chamada pré-COP30, marcada para 13 e 14 de outubro, último evento antes da própria Conferência do Clima da ONU, não ocorrerá em Belém, mas em Brasília. A cúpula preparatória é vista pelos negociadores como fundamental para a agenda oficial, que começa em Belém cerca de um mês depois. Essas reuniões preparatórias serão em Brasília por causa do Círio de Nazaré, no dia 12 de outubro, que atrai fiéis de todo o País. A proximidade das datas tornaria os dois eventos inconciliáveis.

O governo federal está explorando alternativas dentro da legislação para tentar conter os altos preços de passagens aéreas e hospedagens em Belém por ocasião da cúpula do clima e deve ter reuniões com o setor para limitar preços que, em muitos casos, estão sendo considerados abusivos, segundo os organizadores brasileiros.
“Não é potoca”
De acordo com o secretário extraordinário para a COP30, Valter Correia, já foram iniciadas conversas dentro do governo, especialmente com o Ministério da Justiça, para se buscar as ferramentas legais que podem ser usadas para “sensibilizar” a rede hoteleira.
Trata-se de ferramentas de proteção ao consumidor, segundo Valter Correia. “Não queremos aplicar, mas dizer que existem essas ferramentas e, portanto, queremos que chegue a um patamar razoável”, acrescenta.
O custo da hospedagem assusta as delegações e, especialmente, o terceiro setor, o que pode diminuir o número de participantes. Delegações têm procurado o governo brasileiro com preocupações sobre o custo de manter dezenas de pessoas em Belém durante duas ou três semanas de negociações.
O secretário informa que os investimentos realizados até agora conseguiram elevar o número de leitos para 50 mil, incluindo a construção de dois novos hotéis em antigos prédios públicos, a construção de um hotel modular de 400 quartos para receber os chefes de Estado, e a contratação de dois navios que ficarão ancorados no porto da capital paraense.
Pressão interna
Na ponta mais econômica das medidas, haverá disponibilidade de acomodações em prédios de escolas públicas, construção de contêineres e o mercado privado já existente, principal ponto da pressão da alta de preços, com oferta de apartamentos, condomínios e casas térreas, sítios e clubes sociais, caso da sede da Tuna Luso Brasileira, na Almirante Barroso. Donos de imóveis residenciais em conjuntos, por exemplo, pressionam ocupantes para suposta reforma do imóvel, abrindo espaço para posterior oferta no mercado da COP30, como ocorre nos Conjuntos Marex e Bela Vista, próximos ao Aeroporto Internacional de Belém.
Ainda assim, admite o secretário, os preços estão além do que o governo considera razoável, e a ideia é chamar uma reunião com o setor na próxima semana e mostrar que o governo pode lançar mão de medidas legais, se for necessário.
“Quando tem uma procura maior os preços sobem, isso é natural, mas tem que ser razoável. Não dá para ser 50, 100 vezes maior. Acho que a rede hoteleira e os proprietários de imóveis estão sensíveis”, afirmou.
Procuradas, a Associação Brasileira da Indústria de Hotéis, tanto a nacional como a seção do Pará, mas se manifestaram
Recentemente, entrou no radar do governo também o preço das passagens aéreas para Belém que, no período da COP, já estão custando quase o dobro de épocas normais, mesmo para compras feitas sete meses antes do evento. As empresas do setor também devem ser procuradas pelo governo federal, segundo Valter Correa, e, até agora, não se manifestaram.
A teoria e a prática
O presidente Lula disse que seu objetivo ao trazer a COP30 para a Amazônia era atrair a atenção do mundo a uma floresta que oferece soluções únicas para a mudança climática, ao armazenar nas árvores o carbono que aquece o planeta, e sofre algumas de suas consequências mais graves, na forma de queimadas e secas.
Embora muitos ativistas que defendem o combate às mudanças climáticas tenham comemorado o foco na floresta, alguns também expressaram receio de que a realização de um evento tão importante possa sobrecarregar uma região frágil e comprometer o sucesso da conferência.
A quem interessa?
Belém, uma cidade portuária de 1,3 milhão de habitantes à beira da floresta amazônica, está pontilhada por canteiros de obras. O governo brasileiro está investindo cerca de R$5 bilhões em obras. Mas ainda há muito trabalho a ser feito para acomodar os cerca de 60 mil visitantes esperados.
Duas organizações globais de ativismo climático, que não quiseram ser identificadas, disseram à Reuters que observadores contratados por eles têm encontrado preços para acomodações várias vezes mais altos do que os pagos na conferência do ano passado, em Baku, no Azerbaijão. Até mesmo os quartos mais baratos encontrados por eles custam cerca de R$3 mil, e a média é de cerca de R$9 mil por noite.
Lula minimizou a crise dos hotéis em uma visita a Belém, e sugeriu que aqueles que não conseguirem encontrar acomodações poderiam dormir “olhando para o céu que vai ser maravilhoso”.
No cerne do problema está uma pergunta que cresce à medida que a conferência anual do clima deixa de ser um encontro de líderes mundiais e diplomatas para se tornar um megaevento que mistura ativistas, empresários e autoridades governamentais: Para quem é a cúpula climática da ONU?
Com informações da Reuters.