expressão "a montanha pariu um rato" tem origem latina e remonta ao período anterior à era cristã. Acredita-se que sua origem seja uma fábula de Esopo e, principalmente, no poeta romano Horácio.

A expressão parturientes montes, nascetur mus - montanhas estão em trabalho de parto, mas nasce um rato - teria sido usada por Horácio para expressar a ideia de que algo grandioso, que causa grandes expectativas, pode resultar em algo insignificante ou desapontador.
Ananindeua, município de mais de meio milhão de habitantes, segundo maior colégio eleitoral do Estado plantado no coração da Região Metropolitana de Belém, é o centro da montanha simbólica que ilustra a disputa de 2026 no Pará. Ponto nevrálgico da disputa, a cidade e seu atual prefeito representam um ponto de atenção permanente, o que torna toda disputa entre as instituições de Estado e a administração municipal um objeto da atenção pública que hoje nem a capital possui.
Na Região Metropolitana de Belém, onde a saúde pública sempre é tema delicado, um embate político-jurídico entre o Ministério Público e o prefeito de Ananindeua é sempre um ponto de atenção e gera controvérsias.
Em março deste ano, o Ministério Público do Pará denunciou o prefeito Daniel Santos à Justiça alegando a suposta precariedade da estrutura de atendimento no sistema público de saúde e atraso sistemático de repasses de verbas a hospitais particulares conveniados ao Sistema Único de Saúde. A culminância das denúncias foi um pedido de intervenção na saúde do município, medida drástica capaz de acender o alerta máximo em qualquer gestão.
A gravidade das acusações não residia apenas na precarização do atendimento, mas na suposta motivação por trás dela. Segundo a denúncia do MP, o intuito do prefeito Daniel Santos ao "precarizar a saúde do município" seria beneficiar o Hospital Santa Maria de Ananindeua, uma unidade onde o próprio Daniel Santos já havia figurado como um dos sócios.
Essa acusação, com um peso de ameaça política, rapidamente transformou o cenário. Daniel Santos, adversário político declarado do governador Helder Barbalho, não tardou em reinterpretar a iniciativa do MP como um ataque político orquestrado, mobilizando não apenas a defesa jurídica, mas também a arena pública. Vídeos e declarações do prefeito não apenas questionavam a decisão dos procuradores, mas lançavam dúvidas sobre a própria lisura e a intenção por trás da ação ministerial.
Hospital e concorrência
A promotoria sustentava ter elementos para indicar que, apesar de Daniel Santos ter deixado oficialmente a sociedade no Hospital Santa Maria em 2022, permaneceria à frente do negócio nos bastidores. A denúncia incluía um dado estarrecedor: o faturamento da unidade de saúde teria saltado de R$ 3 milhões para R$ 116 milhões em apenas quatro anos, um crescimento exponencial que, na visão do MP, seria resultado direto do direcionamento de vultosas verbas do SUS para o hospital.
O documento que embasou o pedido de intervenção traçava um cenário de "concorrência predatória e desleal", com o objetivo claro de "fechar" outros hospitais da região. Um dos casos mais emblemáticos que corroboravam essa tese foi o recente anúncio do fechamento da maternidade do Hospital Anita Gerosa, uma das mais tradicionais do município, sob a justificativa de falta de repasses da prefeitura. Essa situação adicionava uma camada de drama humano à já complexa disputa, evidenciando o impacto direto das supostas manobras políticas na vida da população mais vulnerável.
A virada da maré
O enredo, porém, tomou um rumo surpreendente na última terça-feira, dia 10. A Justiça Eleitoral proferiu uma decisão no mínimo inesperada: o cancelamento do pedido de intervenção na área da Saúde da Prefeitura de Ananindeua. Essa iniciativa, que havia sido apresentada pelo então Procurador-Geral de Justiça do MPPA Cezar Mattar, encontrou seu epílogo em um fundamento técnico-jurídico que esvaziou a ação.
O juiz Álvaro Norat Vasconcelos fundamentou sua decisão na perda de "objeto" para a validação das evidências que seriam apresentadas no início da intervenção. Em termos práticos, isso significou que o processo se tornou automaticamente nulo. O juiz foi além, determinando que, em razão da "iminente perda de provas" - uma frase que ecoa como um sino de alerta sobre a fragilidade das acusações originais -, os custos do processo e os honorários dos advogados deveriam ser eliminados.
O parto da montanha
A decisão do juiz Norat se ancorou em um Termo de Ajustamento de Conduta que havia sido firmado em 9 de abril deste ano. Este acordo foi elaborado pela 1ª Promotoria de Justiça de Direitos Constitucionais Fundamentais, Defesa do Patrimônio Público e da Moralidade Administrativa de Ananindeua, com a participação dos promotores de Justiça Laércio Guilhermino de Abreu e Daniel Braga Bona, e a própria Prefeitura de Ananindeua, representada pelo prefeito Daniel Santos e pela secretária de Saúde, Dayane da Silva Lima.
A justificativa do magistrado foi peremptória: "uma vez que os itens da ação são os mesmos que os mencionados no Termo de Ajustamento de Conduta, ficou claro que o andamento do processo perdeu sua relevância". Em outras palavras, as questões que motivaram o pedido de intervenção já haviam sido endereçadas e acordadas em um instrumento pré-existente.
A "montanha pariu um rato", como se diz no ditado popular. E com essa decisão manifesta do Tribunal de Justiça do Estado do Pará, Daniel Santos consolidou a versão de que todo o imbróglio não passou de uma tempestade em copo d'água, um "trovão em céu de brigadeiro". A narrativa política, que havia se defendido veementemente das acusações, encontrou na decisão judicial um selo de validação. O episódio, que expôs as fissuras e tensões na saúde pública de Ananindeua, terminou com uma vitória do Executivo municipal, deixando em aberto as repercussões futuras para a gestão e para a relação entre o Ministério Público e o poder político no Estado.
Barulho para nada
Diante do barulho em torno da questão nos meses pregressos, parece óbvio que a montanha pariu um rato. A grande expectativa, um grande anúncio ou esforço, resultou em um final decepcionante ou pouco significativo em comparação com o que se previa. Pelo menos na perspectiva dos que torcem por A ou B nessa disputa que parece estar longe do fim.
Papo Reto
•O deputado estadual Rogério Barra (foto), do PL, pega carona no guincho contratado sem licitação pela gestão Igor Normando, do MDB, e apresenta um projeto para “proteger os direitos dos proprietários” de veículos e motocicletas apreendidos no Pará.
•A proposta prevê regras transparentes para a cobrança da taxa de remoção de veículos, especialmente nos casos em que há transporte conjunto por caminhões-guincho.
•Em suma, se for aprovado, o texto do projeto vedada a cobrança integral da taxa de remoção quando mais de um veículo ou motocicleta for transportados ao mesmo tempo.
•A Superintendência de Seguros Privados deve tomar providências contra seguradoras consideradas “pouco sérias”, que atendem apenas via Internet e com formulários incompreensíveis.
•É a velha história de não querer pagar o seguro e matar o beneficiário de raiva. Antigamente, essas seguradoras fechavam as portas para não atender aos interessados. Hoje, usam secretária eletrônica.
•A indústria do Pará registrou crescimento de 10% no acumulado de janeiro a abril de 2025, em comparação com o mesmo período do ano anterior. É o melhor resultado do País, conforme a última Pesquisa Industrial Mensal regional do IBGE.
•Na ponta do lápis, além de um governo gastador, o próprio Congresso Nacional, onde pululam pessoas eleitas com o meu, o seu, o nosso voto avançou sobre o PIB nacional desavergonhadamente, mordendo quase metade do volume total.
•Leitor do bairro do Jurunas pede à coluna a divulgação de “invasão” do bairro por moradores de rua, inclusive venezuelanos.