UFPA fecha restaurantes para reforma e espeta barriga de fome da comunidade acadêmica

Medida ocorre exatamente no dia da volta às aulas e rende duras críticas ao silêncio conivente do DCE, acusado nas redes sociais de não agir para evitar dados aos estudantes.

07/01/2025, 08:00
UFPA fecha restaurantes para reforma e espeta barriga de fome da comunidade acadêmica
M

 

al o ano começa e os alunos da Universidade Federal do Pará já se deparam com uma bomba: o fechamento dos dois restaurantes universitários para reformas estruturais, justamente ontem, dia do retorno às atividades acadêmicas. Incontinenti, uma nota conjunta dos coletivos da Juventude do PT foi divulgada, afirmando que a medida representa um prejuízo à comunidade acadêmica que depende dos serviços de alimentação diária. Essa, por assim dizer, doeu na barriga. 


DCE tinha conhecimento da medida desde dezembro, mas não tomou iniciativa capaz de evitar o problema na volta às aulas/Fotos: Divulgação-Redes Sociais.

 A UFPA tem dois restaurantes universitários, um no campus básico e outro, no campus profissional, e quem responde por eles é a Pró-reitoria de Assistência e Acessibilidade Estudantil, a Proas, criada recentemente, e cujo titular, comenta-se, está bem distante do atual conflito com os alunos.

 

No dia 27 de dezembro do ano passado, a Proas se reuniu com entidades e associações estudantis da UFPA para informar sobre a situação dos restaurantes e o início das obras, que devem durar 30 dias.  Para tentar sustar a medida, amanhã, dia 8, haverá uma plenária sobre o assunto com os alunos às 14 horas, no hall da Reitoria.

 

Hora da fome

 

O fornecimento de refeições ocorre no almoço e no jantar. O valor é de R$ 1 para estudantes de graduação e da educação básica e para estudantes de pós-graduação. Servidores docentes, do setor técnico-administrativos e empregados de empresas terceirizadas pagam R$ 10. Os restaurantes atendem estudantes, técnicos, docentes e visitantes, além de outras instituições de ensino superior e da educação básica. Um sistema digital permite a compra online de refeições, com um cartão associado ao sistema.

 

Posição dos estudantes

 

No domingo, 5, o Diretório Central dos Estudantes da UFPA publicou uma nota no perfil da entidade no Instagram com o título “O fechamento total do RU é prejuízo para os estudantes!”.    A nota diz que, embora a importância das obras nos seja urgente, é necessário construir saídas que causem impactos reduzidos aos estudantes. Para o DCE, “o início das obras, em concomitância com o início do semestre letivo, causa grandes impactos na permanência estudantil”. 

 

“Muitos estudantes da UFPA só possuem os restaurantes como fonte de alimentação. Reconhecendo essa realidade estudantil e o impacto que causaria nos estudantes, durante a reunião com a administração superior, na qual o atual reitor, Gilmar Pereira, estava presente, colocamos a posição contrária à reforma no início do semestre, que começou nesta segunda-feira, dia 6”, prossegue a nota. 

 

O DCE diz que é reconhecida a necessidade das obras de manutenção na estrutura dos restaurantes, pois é necessário garantir a segurança dos trabalhadores e da comunidade acadêmica que utiliza dos serviços, e defende a posição de “se iniciar a obra no período de recesso do semestre letivo atual, buscando saídas que causem menos impactos aos estudantes”. 

 

Contrapartida negada

 

O DCE informa também que, em contrapartida, a Proas manifestou que seriam disponibilizados auxílios emergências de alimentação aos estudantes que apresentam vulnerabilidade socioeconômica e que estivessem cadastrados no Cadastro Geral de Assistência Estudantil - Cadgest. “Essa medida foi pontuada como insuficiente para abranger os estudantes que não estão inscritos devido à burocracia presente no cadastro e dependência dos RUs”, enfatiza a nota.  A informação dá conta de que seriam disponibilizados apenas 2,2 mil auxílios para um quantitativo de mais de 5 mil alunos que frequentam os restaurantes. 

 

As proposições apresentadas pelo DCE, na reunião de dezembro passado, não foram acatadas no processo. “Nos próximos dias, vamos buscar saídas para os estudantes sobre essa situação que impacta a comunidade estudantil”.

 

Ataque ao diretório

 

À nota publicada pelo DCE foram adicionados muitos comentários, na maioria, com críticas. “Vocês estiveram na reunião dia 27 de dezembro, sabiam das decisões tomadas e não houve sequer uma consulta à comunidade estudantil sobre isso. Que tipo de representação estudantil é essa? Espero que se lembrem que nota de Instagram não constrói luta, e que nada nos é dado de graça, seja pela Reitoria ou pelo governo”, diz um dos comentários.

 

“Por que se posicionaram só agora? Vocês estavam na reunião do dia 27 de dezembro, sabiam de tudo e não avisaram nada. Muita irresponsabilidade dessa mesa diretora do DCE. Quando foi na greve, só faltaram bater na cara dos trabalhadores que estavam lutando, e agora gravam até vídeo para passar pano nessa palhaçada e ainda têm coragem de lançar uma nota como essa, sendo que poderiam ter articulado movimentações muito antes para isso não acontecer”.

 

Outra aluna diz: “Um diretório central dos estudantes que não avisa sobre uma situação importante que afeta uma parcela enorme dos estudantes, mas que solta uma nota dizendo que foi contra. Por que não se mobilizaram quando souberam? Pelo visto, o almoço e jantar vai ser na casa da majoritária, não é?”


“O RU sempre fica fechado nas primeiras semanas do ano, e o intensivo não para. Temos aula o dia inteiro e precisamos levar comida de casa ou nos virar, porque ninguém se preocupa com o intervalar. Agora que isso está afetando todo mundo, quem sabe entendam que estudar com fome é impossível”.

Mais matérias OLAVO DUTRA