Luxo e miséria: mulher paraense enfrenta fúria de ex-marido na Justiça em processo de 10 anos

Ele teria prometido deixar Tânia Ellen na miséria - e cumpriu. Sua alegação: “Do suor do teu rosto comerás o teu pão” (Gênesis 3:19).

11/02/2025, 11:00

Tânia Ellen nos anos 1997 e hoje, travando uma batalha judicial em busca de direitos na Justiça do Pará/Imagens-fotos: Arquivo-TVLiberal.


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antes e o depois: na flor da idade, lá pelos anos 1997, Tânia Ellen brilhou nos palcos como candidata ao Rainha das Rainhas do Carnaval, quando conquistou a coroa de segunda princesa. Hoje está com 53 anos de idade. Cega de um dos olhos e sem dinheiro, vive de favores em um quartinho, em Belém.

Parece cena de filme, mas é vida real. É mais um caso de negação dos direitos das mulheres. Quase dez anos após o divórcio, o empresário português Carlos Manuel Almeida Gonçalves ainda não dividiu os bens com a ex-mulher, a paraense Tânia Ellen Gonçalves, e se recusa a pagar a pensão compensatória até que a partilha dos bens seja feita.

Segundo a ex-mulher, Carlos teria jurado que a deixaria na miséria - e cumpriu a promessa. Ele alega na Justiça que, depois da separação, as mulheres devem trabalhar para se sustentar sozinhas. No processo, o empresário usa um versículo da Bíblia para justificar sua atitude: “Do suor do teu rosto comerás o teu pão” (Gênesis 3:19).

O caso, considerado espinhoso na Justiça paraense, se arrasta no sem solução. Desde o dia 10 de dezembro de 2024, um pedido de tutela antecipada está sob a análise na da 5ª Vara de Família, mas ainda segue sem resposta.

Na rua da amargura

“Ele ficou com a casa, com os filhos e com todo o patrimônio. Estou pedindo socorro”, diz Tânia Ellen, que luta por seus direitos em meio a uma batalha diária pela sobrevivência. Sem casa, sem renda e sem poder conviver com os filhos, ela conta que sobrevive com a ajuda de conhecidos e da solidariedade de estranhos.

“Vivo de doações. Pessoas que me conheceram da igreja ou da rua tiveram pena de mim e me acolheram. Sobrevivo com o que me dão: um desodorante, um absorvente, um prato de comida. Não tenho nada. Até a pensão que recebia ele conseguiu tirar de mim. Desde a pandemia, não tenho mais nada”, relata.

Profissão: dona do lar

Tânia afirma que, durante o casamento, abdicou da vida profissional para cuidar da família, enquanto o ex-marido expandia seus negócios. “Ele não deixava eu trabalhar, queria que eu cuidasse só dos filhos e da casa”, conta. Além disso, destaca que possui visão monocular devido a um câncer enfrentado na infância, o que dificulta sua recolocação no mercado de trabalho.

Sem a visão do olho esquerdo, a mulher teve também a audição prejudicada devido ao câncer na infância. Sem moradia fixa, Tânia relata que já chegou a dormir na rua por não ter para onde ir. “Já pedi comida na porta de um restaurante. Eles distribuem sobras do buffet e eu já estive lá com minha marmita”, confessa.

A ex-mulher diz que o sofrimento não é só dela, mas também dos filhos, que vivem com o pai. “Eles sofrem por ver a minha situação, sofrem com o divórcio e também sofrem com o que o pai faz com eles”, afirma.

“Um medo constante"

Ela revela que, durante o casamento, era humilhada e agredida na frente dos filhos e dos funcionários da casa. “Ele me ofendia, me agredia verbal e fisicamente. Era frio e calculista. Hoje, vivo com medo, um medo constante”, afirma.

Afastada dos filhos, Tânia diz que sente falta dos momentos simples do dia a dia. “Sinto falta do cheiro deles, de dar bom dia, boa noite, de dormir ao lado deles. Mas eu não tenho casa, não tenho dinheiro, não tenho como proporcionar nada a eles. E, para piorar, meu ex-marido me proibiu de entrar no apartamento que também é meu por direito. Eu só vejo meus filhos na rua ou na portaria do prédio onde eu morava. Ele não me deixa subir, não me deixa entrar”, revela.

“Minha única esperança é em Deus e no poder judiciário. Mas estou afundando cada vez mais. Ver meus filhos sofrendo, cada um do seu jeito, é o que mais me dói. Eu só quero justiça. Só quero poder viver com dignidade”.

Fortuna acumulada

Tânia e Carlos foram casados por mais de 20 anos, período em que tiveram três filhos. O patrimônio do casal inclui diversos imóveis em Belém, como unidades no Edifício Selecto e no Edifício Portinari, um dos mais luxuosos da capital, e uma empresa que opera câmbio. Além de patrimônio no Brasil, o empresário mantém investimentos em Portugal, seu país de origem e mora em uma cobertura de luxo.

Violência patrimonial

A defesa de Tânia Gonçalves destaca que a situação configura violência patrimonial, conforme previsto no artigo 7º da Lei Maria da Penha. “Esse tipo de violência ocorre quando um dos cônjuges retém, subtrai ou destrói bens, recursos financeiros ou documentos pessoais da mulher, privando-a de sua independência financeira”, afirma a defesa no processo.

O pedido também cita o Protocolo para Julgamento com Perspectiva de Gênero do CNJ, que orienta os magistrados a levar em conta desigualdades estruturais que afetam mulheres, especialmente em casos de litígios familiares.

Decisão aguardada

Até o momento, a 5ª Vara de Família de Belém ainda não se manifestou sobre o pedido. A defesa da requerente argumenta que a demora no julgamento tem agravado sua situação de vulnerabilidade, tornando urgente a análise da liminar. Se concedida, a tutela antecipada permitirá que Tânia tenha acesso imediato a um imóvel para moradia e a uma pensão que garanta sua subsistência até a conclusão do processo de partilha.

Aos 53 anos, Tânia Ellen alega que perdeu tudo e sobrevive de favores em Belém/Fotos: Arquivo

Papo Reto

·Procura-se um candidato - o ideal seria candidata - para formar chapa com Hana Ghassan (foto) em 2026.

·Dizem que, convidada pelo governador Helder Barbalho na última sexta-feira, a prefeita de Canaã dos Carajás, Josemira Gadelha, refugou.

·Prefeito de Parauapebas, Aurélio Goiano mal iniciou o mandato e já vem causando um forte surto de insônia na classe política da região.

·Aurélio já sinalizou que pretende lançar candidatos a deputado estadual e um federal, um deles, a primeira dama, Beatriz Barbosa.

·A ideia do prefeito é inviabilizar a reeleição de nomes ligados ao antigo grupo político que comandava a Prefeitura de Pebas. 

·Em Redenção, sudeste do Pará, existem hoje quase 100 aeronaves baseadas no aeródromo municipal - mais do que em Belém -, algumas inclusive realizando voos semanais direto para a Europa.

·Falando nisso, a aviação executiva vem impulsionando a construção de aeroportos Vips no Brasil, graças ao crescimento do setor desde o início da pandemia de Covid-19, quando muitas pessoas trocaram a aviação regular pelos aviões particulares.

·Aliás, segundo a consultoria Argus International, a atividade de voos executivos na América do Sul registrou alta de 7,7% no ano passado, sendo que o Brasil representa 72,9% desse mercado.

·Quem souber, responda: por que será que muitos donos desses aviões, na contramão da tendência nacional, tanto se opõem a que a base seja regulada e, por conseguinte, fiscalizada pela Agência Nacional de Aviação Civil?

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