OS que vai administrar Mercado de São Brás não cai no gosto do novo prefeito de Belém

Em processo considerado polêmico, prefeito Edmilson Rodrigues chancela, no apagar das luzes da gestão, nome da Amazônia Azul, pertencente ao suposto aliado Paulo Uchoa.

21/12/2024, 08:00
OS que vai administrar Mercado de São Brás não cai no gosto do novo prefeito de Belém
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novo Mercado de São Brás foi inaugurado na quarta-feira, 18, com festa, pompa e circunstância - e até uma goteira, mesmo não sendo convidada. A festa continuou e o espaço já está aberto à visitação. A reforma ocorreu em parceria da Prefeitura de Belém com o governo federal, através da Itaipu Binacional, ao preço de R$ R$ 150.507.380,98, R$ 85 milhões da Itaipu. 


Paulo Uchôa foi agente distrital de Mosqueiro na primeira gestão de Edmilson em Belém e teria sido beneficiado pelo prefeito no novo mercado/Fotos: Divulgação.
 

A promessa é que dentro de 60 dias, isto é, na gestão do prefeito Igor Normando, do MDB, tudo estará pronto. A ocupação será progressiva e as obras de customização de cada categoria de locatários têm um tempo para se adequar. Os 193 comerciantes - permissionários - e as mais de 100 lojas do mercado devem começar a atuar no espaço interno até meados do mês de janeiro de 2025.  

 

A administração do espaço ficará a cargo da Organização Social (OS) Amazônia Azul, Iamazul que, na verdade, foi a única a apresentar proposta à Codem. A Iamazul tem cerca de 20 anos de mercado, e até bem pouco tempo era apenas uma “agência de desenvolvimento, composta por profissionais com grande experiência em funções técnicas e de gestão de soluções a demandas sociais, ambientais, econômicas e culturais de povos tradicionais amazônicos”, segundo o site da entidade.

 

Suspeita de favorecimento

 

Segundo fonte da Coluna Olavo Dutra, a escolha da Iamazul para administrar o mercado teria “um quê de favorecimento”. Explica-se: o processo de escolha da OS foi feito de forma apressada, e teve parecer jurídico indeferido. “O parecer jurídico sugeriu a realização de outro certame, porque a OS não tem capacidade para gerir o mercado”.   

 

Segundo a fonte, “o processo licitatório contém falhas que apontam para o favorecimento e a escolha a dedo da organização. O processo não indica a modalidade licitatória a ser realizada - se é uma inexigibilidade ou dispensa ou chamada pública - e a OS não preenche os requisitos mínimos, como capacidade técnica, e também não apresentou certidões de regularidade fiscal. Não consta no processo sequer a dotação orçamentária ou qualquer fundamento que o aponte como apto para contratar”, destaca.

 

No edital lançado para que organizações sociais se candidatassem a administrar o mercado, a Codem esclarece: “A operação do Complexo de São Brás prevê custos anuais estimados em R$ 6.642.000,00, e serão suportados pela OS durante os 20 anos da vigência contratual”.

 

O edital também detalha que o custo mensal do condomínio que irá agregar os pontos de comércio no mercado é de R$ 553.500,00, e o metro quadrado comercializado, R$ 110,00.  

 

Reunião que definiu tudo  

 

Em 2 de dezembro passado, houve uma reunião na Codem que determinou a contratação da OS Iamazul. “Todos os pontos, como capacidade técnica e certidões comprobatórias e muitos outros foram levantados em parecer jurídico e do controle interno da Codem, contudo, o diretor-presidente da Companhia, Daniel Neri, ignorou os pontos levantados na reunião”, conforme a fonte.

 

O parecer do jurídico foi o seguinte: “Após análise minuciosa, este núcleo jurídico opina pelo indeferimento do pleito, visto que a organização social não cumpre com as exigências apontadas no termo de referência, ao passo que o próprio processo administrativo necessita de melhor instrução, visto que carece de documentos e fundamentos para permitir que a Codem realize a contratação sem danos ou prejuízo de qualquer natureza”. 

 

Na mesma reunião, outros diretores manifestaram-se contrariamente à contratação da OS, mas Daniel Neri determinou dar sequência ao processo. Tudo teria sido orquestrado pelo gabinete da prefeitura, Aldenor Júnior, e o atual secretário da Seurb, Lélio Costa da Silva, ex-presidente da Codem. Atualmente, a Codem está sob a gerência do arquiteto José Akel Fares Filho, servidor antigo da Companhia e que esteve muito envolvido com as obras de reforma do Mercado de São Brás.

 

Aliado das antigas 

 

OS é uma organização pública de direito privado e sem fins lucrativos, que trabalha para atender aos interesses de uma comunidade. Uma OS pode compartilhar a gestão de diversos setores do poder público. 

 

O presidente da OS Iamazul é Paulo Uchôa, que aparece como “velho aliado do PT” - segundo a fonte. No site da OS, Uchoa é descrito como assistente social, antropólogo e estrategista em políticas públicas. Também é músico e professor e foi agente distrital de Mosqueiro na primeira gestão de Edmilson Rodrigues na Prefeitura de Belém, então do PT à época. 

 

A coluna apurou que que o Instituto Amazônia Azul agora é, de fato, uma OS, e tem no portfólio expertise técnica por ter colaborado na gestão do Mercado de Bragança, na reorganização do Shopping Popular de Capanema, duas cidades da região nordeste do Pará, e contribuições na formatação da Feira da 25, em São Brás.

 

No portfólio da Iamazul também constam projetos como o planejamento do Banco Comunitário Tupinambá, na Baía do Sol, em Mosqueiro; do sistema de esgotamento sanitário de Mosqueiro; concepção e elaboração do programa do Fundo Ver-o-Sol e Banco do Povo, em Belém; projeto da Bienal de música de Belém - gestão Edmilson Rodrigues; consultoria técnica para produção do curta-metragem “Açaí com jabá”,  2000 - gestão Edmilson; e produção do documentário “Trem Maria Fumaça - Estrada de Ferro Belém-Bragança”, de 2022, graças a de emenda federal do então deputado Edmilson Rodrigues.  

 

A Iamazul foi reconhecida como de "utilidade pública” pela Assembleia Legislativa do Estado, em agosto de 2023, a partir de proposição do deputado Elias Santiago, do PT, e, em novembro do mesmo ano, o reconhecimento veio do governo do Pará, em decreto assinado pelo governador Helder Barbalho, do MDB. 

 

Não era bem isso...


Apesar de todos os títulos e reconhecimentos, a OS escolhida para administrar o Mercado de São Brás não era exatamente a organização social com quem o novo prefeito de Belém, Igor Normando, gostaria de tratar na sua gestão - daí o choque.  

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