m um dia qualquer do ano de 2019, uma recepção festiva de celebração de um casamento em Belém teria terminado de forma chic, não tivesse sido tristemente desagradável: depois de um desentendimento, um casal convidado agrediu verbal e agressivamente o cerimonialista e organizador do evento.
Imagens da ocasião mostram que o cerimonialista ouve as ofensas e se mantém quedo e mudo. Agora, seis anos depois, ele decide que é o momento de falar sobre o que considera seu infortúnio pessoal, tendo ou não superado um trauma.
Sábado, 7 deste mês, em uma publicação no perfil do Instagram, o cerimonialista publicou o vídeo gravado em um dia qualquer do ano de 2019. Na legenda, diz que poderia, ainda, se manter calado, mas não deve. “E não é por mim. É pelas crianças que nascem hoje e que merecem um futuro mais justo. Eu vivi um episódio traumático e profundamente injusto. Fui acusado de algo absurdo, de ter beliscado uma criança, quando, na verdade, apenas a retirei da cena para que os noivos fizessem as fotos a sós”.
O texto se estende, questionando: “Um cerimonialista, no meio de um casamento, teria tempo ou intenção para isso, agredir uma criança? Fui julgado sem escuta, sem verdade e sem ética”.
Personagens da cena
Entre os envolvidos no episódio estão um juiz, uma procuradora e um obstetra, três profissionais em três funções que sugerem a representação de justiça, de ética e de respeito. Circunstancialmente ou não, os três personagens da cena capturada pelas imagens e gravada na memória viva do cerimonialista teriam agido com “omissão, agressividade e desrespeito”.
“Existem o vídeo e as testemunhas. O vídeo foi visto por um juiz do Trabalho à época, mas o silêncio foi a resposta. Pela lei, tudo isso já prescreveu, mas a dor, não. Nem a minha, nem a da noiva, nem a do bebê que a tudo escutava; porque, sim, ele sentia”, aponta o cerimonialista.
“São três cargos importantes em um vídeo e nenhuma reparação. E nós, organizadores de eventos, temos Conselho, lei, Ouvidoria? Nada. O profissional de eventos segue desamparado. É preciso revisitar o passado para dar voz a um futuro mais digno e verdadeiramente humano”.
O vídeo foi feito há seis anos, gravado por uma recepcionista que, como o cerimonialista, também foi humilhada por outro casal na mesma festa luxuosa de casamento.
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Silêncio dos ofendidos
“Naquele dia, me calei, não chamei a Polícia. Pensei nos noivos para proteger o sonho deles, mas, na verdade, só repeti o que eu fazia desde os 9 anos de idade, quando silenciei minha dor”, diz o cerimonialista.
“Todos me diziam para processar e expor o ocorrido, mas eu não conseguia, não tinha coragem e tinha medo do julgamento. Mesmo com pais presentes, fui vítima de abuso sexual infantil”, denuncia.
O cerimonialista diz que sabe que os crimes por ele apontados já prescreveram, mas ainda quer justiça. Por isso, procurou as corregedorias dos órgãos jurídicos aos quais a procuradora e o juiz são vinculados.
A procuradora, que aparece no vídeo em um vestido longo verde, é Anete Marques Penna de Carvalho, doutora, mestre, detentora de vários títulos, atualmente juíza eleitoral substituta do TRE no Pará e uma das candidatas ao desembargo pelo quinto constitucional da OAB.
Anete é casada com Bruno Palhares Sequeira, formado em Medicina desde 2001, especialista em ginecologia, obstetrícia e pós-graduado em infertilidade conjugal e reprodução assistida. Bruno é quem faz as maiores ofensas ao cerimonialista. Em alguns momentos, Anete tenta conter o marido, pedindo-lhe calma. Em outra parte do vídeo, Bruno, incontrolável, chega a empurrar Anete, que se desequilibra.
Nas imagens do segundo vídeo, é Anete quem se dirige asperamente ao cerimonialista, momento em que o marido dela volta à cena, mas é contido por seguranças. No vídeo anterior (veja em Conteúdo relacionado), é Bruno quem profere ofensas contra o cerimonialista, que fica em silêncio. As imagens do primeiro vídeo são disfarçadas e ocultam os rostos de todos.
Na época, o cerimonialista era casado com um juiz do Tribunal Regional do Trabalho (TRT8), que teve acesso às imagens e aos relatos, segundo o cerimonialista, mas preferiu o silêncio.
“O que vejo agora, seis anos depois, é que meu trauma de infância me fez calar. Sinto como se o juiz tivesse me coagido ao silêncio, mas isso passou e consigo relatar o que houve. É uma forma de alerta”, encerra.
Em defesa da filha
Ouvida pela Coluna Olavo Dutra, Anete Penna de Carvalho relata que, à época, a filha do casal, então de 6 anos de idade, era dama de honra no casamento e teria sido ’beliscada’ pelo cerimonialista, que queria que a menina deixasse o véu da noiva que estava segurando. A garota procurou a mãe, chorando e disse que não queria mais ficar na festa.
Anete conta que, em respeito aos noivos, não falou nada, mas chamou a atenção do cerimonialista, que retrucou falando que era “marido de um juiz”. Ao final da festa, o cerimonialista teria dito ‘alguma coisa depreciativa’ e quem a defendeu foi o marido Bruno. São essas as imagens que estão nos dois vídeos.
Anete considera que a ação do cerimonialista é “oportunismo”, visto que está concorrendo ao desembargo e é uma das candidatas mais fortes. “O que falei na festa foi para defender a minha filha, que ficou traumatizada por conta da agressão, sendo ela uma criança de seis anos. Depois desse episódio, ela não quis mais ser daminha em casamentos e foi um custo tirar esse trauma dela”, destaca.
“Consideramos que ele expor a todos nós no vídeo: eu, meu marido e os noivos. É muito grave, porque ninguém autorizou essas imagens e quem as gravou foram pessoas da equipe dele. Algumas pessoas já se solidarizaram conosco, o que agradecemos, mas o que nos causa estranheza é que, seis anos depois, ele tenha retomado esse assunto, uma vez que, ao final da festa, nos pareceu que o assunto estava encerrado”, finaliza.
Papo Reto
•A disputa por vaga ao desembargo pelo quinto constitucional da OAB no Pará está tão acirrada que tem candidato de origem europeia querendo se habilitar através do sistema de cotas.
•André Bassalo (foto), por exemplo, considerado por alguns colegas como sendo de origem italiana, se considera negro, mas, dizem na OAB, o pedido teria sido rejeitado.
•Nesse caso, a análise coube a uma comissão de heteroidentificação formada por especialistas da UFPA, cuja decisão é apenas opinativa.
•Em Marabá, atribui-se a saída da procuradora-geral do município, Josiane Mattei, da gestão Tony Cunha à decisão da Câmara de instalar uma CPI para investigar o prefeito. Não procede.
•Josiane Kraus Mattei foi exonerada dia 9, com ato publicado no Oficial do município no dia seguinte, 10, portanto, dois dias antes da decisão da Câmara, dia 11.
•A Secretaria de Cultura e Turismo reforça que atendeu às solicitações feitas pelos quadrilheiros e outros segmentos culturais durante diversas reuniões da gestão, com participação ativa desses grupos.
•Além de garantir uma premiação histórica de R$ 40 mil para o primeiro colocado, e um total de R$ 200 mil em prêmios para o Arraial de Belém, a prefeitura tem mantido diálogo constante com os quadrilheiros e outros segmentos culturais.
•Este ano, a novidade é o retorno do Concurso Intermunicipal, como forma de valorização da cultura paraense e suas manifestações.
•As inscrições para o concurso seguem abertas até o dia 17 agora, e todas as quadrilhas de Belém e outros municípios podem se inscrever.
•Isso mostra o descaso e a não valorização que a Prefeitura de Belém dispensa à cultura popular.
•As mortes pela influenza aumentam quase 60% na cidade de São Paulo, ligando a luz amarela para o restante do País.
•Endividamento das famílias sobe 78,2% em maio, diz a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo.