om a anulação processual, esta semana - por decisão monocrática do ministro Gilmar Mendes -, da condenação do ex-deputado e ex-chefe de Gabinete da Presidência da República José Dirceu, e do ex-governador do Rio de Janeiro Luiz Fernando Pezão, decisão igualmente monocrática do ministro André Mendonça - não obstante posição em contrário da Procuradoria-Geral da União -, o Supremo Tribunal Federal acaba de cumprir, mais uma vez, com base em subterfúgios “tecnicistas” ardilosos - comme d’habitude -, o que parece ser, nos últimos tempos - a contar das tantas outras medidas em favor de condenados da Lava Jato favorecendo parlamentares comprovadamente corruptos e de líderes do narcotráfico -, a sua mais “nobre” e, ao que tudo indica, única - ou principal - missão: a defesa dos interesses da cleptocracia triunfante.
Missão dada, executada
Nada surpreendente no âmbito da
alçada de ministros togados que, ao fim e ao cabo, por questões exclusivamente
de natureza política, não foram nomeados - em sua ampla maioria - por razões de
foro republicano, tampouco de defesa da Justiça, da ordem jurídica e da
Constituição; mas justo para exercerem o papel de salvaguardas, “em última
instância”, do sistema político dominante, eivado de criminosos de colarinho
branco, a quem devem a honraria do cargo - para o qual não tinham os requisitos
técnicos e morais à ocupação - e diante dos quais estão “geneticamente”
subordinados e reféns - inclusive por meio de chantagens, se necessário.
Disfarçados em seus fantasiosos
mantos, tal qual sepulcros caiados, mas sorvidos, indistintamente, de parvidade
temperada de arrogância e pedantismo, não passam, hoje - e infelizmente -,
“suas excelências”, de meros lacaios de seus mandantes, atuando conforme as
ordens e inclinações emanadas de seus abstrusos - nem sempre evidentes -
“superiores”.
Ao gosto do freguês
Para tal, forçosa e
inescrupulosamente, conforme a circunstância e a patente do “paciente”, sem
qualquer pudor ou decoro, absolvem criminosos a rodo, perseguem adversários por
atos abusivos e ilegais, interferem em investigações e julgamentos em outras instâncias
do Judiciário, desrespeitam a autonomia dos demais Poderes e distorcem,
disfarçada e casuisticamente, sempre que imperativo, o texto constitucional,
com o costumeiro e indisfarçável malabarismo hermenêutico.
Na arquitetura e engenharia do crime
organizado, dadas as circunstâncias de conjuntura, o STF acabou se
transformando em sua mais estratégica e avançada milícia de defesa e combate;
no seu principal e mais proeminente agente de operação, ante a vexatória e
repugnante “insolvência” do Congresso Nacional - particularmente do Senado -,
vergonhosamente curvado, em enojosa subserviência, aos monarcas da capa preta.
A mando das oligarquias
Firmando-se, assim, como a mais
proeminente - e estratégica - trincheira da “guerra brasileira” ora em curso,
cumpre a Suprema Corte, passo a passo, no seu dia-a-dia, um roteiro
meticulosamente planejado e encomendado por seus indefectíveis influencers,
razão maior de seu ostensivo “ativismo judicial” e degeneração extrema: a
retomada totalitária do poder por seus tradicionais e consuetudinários
“proprietários”: as oligarquias patrimonialistas.
Sabe muito bem o sistema estamental
vigente que são inúmeras e decisivas as batalhas ainda a travar no horizonte -
incluída a manutenção do veto ao sistema de apuração eleitoral com voto
impresso -, para as quais os enredos e papéis a serem performados já foram
devidamente esquadrinhados e ensaiados pelos respectivos atores - da mesma
forma que projetados os possíveis e sinuosos cenários, com as correspondentes
táticas de luta em cada um deles.
Sem meio termo
Sim, o País está, efetivamente, em
guerra. Ora vence - em definitivo - o tradicional e patrimonialista estamento
oligárquico - neste momento, retornado ao poder -, ora as forças que lutam por
um Brasil mais republicano e democrático - em que a vontade soberana da maioria
do povo seja respeitada. Não há meio termo. E o crucial e mais relevante
desafio, neste belicoso cenário, é o resgate e a refundação do STF como
instituição máxima da Justiça e de defesa do Estado de Direito e da ordem
verdadeiramente republicana - o que deixou de acontecer.
Verdugo da estabilidade
O maior drama do sistema político
brasileiro, na atualidade, tem sido a degeneração do Poder Judiciário,
capitaneada, paradoxalmente, pela mais alta Corte do País: o Supremo Tribunal
Federal - incongruente verdugo da estabilidade jurídica e política e promotor
de toda sorte de injustiça e iniquidade que afligem a sociedade nacional.
Pois o STF, totalitária e
impunemente, conseguiu transgredir todos os princípios e orientações do
recomendado constitucionalismo republicano moderno, servindo, hoje, de mau
exemplo e antítese ao que preconiza a clássica - e ainda atual - Teoria
dos Três Poderes, da lavra de Montesquieu, ao exibir, entre os seus
famigerados e aéticos magistrados, figuras arrogantes, traiçoeiras e
debochadas, provenientes de uma seleção orientada por critérios tendenciosos e
erráticos, ideológicos e não meritocráticos, cujo resultado não poderia ser
outro que a disrupção do Estado democrático de Direito e a insolvência do pacto
de 1988.
Falência da democracia
Deve-se às suas excelências, ultima
ratio, a falência da democracia constitucional brasileira e a sua
substituição peremptória - orquestrada nas lacradas e invioláveis coxias do
Tribunal - por outro ilegítimo regime político, hipocritamente negado e
acolhido por “suas majestades” togadas: aquele do banditismo oficializado, da
corrupção institucionalizada, do corporativismo autenticado.
E a falência social
O STF, na contramão do espírito
das leis - e seu principal fraudador -, não passa, no presente e
compungido contexto - graças à atuação de seu atual e indigno colegiado, e da
omissão e cumplicidade do Senado Federal -, de fiador e guardião da
cleptocracia reinante. Protagonista de primeira ordem e grandeza de seus
malfadados e cabulosos desígnios. Coveiro-mor da República. Um tumor agressivo
e invasivo, de “suprema” e lúgubre magnitude a condenar o País, por inteiro, à
barbárie, ao óbito democrático e à aterradora falência social.