A decisão do ministro Cristiano Zanin, do
Supremo Tribunal Federal (STF), que prorrogou o afastamento de quatro
desembargadores do Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul e de um
conselheiro do Tribunal de Contas do Estado atendeu a um pedido da Polícia
Federal. Em relatório enviado ao STF, a corporação afirma ter encontrado provas
do envolvimento dos magistrados na venda de decisões e defende que os indícios
são suficientes para abrir um processo criminal. Cabe à Procuradoria-Geral da
República (PGR) decidir se oferece ou não denúncia.
Os desembargadores Alexandre Aguiar Bastos, Marcos José de Brito Rodrigues,
Sideni Soncini Pimentel e Vladimir Abreu da Silva e o conselheiro Osmar
Jeronymo estão há 180 dias fora das funções, desde outubro de 2024, e são
monitorados por tornozeleiras eletrônicas, por ordem do ministro Francisco
Falcão, do Superior Tribunal de Justiça (STJ), que depois enviou o inquérito ao
STF. Embora estejam afastados, recebem suas remunerações normalmente
O advogado Pierpaolo Bottini, que representa o desembargador Sideni Pimentel,
afirma que todas as suas decisões foram fundamentadas, que ele nunca atuou em
casos em que seus filhos fossem advogados e que jamais recebeu qualquer
vantagem indevida no exercício da jurisdição.
"A defesa apresentou um extenso parecer técnico contábil no qual aponta a
origem de todas as receitas do desembargador, todas explicadas ilícitas. O
desembargador prestou depoimento na Polícia Federal e esclareceu todos os
fatos, não havendo motivo para continuidade de seu afastamento", afirma o
criminalista.
O advogado Murilo Marques, que representa Osmar Jeronymo, afirma que não teve
acesso ao relatório da Polícia Federal e nem foi intimado da decisão que
prorrogou o afastamento do conselheiro. A defesa afirma que o afastamento
"causa muita estranheza".
O Estadão busca contato com as demais defesas.
O ministro Cristiano Zanin, que assumiu a relatoria da investigação no Supremo,
renovou nesta terça, 22, o período de afastamento. A decisão é provisória até
que a PGR se manifeste sobre as conclusões da Polícia Federal. Depois disso, os
afastamentos podem ser mantidos ou revogados, a depender do parecer da
Procuradoria-Geral da República.
"Considerando a iminência do vencimento do prazo originalmente
estabelecido pelo Ministro Francisco Falcão para vigência das cautelares,
impõe-se, por medida de cautela e sem prejuízo de reavaliação oportuna,
deferimento do pedido da Polícia Federal de prorrogação imediata da vigência
das cautelares de afastamento da função pública", escreveu Zanin.
Os magistrados e o conselheiro estão proibidos de acessar os prédios do
Tribunal de Justiça e do Tribunal de Contas e os sistemas de processos e também
não podem manter contato com servidores das Cortes.
Ontem, o Tribunal de Mato Grosso do Sul informou que os desembargadores haviam
retornado ao trabalho. Com a decisão de Zanin, eles voltam a ser afastados. O
servidor Danillo Moya Jeronymo, sobrinho do conselheiro do TCE, também foi
afastado.
O inquérito da Operação Ultima Ratio tramita no STF porque há suspeita de
envolvimento de servidores de ministros do Superior Tribunal de Justiça no
esquema de negociação de decisões. Até o momento, segundo o STJ, não há
indícios que desabonem a atuação de nenhum ministro da Corte.
A Polícia Federal acredita que os desembargadores negociaram decisões e
pagamentos por meio de familiares. As suspeitas envolvem sobretudo filhos dos
magistrados, em sua maioria advogados, que segundo a PF usariam os escritórios
para receber propinas sem chamar a atenção dos órgãos de investigação.
De acordo com a Polícia Federal, os magistrados e seus filhos mantinham uma
relação próxima que se estendia para além do ambiente de trabalho. Fotos
obtidas na investigação mostram reuniões informais, churrascos e até viagens em
grupo. A PF também encontrou vínculos societários entre as famílias e decisões
cruzadas que beneficiaram clientes de seus filhos.
COM A PALAVRA, AS DEFESAS
O Estadão busca contato com as defesas dos desembargadores Alexandre Aguiar Bastos,
Marcos José de Brito Rodrigues e Vladimir Abreu da Silva. O espaço está aberto
para manifestação
Fonte: Estadão conteúdo
Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil