O Instituto Nacional do
Seguro Social (INSS) se associou a entidades acusadas de fraude nos
chamados “descontos associativos” e solicitou ao Tribunal de Contas da
União (TCU) a suspensão do acórdão da Corte, que estabelece uma série de
recomendações para coibir essas cobranças.
Aposentados e pensionistas do
INSS podiam se associar a entidades conveniadas para que a mensalidade fosse
descontada automaticamente de seus benefícios. De acordo com a Polícia Federal,
algumas dessas associações estavam envolvidas em um esquema de fraude
bilionária.
Esses recursos foram apresentados
em junho de 2024, após uma auditoria do TCU, e estão sob a relatoria do
ministro Aroldo Cedraz. Em cinco ocasiões, Cedraz levou os recursos ao
plenário, mas acabou retirando-os de pauta. Até o momento, o julgamento não ocorreu,
o que significa que as recomendações não foram cumpridas pelo INSS e pelas
entidades.
O recurso do INSS é assinado pelo
procurador-geral do instituto, Virgílio Antônio Ribeiro de Oliveira Filho, que foi
afastado na operação da Polícia Federal na semana passada, junto com outros
três funcionários.
Procurado pela CNN, o INSS
informou que não se posicionará sobre o caso.
A operação
também resultou na demissão do presidente do INSS, Alessandro Stefanutto.
O recurso, sigiloso, foi obtido
pela CNN. Nele, o INSS solicita ao TCU que suspenda a parte do acórdão que
determina “o bloqueio automático para averbação de novos descontos, sejam de
empréstimo consignado, sejam de mensalidade associativa, para todos os
segurados do INSS, independentemente da data de concessão do benefício”. Na
prática, essa recomendação visa impedir novos descontos associativos, que foram
o foco das fraudes investigadas pela PF.
O pedido do INSS é semelhante ao
de outras entidades envolvidas na operação da PF. A Universo Associação dos
Aposentados e Pensionistas dos Regimes Geral da Previdência Social e a
Associação de Proteção e Defesa dos Direitos dos Aposentados e Pensionistas
(Apdap Prev) também solicitaram ao TCU que alterasse sua decisão, que prevê a
exclusão de todos os descontos automáticos caso as autorizações não sejam
revalidadas no prazo de 120 dias.
De acordo com relatório da
Controladoria-Geral da União (CGU), a Universo teve descontos estimados em R$
81 milhões no primeiro trimestre de 2024. A CGU também apontou que 27.560 dos
276.842 beneficiários pediram a exclusão de seus nomes da contribuição associativa.
A Apdap Prev, por sua vez, teve descontos estimados em R$ 76,8 milhões, com
12.856 aposentados solicitando a exclusão de suas contribuições de um total de
220.975 associados no primeiro trimestre de 2024.
O esquema foi descoberto após a
CGU notar irregularidades ao observar o aumento nos valores cobrados na folha
de pagamento dos aposentados na modalidade de descontos associativos. Uma
pesquisa com os beneficiários revelou que 98% dos aposentados e pensionistas
nunca haviam solicitado a associação e sequer reconheciam as cobranças. Desde
2019, o total arrecadado com esses descontos somou R$ 6 bilhões.
A investigação revelou a falta de
verificação das autorizações e a possibilidade de falsificação de documentos.
Onze entidades foram alvos de ações judiciais, e o INSS suspendeu todos os
convênios do tipo.
Fonte: CNN
Foto: Rafa Neddermeyer/Agência
Brasil