ocorreu em 1995, em Berlim,
na Alemanha.
Detentor da maior biodiversidade do planeta e nona maior economia do mundo, o
Brasil sediará pela primeira vez a conferência em 2025. A COP será entre os
dias 10 e 21 de novembro, em Belém. Trata-se de um espaço importante para o
diálogo e a cooperação entre os países e com o objetivo comum de conter o
aumento da temperatura global para evitar efeitos como aumento do volume de
oceanos e a redução da disponibilidade de água.
Fuga universal dos bichos
O Parque Ambiental Gunnar Vingren é
justamente onde vivem macacos e outros animais. A gestão é da Prefeitura de
Belém. Por dentro desta unidade de conservação passa a rua da Marinha, sujeita
a um projeto de prolongamento conduzido pelo governo do Estado, sem
licenciamento ambiental do município. Essa foi a fronteira que determinou a
suspensão temporária da obra pela Justiça do Pará.
Segundo informações oficiais, o
governo do Estado, ao considerar as dimensões do território do município de
Belém, de pouco mais de 500 quilômetros quadrados - noves fora 65,4%
correspondentes a região das ilhas -, criou o chamado “Polígono da COP30”, recorte
do território onde se prevê a área de circulação dos visitantes. A área é
delimitada ao norte pela avenida Júlio César; a oeste pela avenida João Paulo
II; ao sul pela rua dos Mundurucus e a leste pelo complexo do Ver-o-Peso e pela
avenida Pedro Álvares Cabral.
A rua da Marinha não está incluída, mas, conforme os homens avançam, os bichos perdem território no Parque Ambiental de Belém.
Papo Reto
· A batata da Embratur, acusada
de abrigar um rio de servidores fantasmas, está assando no Tribunal de Contas
da União.
· Vale destacar que o
ex-deputado federal Marcelo Freixo é quem preside a agência, que é subordinada
à pasta do Turismo, comandada pelo ministro Celso Sabino (foto).
· Os são da Receita Federal no
dia 13. A desoneração da folha de pagamento dos 17 setores da economia
representou isenções de R$ 12,2 bilhões. O Programa Emergencial de Retorno do
Setor de Eventos, R$ 9,6 bilhões.
· O Judiciário brasileiro está
no olho do furacão. As suspeitas sobre venda de sentenças alcançam seis
tribunais estaduais e já levaram ao afastamento de 16 desembargadores e sete
juízes.
· Há
indícios inclusive indícios de possíveis ramificações no Superior Tribunal de
Justiça, apesar de os magistrados envolvidos negarem qualquer participação em
atos ilícitos.
· Em meio às negociações do
Ministério da Fazenda e Ministério do Planejamento para apresentar o pacote de
cortes de gastos, dois programas que o setor econômico tentou barrar custaram
R$ 21,9 bilhões de janeiro a agosto deste ano, 22% do total.
· Pergunta de um leitor da
coluna: afinal, o que impede que, nas carteiras de identidade ou na CNH,
inclua-se a informação de que o portador é um doador de órgãos?
· Para
orientar os consumidores brasileiros que pretendem aproveitar as promoções da
Black Friday deste ano, que ocorrerá dia 29 de novembro, a Secretaria
Nacional do Consumidor do Ministério da Justiça e Segurança Pública lançou guia
com orientações e direitos assegurados pelo Código de Defesa do Consumidor irem
às compras de forma mais segura, consciente e não cair em golpes.