presidente da COP30, o diplomata André Corrêa do Lago, tem poucos meses para os muitos desafios que ainda se apresentam para o evento da ONU. Enquanto o pensamento geral foca como problema maior a questão de hospedagens em Belém, Lago tem um desafio maior que coloca em xeque a própria credibilidade do governo brasileiro: reverter um movimento de possível esvaziamento da COP30.
A preocupação cresce diante do cenário de junção da ameaça de saída dos Estados Unidos de Acordo de Paris, que Lago admite que pode impactar as decisões do encontro, com outra crise junto a investidores chineses, que já dão como certa a desistência de participar diretamente da COP 30 em Belém por falta de hospedagem, e transferir a participação apenas para as reuniões que serão realizadas no Rio de Janeiro, Estado que terá uma “Casa COP30”, e em São Paulo.
Esforço e investimento
Para resolver a polêmica questão de hospedagem, a organização da COP30 está reunindo esforços para evitar abusos nos preços, incluindo investimentos de quase R$ 200 milhões na rede hoteleira de Belém e uma decisão pela construção de hotéis modulares, cujo detalhamento ainda não foi divulgado, mas que permanecerão como legado para o Estado do Pará.
A grande questão é que esse e outros esforços parecem ainda não estar convencendo os interessados diretamente na COP, com muitos países já encolhendo suas delegações, e algumas com a intenção clara de realmente ajudar o Brasil. Esta semana, por exemplo, o governo da Irlanda informou que pretende participar da COP30 em Belém exatamente nos dias do evento, mas a previsão é de vir com uma equipe mínima, formada por seu primeiro-ministro, Taoiseach Micheál Martin, e apenas seis ministros de áreas mais estratégicas.
Fundo Amazônia
A informação foi repassada na última quarta-feira, 12, pelo ministro dos Transportes da Irlanda, Sean Canney, que esteve no Brasil para assinar antecipadamente um compromisso de doação ao Brasil de 15 milhões de euros - equivalentes a cerca de R$ 91 milhões - ao Fundo Amazônia para os próximos três anos.
Ao lado de Fiona Flood, embaixadora da Irlanda no Brasil, o ministro Canney assinou em São Paulo o compromisso durante reunião com a ministra Marina Silva, do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima, confirmando a doação ao Fundo gerido pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social do Brasil (BNDES), e que é a maior iniciativa mundial para a redução de emissões por desmatamento e degradação florestal (REDD+) e um dos principais instrumentos de execução da política ambiental e climática brasileira. Com a confirmação, a Irlanda se junta ao grupo de países doadores, que passará a ter oito membros.
Mudança na Cúpula
É muito provável, no entanto, que o governo irlandês participe somente da Cúpula de Chefes de Estado, o principal momento do encontro, que espera reunir representantes de mais de 190 países, o que só nesse momento a organização da COP já estima reunir 12 mil pessoas.
Esse, no entanto, é um encontro que já foi retirado da programação oficial da COP e antecipado pelo governo federal para ocorrer nos dias 6 e 7 de novembro de 2025, ou seja, encerrando três dias antes do início do calendário oficial da COP30, que é de 10 a 21 de novembro em Belém.
A presidência do evento justificou a mudança, acordada com o governo do Pará, justamente a fim de reduzir a pressão sobre a rede hoteleira da cidade e garantir infraestrutura e acomodações adequadas tanto aos participantes da Cúpula quanto da COP propriamente dita durante os onze dias de evento.
Missão hotelaria
Além do anúncio dos investimentos de quase R$ 200 milhões na rede hoteleira de Belém informada pelo secretário extraordinário para a COP 30, Valter Corrêa, que incluirá os tais hotéis modulares, há a promessa de que ao menos o hotel da rede Vila Galé ficará pronto.
No último dia 19 de fevereiro, durante visita às obras em Belém pelo ministro do Turismo, Celso Sabino, a gerência da obra em Belém informou que está correndo com as obras do Vila Galé Amazônia para estar em pleno funcionamento na COP30.
Aliás, este também é outro desafio. O hotel está somente com algo em torno de 40% da obra concluída e data oficial de inauguração marcada para o dia 31 de outubro, exatamente às vésperas da COP30. Mas a gerência local da obra ainda corre atrás de um desafio maior, que é entregar o hotel para o próximo Círio de Nazaré, para que haja tempo até de fazer os ajustes operacionais que costumam ser necessários depois que um empreendimento desses entra em operação.
Reforço de leitos
Se a rede conseguir superar esse desafio será um reforço bem-vindo, já que o projeto do hotel está sendo executado com 227 apartamentos que representam 500 leitos de alto padrão às margens da Baía do Guajará, na área do Porto Futuro II, em frente ao Rio Guamá e próximo à Estação das Docas. O hotel terá a licença para operar por 30 anos, e sua construção faz parte de um projeto mais amplo de reestruturação da região portuária de Belém, que visa transformar áreas históricas em espaços contemporâneos e funcionais.
Sobra de reclamações
Por outro lado, uma delegação da sociedade civil que trabalha com engajamento de políticas nacionais para mudanças climáticas já comunicou que a equipe deles será muito menor que em COPs passadas, porque consideram um absurdo pagar em torno de US$ 30 mil dólares por dez dias em Belém.
Para agravar, o porta-voz dessa e outras entidades consideram que a comunicação da COP30 está muito ruim, porque não aponta nenhuma solução por meio de seus reduzidos canais oficiais, que até agora se resumem aos chamados “hot sites” e portais do governo que não dizem nada, e um perfil no Instagram que diz menos ainda. Sobre essa reclamação de comunicação, nem a Secretaria Extraordinário para a COP30 ou a presidência do evento fizeram qualquer manifestação.
Papo Reto
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