ão é a boiúna segundo o mito
amazônico, mas igualmente assustadoras: as sucuris, nem tão grandes, mas
provavelmente famintas, que têm visitado o Mangal das Garças, na Cidade Velha,
em Belém, povoam o imaginário popular e acendem os archotes do medo.
Há
algumas semanas, justamente uma sucuri, de quase três metros, deu trabalho à
equipe de biólogos e veterinários do Mangal. Aproveitando o habitat natural,
a cobra andou “passeando”, espantou animais que habitam área a captou pelo
menos três aves.
Diante
da presença da cobra, espécie não-peçonhenta, mas que apresenta grande força e
costuma fazer vítimas por constrição, a administração da Pará 2000, no Mangal
das Garças, recorreu ao Batalhão de Polícia Ambiental. Militares foram
acionados e a sucuri foi capturada e devolvida à natureza em área segura e
distante do Mangal.
Sem alarde
O
episódio serve de exemplo à prevenção, sobretudo no período do inverno
amazônico, que propicia o aparecimento desse tipo de animal por conta do regime
mais intenso das chuvas e das cheias dos rios.
Distante
de provocar qualquer alarmismo, mas o fato deve chamar a atenção do poder
público e de órgãos de controle de fauna às ocorrências de serpentes, como a
sucuri, que costuma também aparecer em locais como Parque Estadual do Utinga e
até em áreas residenciais.
População é esquecida
em meio às obras na área
central de Belém, enquanto
a COP30 não chega
Que Belém se transformou nos últimos meses em um grande canteiro de obras por causa da COP30 todo mundo já percebeu. O que parece ter escapado à percepção geral, porém, é que as obras em curso, ao contrário do que se imaginaria, passam longe da periferia da cidade, uma vez concentradas, na maioria dos casos, na área central - por onde a COP vai passar, por assim dizer.
Enquanto
as obras são realizadas na Doca de Souza Franco, lugar dos prédios mais
luxuosos, onde moram os endinheirados, ou na Tamandaré, outro bairro central de
Belém, os transtornos são grandes para quem passa diariamente por esses locais.
Mesmo na BR-316, palco das obras do BRT Metropolitano, as barreiras dispostas
para controlar o tráfego deixam, até hoje, comunidades inteiras sem acesso às
paradas de ônibus, senão tendo que caminhar até 200 a 300 metros. É o caso do
bairro São João, por exemplo, nos limites da Alça Viária. Os acessos estão
abertos para quem, entrando ou saindo da Região Metropolitana de Belém, precisa
chegar aos supermercados.
Acessos negados
E
é justamente a população que depende de transporte público quem mais sofre com
a ausência dele ou de acesso a esse serviço, por si só ruim. Para se ter ideia,
o usuário de transporte público sequer tem abrigos para se proteger.
Esqueceram dele no meio da rua.
Se
antes havia abrigos precários na pista central da Doca, agora, com isolamento
com tapumes gigantescos, e restando só uma pista de um lado e de outro,
fica evidente que as autoridades não se preocuparam com esses mortais, que já
sofrem com o transporte precário, parecendo mesmo querer que “o povo que
se exploda”, como diria o personagem Justo Veríssimo, do comediante Chico
Anysio.
Proteção sob postes
Em
meio ao sufoco patrocinado pelo transporte público, trabalhadores são obrigados
a ficar na calçada, em pé, desconfortáveis, sujeitos a sol e chuva, sem ter
chances de se proteger, a não ser pela sombra de um poste fincado na calçada.
Também não tem onde se sentar para aguardar pacientemente o
transporte chegar - e como demora.
Essa
situação se repete em vários locais. Enquanto isso, mais de R$ 500 milhões são
gastos em apenas duas obras no centro de Belém, para ficar apenas nesses dois
exemplos. Parece que não teve um “iluminado” para pensar nessa gente. Bastaria
economizar na plotagem de uma parte de uma quadra para manter um abrigo
funcionando, ainda que provisoriamente.