egou muito mal junto às comunidades do Vale do Acará
afetadas pelas atividades da mineradora Norsk Hydro a ação da Polícia Militar
do Pará que cerceou o trabalho da imprensa na cobertura da manifestação de 450
famílias indígenas e quilombolas em frente à Secretaria de Meio Ambiente, em
Belém. Os manifestantes reivindicavam o fim do licenciamento ambiental da
mineradora, concedido pelo governo do Estado.
Na ação, ocorrida na terça-feira, 24, a equipe da TV
Liberal foi praticamente arrancada do local, sob a justificativa de ser
perigoso para os profissionais da imprensa. Já a equipe do SBT insistiu até
conseguir fazer seu trabalho. Conforme os vídeos dos bastidores da ação, que
chegaram à Coluna Olavo Dutra no final de semana, é possível
perceber que a manifestação era pacífica por parte das comunidades. A
manifestação começou pela manhã, na rua, e à tarde se estendeu ao interior do
prédio, que foi ocupado por ribeirinhos, indígenas Tembé e Turiwara, além de
quilombolas das comunidades da Amarqualta.
Protegendo a imagem
Na avaliação das lideranças da manifestação, o ato de
retirar as equipes de imprensa foi tão somente uma censura forçada contra
qualquer exposição à imagem do governo. “Foi unicamente para silenciar as vozes
dos povos tradicionais do Vale do Acará, além do flagrante desrespeito à
liberdade de imprensa. Nosso movimento era pacífico e a justificativa de
garantir a segurança das equipes é totalmente falsa”, garantiu uma liderança.
Um dos vídeos mostra que a primeira equipe a ser
removida das proximidades dos manifestantes foi a da TV Liberal, ainda pela
manhã. Pela tarde, o mesmo movimento de cerceamento ocorreu com a equipe do
SBT, onde a repórter do núcleo de rede da emissora tentou negociar de toda
forma para garantir a realização do seu trabalho.
“Não somos criminosos”
Nos vídeos é possível ver e ouvir claramente o diálogo
de um dos líderes junto ao agente policial, diante da repórter do SBT. “Nós não
somos um perigo para ela. Ainda agora vocês levaram outra repórter (da TV
Liberal) desse jeito aí. Nós não somos criminosos, não estamos armados...”
dizia a liderança, cuja voz foi reforçada em coro por outros manifestantes.
A repórter inclusive argumenta com o policial que em
outros momentos sua equipe esteve cobrindo conflitos, como a recente briga de
torcidas na avenida Almirante Barroso, em Belém, e que oferecia muito mais
perigo, mas ainda assim a equipe não foi impedida de fazer a cobertura. A
repórter ainda tenta negociar, dizendo que todos vão colocar os coletes, que
são os equipamentos de segurança individuais, mas o policial se mostra
irredutível.
Permissão sob pressão
O líder comunitário reforça que o movimento não é
armado, e que as únicas armas que poderiam ser disparadas ali seriam as da
própria PM. “O único perigo de arma que pode acontecer aqui é vocês dispararem
na nossa direção, porque nós não temos armas; estamos aqui pra chamar a atenção
das autoridades para os problemas ambientais que vivemos”, disse a liderança ao
policial e à equipe de imprensa.
Somente com muita pressão da comunidade, e a informação
reforçada ao policial de que ele estava claramente impedindo o trabalho da
imprensa, a repórter conseguiu permissão para gravar as falas que precisava,
sob aplausos da comunidade, que de fato só queria falar das suas dores.
Entusiasta da COP30
As populações tradicionais denunciam o governo Helder
Barbalho, grande entusiasta da COP30 que, no mesmo período, participava do
evento Casa Amazônia, em Nova York, de vender a falsa imagem de apoiador do
desenvolvimento sustentável, da preservação da fauna, flora e dos povos
amazônicos. “Esse é o mesmo governo que permitiu que uma empresa opere
instalando minerodutos dentro de territórios ancestrais, sem consulta prévia,
colocando em risco o modo de vida das nossas populações, que são guardiãs
seculares do meio ambiente no Vale do Acará”, afirmou outra liderança.
Sindicato denuncia
A censura ao trabalho da imprensa só não foi total por
conta da insistência da equipe do SBT, mas a TV Liberal não conseguiu fazer a
reportagem. A situação foi denunciada pelo Sindicato de Jornalistas do
Pará e pela Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) sobre a ação policial, que
entre outras legislações fere o artigo 5º da Constituição Federal, que assegura
a liberdade de comunicação, assim como o artigo 220º, que garante a todo
veículo de comunicação o desenvolvimento do trabalho sem qualquer restrição. A
entidade também prometeu cobrar explicações ao governo do Estado.
Em Paragominas, grupo
Portal pede recuperação
judicial e acende sinal
amarelo no agronegócio
Com uma dívida acumulada de R$ 700 milhões, o grupo
Portal Agro, que comercializa insumos agrícolas e opera na região de
Paragominas, região nordeste no Pará, recorreu à Justiça pedindo recuperação
judicial. O pedido foi feito na última quarta-feira, uma semana depois que
outra distribuidora de insumos agrícolas, a Agrogalaxy, recorreu à mesma
providência para se proteger contra os credores.
O processo aponta como causa para a situação patrimonial do grupo a “crise no agronegócio brasileiro, caracterizada pela alta dos preços dos insumos e pela subsequente queda dos preços das commodities, resultando em prejuízos às empresas e sócios”.
A alegação do grupo é de que teria sido surpreendido pela queda dos preços das commodities, devido ao aumento dos estoques internacionais de grãos e ao subsequente aumento dos custos, resultando em “péssima rentabilidade”.
O processo, ajuizado por Agenor
Andrade, titular da 2ª Vara Cível e Empresarial de Paragominas, determinou a
suspensão de execuções e a proibição de qualquer forma de retenção, arresto,
penhora, sequestro, busca e apreensão, e constrição judicial e extrajudicial
sobre os bens da companhia por 45 dias.
Quebradeira no campo
O sinal amarelo está ligado ao segmento do agronegócio
no Pará, e enfrenta momento sombrio. No último dia 4, a empresa Portal teria
iniciado uma série de demissões de funcionários em Paragominas e nas unidades
compostas de escritórios e armazéns em Dom Eliseu, Rondon do Pará e Tailândia.
A empresa enfrenta problemas de endividamento financeiro
contínuo e inadimplência de clientes. O grupo é composto de fazendas, lojas e
representação de insumos agropecuários e silos de armazenamento de grãos. Os
proprietários do grupo Portal são os irmãos Gilberto e Gilson Marachim.
Safra comprometida
Segundo fontes da Coluna Olavo Dutra na região, a situação representa um duro golpe no agronegócio. A importância de uma empresa como a Portal é relevante para agricultores, uma vez que financia a safra de centenas de produtores fornecendo sementes, adubos, fertilizantes e produtos químicos que viabilizam a atividade.