Ministra Sônia Guajajara atribui à imprensa parte da crise na educação indígena no Pará

“Vocês são parte deste problema, porque querem dividir, usar os indígenas e professores em benefício de vocês mesmos”.

28/01/2025, 12:45

Sônia Guajajara dançou e ouviu durante seis horas e não disse a que veio, mas distribuiu responsabilidades, segundo suas conveniências/Foto:João Paulo Guimarães.


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oi no mínimo desastrosa a participação da ministra dos Povos Indígenas, Sônia Guajajara, na reunião, ontem, 27, com cerca de 300 indígenas que ocupam a sede da Seduc há duas semanas, em Belém. Depois de uma conferência online, semana passada, a ministra decidiu vir à capital paraense. Na Seduc ocupada, dançou, cantou e, depois de mais de seis horas de reunião, encontrou um “culpado” para a crise: a imprensa. 

A ministra, que esteve no Fórum de Davos, na Suíça, chegou à Secretaria envergando o costumeiro cocar acompanhada pela secretária estadual dos Povos Indígenas do Pará, Puyr Tembé.  Quem não estava na sala de reunião, nem no prédio da Secretaria ocupado pode acompanhar a reunião em transmissão ao vivo pelo Instagram. 

A reunião durou mais de seis horas, mas o resultado foi considerado pífio: a ministra se sentou e apenas ouviu e ouviu. Para não dizer que não falou nada importante, em dado momento, Sônia Guajajara se dirigiu aos jornalistas acompanhavam a conversa e cravou, sem meias palavras: “Vocês, jornalistas, são parte deste problema, porque querem dividir, usar os indígenas e professores em benefício de vocês mesmos e querem dividir o movimento pela educação”, disse.

Ataques nas redes

O fotógrafo João Paulo Guimarães foi um dos primeiros a denunciar a fala da ministra. “Escutar de você que os jornalistas são parte do problema me deixou triste. É a tristeza de quem sabe que aqueles que consideram a imprensa inimiga são as pessoas que precisam ser combatidas. E isso nunca pensei que pudesse acontecer. Espero que você reveja sua fala e postura. Não condiz com seu histórico. Um abraço daquele que lhe chamava de ‘Professora Sônia’”, lamentou. 

A postagem do fotógrafo no perfil no Instagram tem cerca de 1,5 mil reações e muitos comentários. Um desses diz que foi uma decepção esse momento e grande parte da fala da ministra. “Não consegui assistir até o final de tão decepcionada e angustiada que fiquei. Saí da live com parte da esperança quebrada. Obrigada, João Paulo, e a todos que reverberam a verdade em suas redes. Sem apoio e com muitos ataques, persistam, resistam: vocês são necessários demais”.

Outros comentários

“É triste e não faz o menor sentido. Qual o benefício que os jornalistas teriam? Se não fossem vocês na cobertura diária, iria prevalecer a propaganda governista de que a lei é linda, de que estão depredando o prédio público... Na medida do possível, sigam firmes”.

“Sei que por fazer parte do governo federal, ela não pode interferir diretamente nas decisões do Estado, mas Sônia deveria ser a importante liderança indígena à frente do ministério criado por Lula, no qual todos desejavam ver, especialmente, a defesa dos direitos dos povos originários e a implementação de políticas públicas voltadas a suas necessidades”.

“Mas, desde o começo, ela demonstra não estar alinhada com a demanda da ocupação, e sim com o governo estadual, não exercendo o papel que lhe caberia e já vem mostrando claramente a falta de protagonismo e autonomia, ao ler um papel com texto alinhado ao governo. Viajar para o exterior e participar de eventos com a Unesco, ONU para promover a causa indígena é mais fácil, com certeza”.

“A professora Sônia se perdeu e perdeu sua essência quando aceitou ser uma indígena de enfeite. Vi a fala dela no telejornal, na chegada da Seduc. Eu sabia que o objetivo da visita dela era exatamente ser ponte nessa luta. Ela perdeu a essência quando se tornou "indígena de enfeite para Brasília". 

“Quando a classe trabalhadora e setores populares não alcançam o poder por meio de sua tomada, de uma revolução, o caráter do sistema não se altera, nem do regime, nem do governo. O mais provável é que essas pessoas ‘nomeadas’ para cargos importantes, como a ministra e dos Povos indígenas, sejam cooptadas para os interesses e modos de operações do Estado. Infelizmente, parece-me explícito o que ocorre com Sônia e tantos e tantos outros sugados pela falsa ideia de conciliar interesses antagônicos e inconciliáveis. Não sou eu quem diz, é a História que nos conta”, alertou um outro. 

Sobre a ministra

Esta não foi a primeira visita da ministra Sônia Guajajara ao Pará. Postagens nas redes sociais mostram a ministra e familiares no réveillon de 2023-2024 em Salinópolis, nordeste do Estado, a convite de um ministro do governo Lula. Para discutir problemas envolvendo indígenas, sim, é a primeira vez.  

Papo Reto

·A visita de agentes da Polícia Federal, ontem, ao Tribunal Regional do Trabalho, em Belém, alcançou o gabinete do desembargador Walter Paro (foto).

·Por determinação da Corregedoria Nacional de Justiça, foram cumpridas ordens de apreensão e extração de dados de equipamentos eletrônicos de uso funcional, por conta da apuração da atuação do desembargador no processo envolvendo a eleição da Fiepa.

·O Delegado Eder Mauro aparece como o deputado que mais torrou dinheiro público com aluguel de carros - R$117,9 mil - e embarcações - R$198.0 mil - na Câmara Federal, em 2024: total R$315,9 mil.

·O ranking da gastança também aponta o deputado Antônio Doido, do MDB, com na posição “medalha de prata”, com gastos de mais de R$ 273 mil com carrões. 

· Sem querer, querendo, o Podemos de Ananindeua entrou em choque com o governador Helder Barbalho por causa dos indígenas que ocupam o prédio da Secretaria de Educação, há 14 dias.

·O partido condena “o desprezo do Estado para com o Magistério, as arbitrariedades do governo para frear as mobilizações em andamento e reitera apoio e solidariedade ao movimento”.

·Que a crise do PIX tinha tudo para derrubar a popularidade do presidente Lula todo mundo estava careca de saber. A aposta foi confirmada ontem pela pesquisa Genial-Quaest.

· Ocorre que as notícias negativas não param nesse ponto para o presidente. A queda se estende às suas principais bases eleitorais e leva o partido de roldão na região Nordeste.

·A Igreja Católica sinaliza aceitar a fixação de um domingo para a celebração da Páscoa, conforme o Papa Francisco.

·Este ano, católicos e ortodoxos devem celebrar a Páscoa no feriado da mesma data, em nome da união das igrejas.

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