Alerta

Pesquisadores alertam para a possibilidade de seca na Amazônia ser mais a devastadora da história, em 2024

Mesmo agora, antes do período de estiagem, os rios das bacias da região amazônica já estão com níveis de água abaixo do esperado para a cota de cheia normal.

28/05/2024 23:08
Pesquisadores alertam para a possibilidade de seca na Amazônia ser mais a devastadora da história, em 2024

Manaus, AM - Pesquisadores da Fundação Amazônia Sustentável (FAS), idealizadora e coordenadora do movimento Aliança Amazônia Clima, estimam uma seca mais severa para 2024 na Amazônia do que a vivida em 2023. O motivos está na persistência do fenômeno El Niño, que se estendeu por todo este ano formando domos de calor.


Em abril, a Defesa Civil do Amazonas publicou um relatório crucial alertando para a possibilidade de repetição da situação. Segundo os dados, os rios das bacias da região estão atualmente com níveis de água abaixo do esperado para a cota de cheia normal, indicando que acontecerá um evento de seca extrema neste ano.


“Nós temos vários indicadores nesse ano de 2024 sobre a séria ameaça de uma seca de grandes proporções, como tivemos no ano passado aqui na Amazônia. As projeções cientificas apontam para um aquecimento global mais acelerado do que anteriormente previsto. Quanto mais longa e intensa é a estação seca, mais frequentes e grandes ficam as queimadas. Isso contribui para o aquecimento global e regional, criando um efeito dominó que tende a tornar esse problema cada vez mais grave”, informa Virgilio Viana, superintendente-geral da FAS. 


Tudo interligado


Da mesma forma, a grande enchente que atingiu o Rio Grande do Sul está relacionada à extrema seca que afetou a Amazônia no ano passado. A catástrofe é causada pela combinação de umidade trazida por rios voadores (um grande corredor de umidade que desce até o Sul todos os anos), uma onda de calor no Sudeste e Centro-Oeste, e ventos intensos no estado, resultando em chuvas contínuas e inundações em várias bacias hidrográficas. Não apenas o clima, mas também as ações humanas estão relacionadas a essas alterações.


A mudança do clima é impulsionada pela emissão de milhões de toneladas de gases de efeito estufa, principalmente devido à queima de combustíveis fósseis, responsável por mais de 85% dessas emissões, segundo relatório publicado pela Agência Internacional de Energia (IEA), realizado pelas consultorias KPMG e Kearney e a Universidade Heriot-Watt.


Além disso, o desmatamento acelerado de biomas brasileiros, como a Amazônia e o Pampa Gaúcho, também contribui significativamente para esse problema. O desmatamento da Amazônia, por si só, representa cerca de 10% das emissões globais de gases de efeito estufa.


“O enfrentamento às mudanças climáticas representa o principal desafio de hoje para o futuro da humanidade. É essencial a mobilização das organizações da sociedade civil, das empresas, das instituições de pesquisa e dos governos nas diferentes esferas para lidar com esse gigantesco desafio que temos pela frente”, considera Virgilio Viana.


Ações atenuantes


Em 2023, como forma de auxiliar a população na região, que sofreu fortemente com a seca extrema, a Fundação Amazônia Sustentável (FAS) criou a Aliança Amazônia Clima, movimento que conta com o apoio de 80 organizações socioambientais e representantes de centros de pesquisa na região amazônica para o combate aos efeitos da crise climática.


Em uma das frentes da Aliança, foram mobilizadas doações de itens de primeira necessidade, como água potável, cestas básicas e medicamentos, para as comunidades mais afetadas pela seca: em 2023, a iniciativa atendeu mais de 12 mil pessoas em 17 territórios como Unidades de Conservação e Terras Indígenas.


Paralelamente, a Aliança Amazônia Clima agrega pesquisadores que monitoram as flutuações do pulso de inundação de bacias hidrográficas e fatores climáticos para identificar tendências para fornecer recomendações no combate a eventos extremos e para ações de adaptação climática. 


Foto: Alberto César Araújo/Amazônia Real

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