Jamais seria lugar comum dizer que o Pará brilhou muito na passarela do Sambódromo da Marquês de Sapucaí na madrugada desta quarta-feira, 5, no desfile da Escola de Samba Grande Rio, em Caxias, Região Metropolitana do Rio de Janeiro. Sob o tema “Pororocas Parawaras: as águas dos meus encantos nas contas dos curimbós”, uma homenagem à cultura paraense e suas lendas, a escola fez um desfile considerado impecável e foi uma das poucas, nos três dias de apresentações, que levantou o grito de “É campeã!”
É fato que uma verdadeira “enchente” de vermelho, azul e branco invadiu as arquibancadas da Sapucaí. Muito por conta das bandeirinhas do Pará dadas de presente ao público, mas também havia muitos paraenses com bandeiras maiores e camisas com as cores paraenses.
A escola também não se fez de rogada. Desde o ano passado, quando anunciou que o Pará seria o tema da escola em 2025, se cercou de muitos paraenses, como quando se inspirou na música “Quatro Contas”, de Dona Onete, para o enredo. A cantora paraense octogenária estava no último carro alegórico da Grande Rio, encerrando o desfile.
Nas águas do Pará
O tema foi desenvolvido pelos carnavalescos da Grande Rio, Gabriel Haddad e Leonardo Bora, que viajaram ao Pará, junto com o cineasta paraense Vítor Souza Lima, que mora há dez anos no Rio de Janeiro, e juntos foram ao Marajó, Alter do Chão e, por mais tempo, estiveram em Belém para as pesquisas.
O resultado foram as primeiras imagens que serviram para cobrir o clipe da samba-enredo que seria escolhido meses depois. Teve seletiva de sambas em Belém, e os das escolas “Bole Bole” e “Deixa Falar” foram a Caxias disputar com os sambas cariocas. Ganhou o da escola “Deixa Falar” e o grito inicial de “A mina é cocoriô” se tornou conhecido e um refrão obrigatório na comunidade, sob a assinatura de Mestre Damasceno, músico de Salvaterra, no Marajó, que é deficiente visual desde criança.
Comitiva paraense
A Escola Grande Rio recebeu patrocínio de R$ 15 milhões do governo do Pará e parceiros, como a mineradora Hydro, que levou alguns funcionários para desfilar na escola e, pelo menos, quatro produtores de conteúdo digital para cobrir o desfile, também desfilando na escola.
O governo do Pará levou seus convidados para o camarote Arpoador, o maior, mais bem localizado e o mais caro da Sapucaí; o que tem os melhores shows e é disputadíssimo por todos, de autoridades a bicheiros, passando por pessoas conhecidas de uma famosa série da Globo Play. Em anos anteriores, um ingresso por noite nesse camarote custava R$ 5 mil.
O camarote é de uma empresa e quem tem “bala na agulha” para bancar seu ingresso paga e desfruta de todos os luxos que o local oferece. Na noite do desfile da Grande Rio, o bufê foi de comida paraense e o show interno foi do cantor de pagode Alexandre Pires.
Em uma olhada rápida, de convidados estavam, além da família de Helder Barbalho, esposa e filhos, a vice-governadora Hana Ghassan; o presidente da Alepa, Chicão; o deputado federal Antônio Doido e esposa; a adjunta da Secom, Alinne Passos; a secretária municipal Bruna Lorrane; a chefe do Cerimonial da Secom, Patrícia Heitmann, e muitas socialites de Belém.
Helder aproveitou o ensejo e posou para fotos ao lado do governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro, do PL; e do prefeito, Eduardo Paes, do PSD, bem separados um do outro, é claro, já que os dois não se bicam. O casal-governador trocou de roupa rapidinho e desceu para desfilar na área da diretoria da escola.
Riqueza e detalhes
A Grande Rio fez um desfile rico em detalhes. O carro abre-alas mostrou como as três princesas turcas - Herondina, Jarina e Mariana - estavam em um navio que sofreu um naufrágio e morreram, na costa do Pará, e se “ajuremaram” ou se encantaram. As águas do mar aos poucos vão se transformando nas águas barrentas dos rios amazônicos ao mesmo tempo em que os tradicionais mosaicos turcos formavam uma imagem estilizada de Nossa Senhora de Nazaré, aquela que o samba diz que “protege Caxias nas águas de Nazaré”.
No primeiro carro, as três princesas foram representadas por Fafá de Belém, Dira Paes e Naieme, todas paraenses. A escola foi evoluindo, passando pela areia das praias, a espuma do mar, o mangue, o barro, a boiúna que se agita e “é banzeiro”. A boiuna foi representada por uma cobra como aquelas de miriti que são vendidas no Círio de Nazaré, mas em tamanho gigante e que era suspensa sobre a ala da escola.
A bateria de mestre Fafá fez paradinhas, deixando o público cantar o refrão do samba sozinho, sem falhar. Fafá foi o amparo para a madrinha Paolla Oliveira, que foi vestida de “lua da Turquia”, e foi o imenso sucesso, nesse que ela disse ser o último ano dela como madrinha de bateria da Grande Rio. No final do desfile, Fafá disse a Paolla: “Aqui está sua bateria”, em um momento muito emocionante.
No último carro, toda a encantaria das lendas paraenses se fez presente nos barcos do Ver-o-Peso, com as letras típicas dos nomes deles, com os vidros das ervas vendidos na feira - tinha um chamado “amansa jurado” -, as fitas do Boi Pavulagem, muita chita, palha, cores e cores. E Dona Onete, Manu Batidão e Mestre Damasceno, e muita gente do Marajó.
Foram muitos paraenses em cena. E todos completamente emocionados. Como o paraense Milton Cunha, comentarista da TV Globo, que no afã de informar, disse que o urucum “era uma raiz”, mas teve presença de espírito para corrigir a apresentadora Karine Alves, que falou que o teatro de Belém era “Municipal”. Cunha, imediatamente corrigiu: “Theatro da Paz, meu amor!”.
Governador sem voz
No final do desfile, Helder Barbalho, com a bandeira do Pará nas mãos, quase não conseguiu falar de tão emocionado. E, desta vez, temos que lhe dar razão. Foi um desfile embasbacante, de deixar o queixo caído. E é bem provável que a Grande Rio esteja entre as melhores, no desfile das campeãs, no sábado, dia 8.
Há 27 anos, quando a Beija-flor foi campeã do carnaval com o tema “Nas Águas do Patu-Anu", sobre a pajé Zeneida Lima, o governador, à época, Almir Gabriel, levou a Belém, e mais precisamente, à Soure, boa parte dos integrantes da escola para um desfile consagrador, com Neguinho da Beija-flor, Laíla, Selminha Sorriso, Pinah e toda a corte de Nilópolis. Foi um momento emblemático para todos.
Alguma dúvida que se der a Grande Rio, esse feito poderá se repetir?
Papo Reto
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