Na contramão da COP30, prefeitura liga motosserra e devasta arborização da avenida Romulo Maiorana

Projeto de reurbanização não poupa sequer árvores saudáveis para dar lugar a cimento e a concreto para ONU ver.

23/02/2025, 11:00

“Descontrução” do espaço deixa dúvidas sobre o acerto de medidas envolvendo supressão vegetal em uma cidade cuja arborização é mínima/Fotos: Divulgação.


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ouve um tempo em que a antiga rua 25 de Setembro, renomeada avenida Romulo Maiorana em novembro de 2010, era uma espécie de bosque natural no bairro do Marco, em pleno centro urbano de Belém. A primeira ‘desconstrução’ do espaço veio com o fim das ruas em zigue-zague que, por muitos anos, exigiram de motoristas atenção redobrada e menos velocidade.

Agora, em pleno ano de COP30, a crueldade é maior: árvores estão sendo derrubadas a torto e a direito sem qualquer explicação que não a obrigação técnica de um projeto que vai na contramão do que pretende mostrar o governo do Estado justamente no ano em que a capital paraense vai receber a Conferência do Clima da ONU, em novembro deste ano.

Siga o protocolo

Por mais que o projeto seja de responsabilidade da Prefeitura de Belém, a citação ao governo do Estado justifica-se porque é dele o interesse maior para que todos os 144 municípios paraenses se aliem às estratégias voltadas à imagem de um Pará sustentável e ecologicamente preservado. Desta forma, por que não interferir na chamada supressão vegetal em uma cidade que padece com tanto calor?

Os cortes de árvores mostram que não se trata de derrubada por necessidade, mas por opção. As peças amontoadas em toras de diferentes tamanhos e formas não possuem qualquer avaria ou doença. É tanta árvore levada ao chão que tratores e caçambas estão sendo usados pela Prefeitura de Belém para retirar a vegetação transformada em entulho.

Silêncio sepulcral

A Coluna Olavo Dutra solicitou nota ao órgão responsável pela comunicação da Prefeitura de Belém, inclusive sobre os detalhes técnicos do projeto de reurbanização da avenida Romulo Maiorana, mas não obteve resposta.

Fique claro desde já: a prefeitura não costuma responder a pedidos de notas, portanto, não parece muito preocupada com as consequências dos seus atos, acertados ou não. É o que tem feito com todos os problemas identificados na cidade neste início de mandato. Por hábito, o próprio prefeito costuma atribuir responsabilidades à gestão anterior e ponto final. Ocorre que, no caso da supressão vegetal, levar adiante um projeto da administração passada fadado ao fiasco é no mínimo conivência com o absurdo imposto a uma área que, por muitos anos, foi agradável e admirada justamente pela variedade de espécies vegetais e pelo sombreamento que oferecia.

Uma ideia de “jerico”

Uma prova de que o espaço ficará para sempre desprovido de verde e sombra está na etapa já entregue do projeto. No trecho que vai da Travessa Lomas Valentinas até a avenida Dr. Freitas, as árvores sumiram e o que sobrou de canteiro tem apenas uma ou outra árvore antiga, insuficiente para produzir sombras.

Detalhe: palmeira imperial

A proposta, conforme o projeto, de instalar bancos - de concreto? - para contemplação da paisagem sob sol e chuva parece impraticável. O populacho estará exposto às intempéries e às temeridades do cotidiano, que não são poucas.

Do trecho que vai da Travessa Perebebuí até a Dr. Freitas contam-se, nos dedos, oito árvores - sendo três delas palmeiras imperiais que sequer ocupam espaço.

Na lista da “Belém do já teve”, fica a saudade de um espaço que guardava resquícios de suas origens: o verde da floresta. Fica também a indignação pela conivência dos vereadores de Belém - um silêncio que remete à subserviência e que retrata bem as prioridades de suas excelências.

Papo Reto

·Na dança do preço dos aluguéis em Belém por conta da COP30, a ex-deputada Nilse Pinheiro (foto) dá o tom.

·Além de imóvel alugado no Condomínio Água Cristal, Nilse alugou espaços da Esmac, atualmente em reforma, para acomodar visitantes durante a Conferência da ONU.

·Um arrogante executivo estadual entrou em pânico, dia desses, ao ser dado por servidores como possível exonerado do cargo pelo governador Helder Barbalho. Incontinenti, chamou todo mundo às falas.

·Como convém aos petulantes, fez o discurso de praxe, condenou “a comemoração” antecipada dos funcionários e exigiu “respeito acadêmico”, seja lá o que isso quer dizer.

·Os dois ministros paraenses que compõem o governo do presidente Lula - Jáder Filho, das Cidades, e Celso Sabino, do Turismo - devem continuar nos cargos na troca de cadeiras prevista para março.

·Quase dois meses desde o início da gestão, a Prefeitura de Belém começou a publicar no Diário Oficial nomeações de novos DAS.

·Na edição de terça-feira, 18, alguns nomes de servidores chamam atenção. A Secretaria de Saúde tem mais nomeações e ocupa três páginas do Diário Oficial.

·A Chefia de Gabinete do prefeito tem 40 nomes e três secretários executivos, estes, com salários de R$ 20 mil.

·Na vice-prefeitura, são 18 nomes; na Secretaria de Comunicação, ex-Comus, 28 nomes, isto é, uma renovação total.

·Detalhe: se tem uma pessoa muito bem relacionada no município é Eliana Chaves Uchôa, que veio das duas gestões de Zenaldo Coutinho, do PSDB, passou por Edmilson Rodrigues, do Psol, e emplacou a Secretaria de Proteção e Defesa dos Animais de Igor Normando, do MDB. 


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