uando duas placas tectônicas se chocam, a crosta terrestre dobra, dando origem a vulcões. Este fenômeno natural, que evoca tanto medo quanto deslumbramento, serve como uma metáfora para o cenário político do Pará, onde forças contrárias estão em rota de colisão.

O governador Helder Barbalho, que cumpre seu segundo mandato com expressiva aprovação popular, consolidou sua posição como um dos políticos mais influentes da região. Sua estratégia política não se limita ao Pará: ele almeja uma projeção nacional, aspirando a ser o vice na chapa que buscará a reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2026. No entanto, essa ambição não vem sem desafios. O foco internacional em Belém, em razão da COP30, aumenta a pressão sobre Helder e sua administração, especialmente em um momento em que questões ambientais ganham destaque.
Momento crítico
A vice-governadora Hana Ghassan, escolhida por Helder Barbalho como sua sucessora, enfrenta seu pior momento, uma crise que expõe fissuras na base aliada em torno do apoiamento ou não ao seu nome.
A tensão começou a se manifestar de forma evidente quando manifestantes, lideranças sindicais e partidárias e lideranças indígenas do oeste do Estado ocuparam a Secretaria de Educação. Os protestos aconteceram em resposta à aprovação da Lei estadual 10.820/2024. Na titularidade do governo, dada a ausência do governador, que estava em Davos, Hana não conseguiu reagir, facilitando a consolidação da crise.
Esse episódio teria destacado a fragilidade da vice-governadora em lidar com a crise e sua dificuldade de engajar-se em diálogos construtivos com as comunidades afetadas.
Durante esse tumulto, enquanto Helder Barbalho estava fora do País, Hana se viu sobrecarregada e incapaz de montar uma gestão de crise eficaz, o que a fez parecer insegura e dependente da figura do governador. Foi nesse contexto que o presidente da Assembleia Legislativa, Chicão Melo, se destacou como um "salvador da pátria". Sua habilidade de negociação não apenas ajudou a resolver a crise na educação, mas também o posicionou favoravelmente para a sucessão de Helder.
A percepção entre os políticos é de que Chicão possui uma capacidade de articulação e aceitação política superior à de Hana. Essa dinâmica se intensifica à medida que se aproxima a COP30, aumentando as tensões internas e as ambições de diferentes figuras políticas.
Entre quatro paredes
Hana expressou sua insatisfação a um de seus auxiliares, reclamando do tratamento recebido por parte da equipe de governo, o que revela uma ausência de autoridade. Teria reclamado que alguns secretários não obedecem ao seu comando.
Durante um evento de entrega de unidades habitacionais em Outeiro, a vice-governadora acabou ofuscada: não teve direito a fala e “parecia uma figurante” na presença do governador, de ministros e do presidente da República. Sua participação foi apagada, o que reforçou a ideia de que sua visibilidade política está em declínio, especialmente em comparação com Chicão Melo, que se tornou o centro das atenções. “As entrevistas que Chicão tem dado à imprensa provocaram um mal estar incomum entre a vice-governadora e o presidente do Legislativo, sempre cordiais um com o outro”, revela uma fonte da Coluna Olavo Dutra.
Holofotes globais
A COP30 não apenas coloca o Pará sob os holofotes globais, mas também eleva as expectativas sobre a gestão pública, intensificando as disputas pela sucessão de Helder Barbalho. A presença de líderes internacionais, investidores e ambientalistas ressalta a importância da governança, enquanto locais como Belém se tornam palco para a promoção de carreiras políticas. Entretanto, a administração de Helder precisa lidar com a crise reputacional decorrente da resposta inadequada à invasão da Seduc, que expõe não apenas as fragilidades da vice-governadora, mas do próprio governo, que parece ter em Helder sua única alternativa diante das dificuldades.
Líder e equilibrista
Com a proximidade da COP30, tudo o que o governador não queria era enfrentar esse dilema: como equilibrar a necessidade de preparar a infraestrutura para o evento e gerir a insatisfação crescente em sua base política? A confiança em sua administração, que antes parecia sólida, agora é questionada. A unidade de ação de uma oposição que unifica Psol e PL promete um calendário de dificuldades crescentes em 2025.
Nesse contexto, novos nomes começam a surgir, sinalizando que a sucessão não será um mero prolongamento da atual gestão, mas uma reconfiguração do cenário político no Pará.
As crises na educação, agravadas por conflitos com lideranças indígenas e sindicais, evidenciam as deficiências políticas de Hana, que, apesar de sua ascensão, ainda não conquistou a unanimidade esperada entre os aliados. A pressão por mudanças é palpável, e figuras como o prefeito reeleito de Ananindeua, Daniel Santos, começam a se destacar como potenciais candidatos que podem alterar a dinâmica eleitoral.
Incerteza e expectativa
Historicamente, dizem os geógrafos, a Amazônia foi um vasto campo de vulcões ativos, e a política também é marcada por suas erupções. As tensões atuais no Pará refletem um ambiente de incerteza e expectativa, onde a habilidade de navegar crises e aproveitar oportunidades será decisivo para definir quais serão os próximos líderes. O futuro político do Estado está em jogo, e a capacidade de Helder Barbalho em gerenciar essa complexa situação determinará não apenas sua sucessão, mas também o legado de sua administração. Assim como a crosta terrestre, a política é suscetível a mudanças abruptas e imprevisíveis, e o que se desenrola nos próximos meses poderá definir o rumo do Pará por muitos anos.
Papo Reto
·Uma declaração atribuída ao procurador de Justiça Cláudio Melo (foto) na reunião do Colégio de Procuradores, no último dia 13, ao justificar o atraso na execução das licitações de obras no MP, soou como uma bomba de múltiplos efeitos.
·Segundo o procurador, o atraso estaria no fato de que não aceitaram pagar o mesmo valor das propinas pagas em outros órgãos.
· A pergunta que não quer calar seria a seguinte: teria o procurador Cláudio Melo a relação das obras não concluídas? Resposta para este meio.
·Falando em obras: cuidadosamente, antes da visita do presidente Lula, trocaram as placas da obra da Doca. Onde se lia “Mais uma obra do governo do Pará”, agora se lê “Obra em parceria com o governo federal”.
·Nessa correria sabe-se lá para onde da COP30, uma corretora recebeu um imóvel para alugar em Belém e mandou o contrato para o proprietário ler e assinar. O advogado dele, coitado, quase caiu de costas.
·Primeiro por causa do teor leonino da proposta, depois, pela noção de que o contrato estava mais para “arapuca” do que para um bom negócio: evasivo, tratando de exclusividade, multas e até over price, que é proibido por lei.
·O documento não menciona nem tampouco especifica a comissão da corretora, o que levou o proprietário a autorizar o contrato, mas condicionando a assinatura à presença do cliente.
·Valor da diária estabelecido pela corretora: 9,5 mil dólares a diário. Aos apressadinhos de plantão recomenda-se cautela.
· Um ex-prefeito que se agarra com todos os santos tentando assumir a direção de um hospital regional no sudeste do Pará tem pela frente um pelotão de “trocentos” candidatos qualificados para a vaga. “Rei posto, rei morto”, dizem na Casa Civil do governador Helder Barbalho.