uem pensa que já viu de tudo nas eleições deste
ano no Pará está redondamente enganado. A exatamente uma semana das eleições, a
disputa em Soure, no Marajó, não é fácil, aliás, acaba de se tornar complicada:
desceu lá, usando um helicóptero, um personagem que deve incomodar pelo menos
algumas centenas de mortos sepultados pela pandemia de covid, já que os vivos,
pelo que se vê, seguem mais “vivos” do que nunca. Atende pelo nome de Nícolas
(Tsontakis) Moraes, classificado pela Polícia Federal como “operador das OS” na
pandemia.
Três nomes concorrem à Prefeitura de Soure: Paulo
Victor Lima, do MDB, Nic Júnior, do PT, e Fagundes Gomes, do Rede, com disputa
polarizada entre os dois primeiros.
Paulo Victor Lima é candidato apoiado pelo governo
do Pará, não apenas por ser do MDB, mas também por ser filho do deputado Iran
Lima - líder do governo na Assembleia Legislativa - com a prefeita de Moju,
Nilma Lima. Do outro lado, o professor Nic Júnior, detentor de longo currículo
acadêmico para seus 37 anos de idade, é apoiado pelo senador Beto Faro e a
mulher dele, deputada federal Dilvanda Faro, do PT.
Com quem andas...
Além de essa polarização ferir frontalmente os
interesses do governo do Estado em eleger o filho de Iran Lima, disputando a
vaga com um aliado - Beto Faro -, também envolve relacionamentos considerados
“más companhias”. Na última semana, o professor Nic Júnior foi flagrado em
calorosa recepção a Nícolas André Mores, o Nícolas Tsontakis, acusado de
desviar, pelo menos, R$ 300 milhões dos cofres estaduais de recursos destinados
aos hospitais regionais entre o ano de 2019 a 2021, incluindo dinheiro dos
hospitais de campanha montados para enfrentar a pandemia de covid-19.
A dinheirama surrupiada dos cofres públicos já
representa, por si só, uma cifra assustadora, mas esse valor, segundo a Polícia
Federal à época da prisão de Nicolas, em agosto de 2022, era apenas a “ponta do
iceberg” do que a quadrilha chefiada por Nícolas conseguiu “lavar” com a compra
de carros de luxo, aviões, gado e fazendas. Para a PF, Nícolas era o “operador
das OS” picaretas.
Contratos milionários
A PF acredita que os valores reais do roubo foram
muito maiores, já que os contratos fraudulentos chegaram a R$ 1,2 bilhão com
organizações sociais que gerenciavam os hospitais, obtidos na época em que
Nicolas tinha trânsito livre junto ao governo do Pará, e indicou nada menos que
quatro organizações sociais indicadas.
Nícolas Moraes foi preso em agosto de 2022 pela PF
comandando fazendas. À época, o delegado do caso afirmou que em muitos dos
diálogos de quadrilha investigada, os desvios eram superiores a 50% daquilo que
era repassado para as organizações sociais usadas por Nícolas. “Eles estavam
mais preocupados em desviar esses recursos da saúde para compra de gado, de
fazenda, de carros e aviões do que efetivamente utilizar nos hospitais",
disse o delegado federal.
Brincando de médico
De tanta intimidade com o dinheiro da saúde,
atacando seus cofres, Nícolas Moraes parece acreditar também que absorveu
conhecimentos suficientes para ‘brincar de médico’. Informações chegadas
à Coluna Olavo Dutra apontam que Nícolas foi visto “atendendo”
como médico em Capanema, onde reside e deveria cumprir prisão domiciliar -
benefício concedido pelo ministro Dias Toffoli “por razões humanitárias”.
De fato, no momento em que é recebido em Soure pelo
professor Nic Júnior, Nícolas surge de dentro de seu helicóptero completamente
vestido de branco, a cor eleita para a prática da medicina ainda no início do
século 19, quando o médico húngaro Ignaz Semmelweis provou que muitas doenças
vinham da falta de higiene dos hospitais. A partir daí, o jaleco branco e limpo
virou norma, evitando que a sujeira passasse despercebida. Se Semmelweis
soubesse o que fazem hoje com a “roupa branca de médico...”
Apoio peso-pesado
Além desse pesado apoio de Nícolas - fique claro
desde já: a coluna não está fazendo trocadilhos -, o professor Nic Júnior
também é apoiado pelo senador Beto Faro e pela deputada, Dilvanda Faro, que
esteve em Soure para lançar a campanha de Nic, momento em que fez um forte
discurso contra a “importação” do candidato do MDB, em referência ao filho de
Iran Lima.
“Não precisava trazer gente de fora. Nós precisamos
de um prefeito comprometido com Soure, com a população de Soure. Vim aqui para
dar esse recado e venho muito mais vezes, porque não pouparei esforços; e na
hora que eu tiver um tempo na agenda eu estarei aqui para apoiar Nic Júnior”,
declarou a deputada na ocasião.
De fato, junto com Beto Faro - tido e havido na
região como responsável por angariar o apoio do “operador” para seu candidato
-, Dilvanda tem cumprido com essa agenda de apoios ao professor Nic, que tem
como vice na chapa Carla Sarmento. Não contente, o casal levou recentemente a
Soure para apoiar Nic o ministro de Relações Institucionais, Alexandre Padilha,
promovendo uma espécie de “bikeciata”, um giro em busca de votos com uma frota
de ciclistas.
Extensa vida acadêmica
Em Soure, é mais quem exalta o esforço de Nic
Júnior para oferecer melhores condições de vida à população, sendo ele de uma
família muito pobre da região. Nic Júnior é graduado em letras com habilitação
em língua inglesa pela Universidade Federal do Pará, em Matemática pela
Universidade Estadual do Pará, e atualmente está concluindo mais uma graduação,
no curso de Geografia, além de já ter cursado cinco especializações e um
mestrado.
Entrou de “laranja”?
A mesma fonte acredita que o professor Nic, que com todo esse currículo optou por permanecer no Marajó, não conhece a história e nem sabe quem é Nicolas Moraes. “Acredito que ele realmente esteja de ‘laranja’ nisso. Recebeu bem o sujeito porque é alguém do senador, né?”, diz a fonte, contactada para intermediar que a coluna ouvisse o professor, que não foi localizado para se manifestar.
Papo Reto
· Do
secretário de Segurança Pública, delegado federal Ualame Machado (foto), na
rede social: “Não ia me meter, mas...Quem fala o que quer, ouve (e lê) o que
não quer!”. Para o bom entendedor, meia palavra basta.
· Não
surpreende nem um pouco o resultado da pesquisa do Instituto JC Pesquisas,
divulgado ontem, colocando o candidato do Republicanos, deputado Thiago Araújo,
em empate técnico com o segundo colocado na disputa pela Prefeitura de Belém.
· Os
helicópteros estão no ar nos céus do Marajó da região de Salinópolis, costa
Atlântica do Pará. Gente grande comprando terras e gente modalmente miúda em
campanha eleitoral. A Polícia Federal que o diga.
· A
Prefeitura de Marituba reconheceu a falha e voltou a pavimentar ruas na cidade
contempladas no início deste ano pelo programa Asfalto por todo o Pará. A
pavimentação derreteu e o dinheiro saiu pelo ralo. Antes tarde.
· Aliás,
a rua Amaro de Freitas segue sem pavimentação, mas alguns moradores optaram por
acreditar no candidato a vereador, que é policial militar e chefe da Guarda
Municipal, Giovani, “pai” do Pato Macho do Dia de São Nunca.
· O
Supremo Tribunal Federal a liminar que permitia a candidatura de Gandor Hage à
Prefeitura de Prainha. Gandor, é irmão do prefeito de Monte Alegre, Júnior
Hage, foi abatido em pleno voo e não poderá concorrer.
· Os
políticos paraenses parecem contaminados pelas bancas de apostas bets.
Depois que o deputado estadual e líder do governo, Iran Lima, propôs apostas
contra o dono da Doxa Pesquisa e o candidato a prefeito de Moju, Gerson Dourão,
do PT, a situação se repetiu em Abel Figueiredo.
· O
candidato a prefeito pelo MDB, Hidelfonso Araújo, contesta o resultado de
pesquisa no município e também desafia o opositor Marcondes Lacerda, do
União Brasil, que aparece na liderança.
· O
prêmio das duas apostas envolve picapes Toyota Hilux zero km. As revendas agradecem a preferência, mas torcem em vão: as apostas
também são lorotas eleitoreiras - pura balela.